29º Congresso Brasileiro de Parasitologia reuniu mais de 600 pessoas em Salvador

O 29º Congresso Brasileiro de Parasitologia – PARASITO 2025 reuniu 632 pessoas, entre os dias 22 e 25 de abril, em Salvador. A atividade contou com a presença de especialistas nacionais e internacionais, gestores e estudantes para debater os últimos avanços científicos em parasitologia, compartilhar experiências e promover a integração entre diferentes áreas do conhecimento.

Organizado pela Sociedade Brasileira de Parasitologia (SBP) e pela Fiocruz Bahia, a edição do evento teve como tema “Revisitando o Passado para Revolucionar o Futuro na Era da Transformação Digital”. Além do Brasil, participaram palestrantes e estudantes de países como Israel, Holanda, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos da América, Argentina, Bolívia e Alemanha.

Os pesquisadores da Fiocruz Bahia, Augusto Carvalho, Washington dos Santos, Cláudia Brodskyn, Ricardo Riccio, Edgar Carvalho, Deborah Mothé, Milena Soares, Mitermayer Reis, Camila Indiani, Antônio Brotas, Valéria Borges, Lucas Carvalho e Vinícius Araújo, apresentaram conferências e participaram de mesas redondas. No final do evento, Camila Indiani recebeu o prêmio de pela Sociedade Brasileira de Parasitologia, de Dintinguished Sientist: Women in Science.

Os cientistas abordaram temas como imunopatologia na parasitologia, obesidade e leishmaniose cutânea, estratégias para a modulação da inflamação na cardiomiopatia chagásica crônica, esquistossomose urbana, estratégias de comunicação científica em parasitologia, iniciativas de extensão científica em parasitologia da Fiocruz Bahia, entre outros. Houve ainda, apresentações orais de pós-doutoranda e estudantes da instituição Thamires Quadros Froes, Yasmin da Silva Luz, Ronald Alves dos Santos e Pedro Brito Borba.

Além da participação de pesquisadores e estudantes no evento, a Fiocruz Bahia contou com um estande com materiais e jogos de divulgação científica e apresentação de atividades de pesquisa, da Olimpíada de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz, do projeto Mulheres e Meninas na Ciência e com uma exposição de coleção entomológica.

A mesa de abertura foi composta pela pesquisadora da Fiocruz Bahia Patrícia Veras, presidente do evento; Arabela Leal, diretora do Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (LACEN Bahia), representando o Governo do Estado da Bahia, Alda Cruz, vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, representando o presidente Mário Moreira; Lucimar Rocha, Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, representando a Prefeitura de Salvador, Claudia Brodskyn, vice-diretora de Ensino e Informação da Fiocruz Bahia, representando a diretora Marilda Gonçalves; Jadel Kratz, líder da  América Latina – Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi); e Ricardo Fujiwara, presidente da Sociedade Brasileira de Parasitologia.

Patricia Veras observou que o tema da edição incentiva os pesquisadores a honrarem o legado da parasitologia enquanto são exploradas novas fronteiras impulsionadas pelos avanços tecnológicos. “É um chamado para unir tradição e inovação, garantindo que nossa área continue a avaliar e a contribuir de forma impactante para a saúde pública”, afirmou. Na oportunidade, a pesquisadora homenageou as mulheres pioneiras que superaram desafios sociais e institucionais para alcançar descobertas significativas em um campo com predominância masculina.

O presidente da SBP, Ricardo Fujiwara, disse que se sente muito feliz pela realização de mais um congresso com os associados e futuros associados em parasitologia. “A sociedade está completando 60 anos, graças aos esforços de quem acredita na parasitologia, de quem vem aos congressos, quem discute, quem aprende um pouco mais. Fico muito feliz de tê-los aqui, a sociedade estará aberta para todos”.

Jadel Kratz, destacou a importância de construir novas parcerias para avançar no conhecimento que será a base para o desenvolvimento de novas ferramentas e tratamentos para todas essas doenças que são relevantes tanto para a saúde animal quanto para a saúde humana. “A DNDi é uma organização que desenvolve medicamentos e se beneficia imensamente do conhecimento adquirido pelos cientistas que fazem parte da Sociedade Brasileira de Parasitologia”, comentou.

