Estudos sobre vírus Zika e esporotricose são destaques da revista Memórias

Por: Maíra Menezes

memorias_ioc_agosto_2016_internaA edição de agosto da revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz já está disponível e pode ser acessada gratuitamente online. Entre os destaques, a publicação traz um artigo que apresenta imagens de microscopia de células infectadas pelo vírus Zika, analisando a estrutura viral e os impactos da infecção na estrutura celular. Uma pesquisa que realiza, pela primeira vez, a comparação entre métodos de infecção experimental de insetos Phlebotomus perniciosus, transmissores das leishmanioses, por parasitos Leishmania infantum, causadores da forma visceral da doença, também está no periódico. Entre os dez artigos publicados, a revista apresenta ainda um estudo que aponta que uma molécula com estrutura semelhante à miltefosina é promissora para o desenvolvimento de um novo tratamento contra a esporotricose.

Estrutura do vírus Zika
Utilizando a técnica de microscopia eletrônica de transmissão, pesquisadores analisaram a estrutura do vírus Zika e o comportamento das partículas virais dentro das células infectadas. O estudo foi realizado pelo Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Laboratório de Flavivírus do IOC e o Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo. Os cientistas utilizaram amostra de sangue de um paciente diagnosticado com a doença para isolar o vírus. Em seguida, células Vero – derivadas de células rim de macaco – foram infectadas. Seis dias após a infecção, partículas virais foram observadas agrupadas no interior das células. O nucelocapsídeo, que compõe a estrutura dos vírus, contendo seu material genético, também foi detectado.

Infecção experimental
Considerando que os estudos mais citados sobre a infecção experimental de flebotomíneos – insetos transmissores das leishmanioses – envolveram espécies de parasitos Leishmania causadoras da forma cutânea da doença, pesquisadores franceses compararam metodologias de infecção experimental com o parasito Leishmania infantum, que provoca a modalidade visceral do agravo. Os cientistas da Universidade de Nice-Sophia Antipolis e do Centre Hospitalar Universitário de Nice, na França, utilizaram duas estratégias para infectar insetos Phlebotomus perniciosus: o uso de alimentadores artificiais com sangue contendo o parasito e a alimentação direto dos insetos em camundongos infectados. O trabalho apontou grande variedade na intensidade de infecção do vetor e o alimentador artificial foi considerado o método mais eficiente para obter altas taxas de infectividade.

Molécula contra esporotricose
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem e Fundação Nacional Helênica de Pesquisa, da Grécia, identificaram uma molécula promissora para o desenvolvimento de um novo tratamento contra a esporotricose. O grupo realizou testes in vitro com oito fármacos com estrutura molecular semelhante à da miltefosina, medicamento usado em casos de leishmaniose. Capaz de agir sobre diversos parasitos, esse antimicrobiano teve atividade demonstrada recentemente contra o fungo Sporothrix schenckii, uma das espécies causadoras da esporotricose. Com potencial para gerar menos efeitos colaterais, a molécula TCAN26 foi menos citotóxica quando testadas em células de mamífero, mais seletiva para o fungo e apresentou atividade superior à da miltefosina.

Conheça a nova edição da revista Memórias do IOC.

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Guillain-Barré e microcefalia estão associadas à doença exantemática, atribuída ao vírus Zika

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Sob a liderança de Guilherme Ribeiro, um grupo de pesquisadores e estudantes da Fiocruz Bahia publicou um artigo na revista Emerging Infectious Diseases, vinculada ao Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que demonstra fortes evidências da relação temporal entre os surtos de doença exantemática aguda (AEI, sigla em inglês) atribuída ao vírus Zika, a síndrome de Guillain-Barré (GBS, sigla em inglês), e a microcefalia que ocorreram em Salvador em 2015. Além do pesquisador Guilherme Ribeiro, assinam o trabalho o pesquisador Mitermayer Reis e Monaise Silva, ambos da Fiocruz Bahia, Igor Paploski e Mariana Kikuti, da Universidade Federal da Bahia, Uriel Kitron e Lance Waller, da Universidade de Emory, nos EUA, e Cristiane Cardoso e Ana Paula Prates, da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador.

No estudo, intitulado Time Lags between Exanthematous Illnes Attributed to Zika Virus, Guillain-Barré Syndrome and Microcephaly, Salvador, Brazil, os pesquisadores analisaram as curvas epidemiológicas e as séries temporais das três ocorrências na cidade de Salvador e perceberam uma maior correlação entre o surto de AEI e de GBS, após um intervalo de 5 a 9 semanas. Em relação à microcefalia, constatou-se uma maior correlação entre a ocorrência do surto de AIE e o surto de microcefalia em recém-nascidos após o intervalo de 30 a 33 semanas. Esse último achado sugere que se as mães de crianças nascidas com microcefalia foram realmente infectadas pelo vírus Zika. O mais provável é que esta infecção tenha ocorrido no primeiro trimestre de gravidez. Contribui com esta perspectiva a substancial diminuição da incidência de manifestações congênitas após o seu pico em dezembro de 2015 (31,4 casos por 1.000 nascidos vivos neste mês). Destaca-se o fato, que, em particular, essa redução ocorreu 7-8 meses após o pico do surto de AIE, em maio do mesmo ano.