A diretora da atenção especializada da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, Lucimar Rocha, disse que a parasitologia é um campo da ciência que a SMS cuida com muito carinho. “As parasitoses ainda acometem a nossa população em torno de 15 a 80%, sejam elas por questões socioeconômicas ou por falta de educação sanitária”, considerou. Para Alda Cruz, o congresso ser ministrado majoritariamente em inglês, demonstra a importância da internacionalização e das interações entre os colegas.

Arabela Leal relatou que estavam presentes na atividade alguns profissionais das unidades do LACEN descentralizadas no estado. “Isso mostra a força de uma rede capilarizada onde a gente consegue rapidamente detectar em qualquer ponto do estado um agravo e tentar sanar e controlar a doença em nome da saúde pública”, pontuou.

Ricardo Lustosa, professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), avaliou que o congresso é um ambiente rico na produção do conhecimento com estudantes e pesquisadores. “Essa atividade é muito relevante, pois recebe a comunidade acadêmica para discutir o que há de inovação e o que há de mais recente nas pesquisas relacionadas à parasitologia, às doenças negligenciadas, e o que há de tecnologia para multiplicar o conhecimento, com outros entes e parceiros acadêmicos, com diferentes níveis de formação”, concluiu.

O evento finalizou no dia 25/04, com a palestra de Walderez Dutra, professora da UFMG, com o relevante tema “How can you mend a broken heart? Insights from Chagas disease cardiomyopathy”.

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Fiocruz Bahia inicia estudo para tratamento da esquistossomose em crianças

Pesquisadores da Fiocruz Bahia iniciaram um ensaio clínico com o medicamento arpraziquantel para tratamento da esquistossomose em crianças com idade entre três meses e seis anos. O objetivo é avaliar a eficácia, segurança e possíveis eventos adversos nesse público. A primeira dose foi administrada em um paciente em janeiro de 2025, no município de Conde, na Bahia, área endêmica da doença.

A pesquisa será realizada ao longo de um ano, em seis municípios, três da Bahia e três de Sergipe, e pretende avaliar um grupo de 403 crianças, um que abrange 163 na faixa etária de três meses a três anos e outro de 240 com idade entre quatro e seis anos. Neste último, metade receberá arpraziquantel e outra metade praziquantel, medicamento já utilizado para tratamento de esquistossomose em adultos e crianças acima de quatro anos, para comparação.

Cada participante receberá o arpraziquantel, de dose única, e será acompanhado por três semanas. O comprimido é dissolvido em água e possui gosto agradável, característica que contribui para a ingestão pelas crianças, diferente do praziquantel que é um comprimido comum. Além disso, a nova formulação possui características para resistir aos desafios de calor e umidade dos países tropicais, onde a doença é mais prevalente. 

A esquistossomose, causada pelo parasito Schistosoma mansoni no Brasil, afeta o trato intestinal e outros órgãos, como fígado e baço. Em crianças, pode causar anemia e sequelas mais graves. A enfermidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das 20 doenças mais negligenciadas e atinge, principalmente, populações vulnerabilizadas.

“Não há tratamento contra esquistossomose para crianças abaixo de quatro anos. Esse medicamento, que é produzido por Farmaguinhos/Fiocruz, vem para cobrir essa lacuna da assistência aos portadores da doença. Também pode trazer o benefício de auxiliar na adesão ao tratamento de crianças acima de quatro anos, já que é mais fácil de ser administrado e apresenta melhor palatabilidade”, comenta o pesquisador da Fiocruz Bahia e coordenador do estudo, Ricardo Riccio.

O projeto tem como vice-coordenadora a pesquisadora Isadora Siqueira, além da participação dos pesquisadores Mitermayer Galvão Reis e Luciano Kalabric, da Fiocruz Bahia, e é realizado em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade Federal do Ceará (UFC). A nova formulação foi desenvolvida por um consórcio que conta com a participação do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), produtor do medicamento utilizado no estudo.

O diretor do Instituto conta sobre a importância do medicamento para a erradicação da esquistossomose. “O desenvolvimento da formulação pediátrica pelo Consórcio foi essencial para cobrir este público que era negligenciado. Foram anos de dedicação, com um trabalho conjunto entre instituições públicas e privadas, que resultaram neste medicamento inovador e essencial para o tratamento da doença em crianças. Acompanharmos agora este estudo com mais de 400 pacientes é gratificante. Esperamos, em breve, fornecer o arpraziquantel para países africanos e regiões endêmicas de todo o Brasil”, afirma Jorge Mendonça.

André Daher, coordenador da Plataforma de Pesquisa Clínica da Fiocruz, que patrocina e oferece suporte ao projeto, explica que a iniciativa é realizada dentro do Programa de Pesquisa Translacional em Esquistossomose da Fiocruz (Fio-Schisto), fazendo uma integração inédita com três projetos de diferentes unidades da Fundação, que envolvem diagnóstico, tratamento e indicadores em esquistossomose. “Se trata de um plano de desenvolvimento que envolve um consórcio internacional, um produtor e uma fábrica públicos, que vão gerar informações sobre esse tratamento e diagnóstico. Além disso, serão geradas amostras que ficarão armazenadas no biobanco da Fiocruz Bahia, que podem responder a perguntas futuras”, declara.

Daher também destaca o caráter inovador. “Desenvolver um produto pediátrico já é uma inovação, mas o arpraziquantel é a formulação pediátrica de um isômero, molécula que tem mais atividade do que o praziquantel, mas com menos gosto, um processo químico bastante refinado. É a produção de conhecimento sendo conduzida nos mais rigorosos padrões de qualidade”, pontua. 

A pesquisadora do projeto, Camilla Almeida, ressalta que o estudo clínico de fase três possui a peculiaridade de ser realizado em campo, o que traz oportunidades e desafios. “Como essa é a especialidade da nossa equipe, conseguimos estruturar um bom plano de monitoramento de segurança para os participantes. Esse estudo é de suma importância e vai somar aos esforços para a eliminação da esquistossomose nas nossas crianças”, conclui.

Desenvolvimento pediátrico – O medicamento foi fruto do projeto de desenvolvimento do Consórcio Praziquantel Pediátrico, do qual Merck Healthcare KGaA e Farmanguinhos fazem parte e tem o importante papel finalístico de serem o detentor do registro internacional e o primeiro local de fabricação do produto, respectivamente.

Em 2024, Farmanguinhos submeteu o medicamento para registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e aguarda a aprovação. A produção em Farmanguinhos/Fiocruz abastecerá o Sistema Único de Saúde (SUS) e regiões onde a doença é mais endêmica, especialmente no continente africano. Com reconhecimento internacional, o arpraziquantel recebeu parecer científico favorável da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e foi incluído na Lista de Medicamentos Pré-qualificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2023 e 2024, respectivamente.

Ao desenvolver, registrar e fornecer acesso ao medicamento voltado para o público pediátrico, o Consórcio contribui para a eliminação da esquistossomose como um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

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Curso de vigilância malacológica apresentado em simpósio sobre esquistossomose está com inscrições abertas

No 17º Simpósio Internacional sobre Esquistossomose, realizado em novembro em Salvador, foi ministrada uma apresentação sobre o curso “Vigilância Malacológica para o Controle da Esquistossomose”, pela pesquisadora Elainne Gomes. A vigilância malacológica abordada neste curso tem como alvo o monitoramento caramujos de água doce, envolvidos na transmissão da esquistossomose, que atinge uma parcela representativa da população brasileira. A capacitação, oferecida pela Fiocruz Pernambuco, está disponível através do Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). As inscrições são gratuitas e estão abertas até 24 de fevereiro de 2025.

A pesquisadora Elainne Gomes explicou sobre a importância do tema e as mudanças do modo tradicional de transmissão. “Nas últimas duas décadas a doença vem se expandindo para as áreas urbanas e litorâneas. Nas quais, os processos de inundação nos períodos de chuva acabam fazendo com que as ruas fiquem alagadas, dificultando o as ações de controle, porque as pessoas ao saírem de casa entram em contato focos de transmissão da doença de forma involuntária, o que é mais fácil de controlar na zona rural”, pontuou.

O curso tem carga horária de 30 horas e tem como público-alvo profissionais da área da saúde, incluindo vigilância, agentes comunitários, agentes de endemias, equipes de saúde da família e de atenção especializada, que atuem direta ou indiretamente no Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose; e estudantes da área de saúde.

Na ementa, são abordadas questões relacionadas à identificação dos moluscos hospedeiros intermediários de Schistosoma mansoni e sua importância epidemiológica dentro do território nacional. Além de técnicas de coleta e exame dos moluscos e abordagem das formas de transmissão e como podemos atuar para reduzir seu impacto.

Acesse o curso aqui.

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17º Simpósio Internacional sobre Esquistossomose reuniu pesquisadores e profissionais de saúde

O 17º Simpósio Internacional sobre Esquistossomose aconteceu entre os dias 10 e 13 de novembro, em Salvador. O encontro, que contou com a participação de cerca de 500 inscritos, foi organizado pela Fiocruz Bahia, a Rede Fio-Schisto e o Programa de Pesquisa Translacional, da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas. Com o tema “Perspectivas para eliminação da esquistossomose”, a programação foi composta de mesas redondas, conferências e sessão de pôsteres, com a presença de pesquisadores da área, profissionais de saúde e representantes da sociedade civil.

Os quatro dias do simpósio envolveram cerca de 50 palestrantes, que abordaram temas como saneamento e higiene, aspectos clínicos e patológicos da doença, desenvolvimento e resistência a medicamentos, controle e avanços no tratamento, vacinas, diagnóstico, imunorregulação, interação parasita-hospedeiro, fortalecimento da atenção primária de saúde, educação, comunicação e informação e abordagem de Saúde única.

Um dos destaques do encontro foi o lançamento da nova edição das diretrizes técnicas para vigilância da esquistossomose. Na ocasião, Alda Maria da Cruz, diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis, do Ministério da Saúde, explicou que o documento é um “produto importante porque traz as atualizações que aconteceram nos últimos dez anos acerca das abordagens para a doença. Aborda vigilância, mas também atualização da clínica, abordagem terapêutica e o próprio sistema de controle dos caramujos”, afirmou.

Cruz ressaltou que a nova edição foi possível porque houve um conjunto de pessoas da área técnica em esquistossomose da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS) em conjunto com especialistas que, após debaterem e chegarem a um consenso, produziram o documento com as novas diretrizes. “Para nós é uma alegria muito grande trazer esse produto, uma contribuição fundamental para o programa Brasil Saudável, e vai ser uma ferramenta a ser utilizada para as estratégias de eliminação da esquistossomose no país”.

Outro marco importante foi a fundação da Sociedade Brasileira de Esquistossomose e Geo-Helmintíases (SBEG), durante o evento, no dia 12 de novembro. “A SBEG surge para somar esforços com outras sociedades semelhantes e consolidar a luta contra as helmintíases no Brasil, promovendo sinergias no enfrentamento dessas doenças negligenciadas”, comentou Ricardo Riccio, pesquisador da Fiocruz Bahia, coordenador geral do Programa de Pesquisa Translacional em Esquistossomose da Fiocruz (Fio-Schisto) e presidente do simpósio.

Leonardo Farias Paiva, vice-presidente do evento, agradeceu às pessoas que contribuíram para realização do encontro e disse que as discussões foram ricas e proveitosas. “A gente precisa se conectar, não só falar para a comunidade acadêmica, como normalmente acontece. Tivemos tanto palestras sobre temas avançados como ouvimos também a população de um modo geral”, declarou.

“Há cerca de um mês, foram anunciados os ganhadores dos Prêmios Nobel de 2024, entre os ganhadores tivemos o uso da Inteligência Artificial aplicada ao estudo de proteínas, ou o papel chave dos microRNAs na regulação gênica, temas estes que estiveram presentes em nosso evento. Porém o desafio acho é conseguir fazer uma discussão mais integrada com outras áreas. Por exemplo, o Prêmio Nobel de Economia deste ano, explica as razões por trás da desigualdade entre as nações e porque algumas prosperaram mais do que outras ao adotaram um modelo de estrutura social mais inclusivo. Acho que precisamos considerar vários saberes para avançarmos”, concluiu.

No encerramento, foram entregues os prêmios “Pirajá da Silva”, concedido ao autor(a) do melhor trabalho apresentado durante as sessões orais do evento; “José Pellegrino” e “Amaury Coutinho”, entregue para o autor(a) da melhor tese de doutorado, para o autor(a) da melhor dissertação de mestrado ambos em esquistossomose, respectivamente. Também tivemos o lançamento do Prêmio “Rodrigo Corrêa-Oliveira” concedido ao apresentador do melhor Poster.

Clique aqui para conferir a matéria da cerimônia de abertura do simpósio.

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