De acordo com Ribeiro, apesar do trabalho não permitir definir uma relação causal entre os eventos, as associações temporais identificadas fornecem importantes informações sobre o período gestacional em que uma infecção pelo vírus Zika possivelmente confere maior risco para uma gestante desenvolver malformações congênitas. Este achado pode auxiliando as autoridades de saúde pública e de controle de vetores no direcionamento de esforços de controle e proteção mais eficazes. “Com as doenças infecciosas emergentes crescentes em todo o mundo, o investimento em vigilância em saúde pública na cidade, estado, país e no mundo é uma das forma mais rentável para ajudar a enfrentar esses desafios contínuos e crescentes”, destaca o artigo.

Clique aqui para acessar o artigo.

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Artigo sobre a origem do Vírus Zika nas Américas é publicado na Science

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O pesquisador Luiz Alcântara e a pós-doutoranda Marta Giovanetti, da Fiocruz Bahia, assinam artigo publicado na Revista Science, no dia 24 deste mês, sobre a origem do Zika Virus nas Américas. O estudo, considerado a primeira análise genômica completa do vírus, até a data em que foi publicado, aponta que a doença chegou ao Brasil entre os meses de maio e dezembro de 2013, tendo seu primeiro diagnóstico feito apenas em maio de 2015. Desta maneira, os autores sugerem que o vírus desembarcou no país durante a Copa das Confederações, em 2013, e não no decorrer da Copa do Mundo de 2014, como se pensava anteriormente.

Entre os autores do trabalho, intitulado “Zika virus in the Americas: early epidemiological and genetic findings”, estão mais de cinquenta pesquisadores oriundos de diferentes instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior, como o Instituto Evandro Chagas, Universidade de Oxford, Instituto Adolpho Lutz, Fiocruz Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade de Washington, Instituto Oswaldo Cruz, Universidade de Toronto, Li Ka Shing Knowledge Institute, Universidade do Texas e Ministério da Saúde.

Para chegar a essa conclusão os pesquisadores fizeram a análise do genoma de sete novas amostras isoladas do Brasil juntos com outras provenientes de diversos locais da América (Martinica, Colômbia, Haiti, Guatemala, Suriname, Puerto Rico) e da Ásia (Polinésia Francesa, Ilhas Cook, Tailândia). Por meio da análises evolutivas destes genomas, os pesquisadores conseguiram concluir que o Zika vírus encontrado no Brasil é oriundo da Polinésia Francesa, de onde teria vindo o primeiro indivíduo infectado.

Segundo os especialistas, o período de consolidação do microorganismo no território nacional condiz com um aumento das viagens originadas nos arquipélagos do Pacífico Sul, onde ocorria uma epidemia do mesmo agente infeccioso encontrado aqui.

De acordo com Luiz Alcântara, essa análise constitui-se como a base fundamental para futuros estudos e para que se possa responder algumas perguntas que permanecem sem respostas a respeito do vírus, a exemplo do período de incubação da doença até o surgimento dos sintomas, que só se manifestam em cerca de 20% dos pacientes, e das formas de contágio, ainda pouco compreendidas.

O pesquisador afirma ainda que a continuidade das ações de pesquisa de seu grupo estão voltadas para a execução de um projeto que ele possui parceria e que acaba de ser aprovado na Inglaterra, tendo como coordenador central, o pesquisador Nicholas James Loman, da Universidade de Birmingham. O novo estudo, que terá início entre os meses de maio e junho de 2016, visa sequenciar 750 cepas do vírus Zika provenientes das nove capitais brasileiras localizadas nas regiões Nordeste e uma da região Norte (Belém).

REPERCUSSÃO – A publicação na revista Science pautou reportagem na editoria de Saúde do jornal Correio Braziliense, com sede no Distrito Federal, nos jornais Washington Post e New York Times e também na rede de TV BBC. A matéria “Zika chegou ao Brasil em 2013” no Correio Braziliense, publicada no dia 25 de março, conta com depoimentos de Marta Giovanetti, da Fiocruz Bahia, Nuno Faria, da Universidade de Oxford e Pedro Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas. A publicação conta ainda com um infográfico contendo uma linha do tempo ilustrando a primeira vez que o vírus foi isolado em Uganda, em 1947, e o caminho percorrido da África, Ásia até as Américas. Também aparecem informações sobre os sintomas, informações e tratamento da doença.

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Trabalho que descreve os surtos de doença exantemática causado pelos vírus Zika, Chikungunya e Dengue é publicado na revista Emerging Infectious Diseases

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O artigo Outbreak of Exanthematous Illness Associated with Zika, Chikungunya, and Dengue Viruses, Salvador, Brazil, elaborado pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro e Mitermayer Reis, além de Cristiane Cardoso, Igor Paploski, Mariana Kikuti, Moreno Rodrigues, Monaise Silva, Gubio Campos, Silvia Sardi e Uriel Kitron, foi publicado na edição de dezembro da importante revista científica Emerging Infectious Diseases (Vol. 21, Nº 12), publicada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. O trabalho descreve os surto de doença exantemática causado pelos vírus Zika, Chikungunya, e dengue em Salvador no ano de 2015.

De acordo com Guilherme Ribeiro, a publicação, que foi conduzida em uma colaboração entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Fiocruz, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) e a Emory University, nos Estados Unidos, merece destaque pela relevância do tema no cenário epidemiológico atual, já que tais achados são de interesse tanto para o meio acadêmico, quanto para sociedade em geral. “A equipe de pesquisadores continuam trabalhando com a SMS, dando apoio às ações de vigilância epidemiológica e investigação do surto de SGB e microcefalia”, afirma.

No primeiro semestre de 2015, o aumento do número de casos de pessoas com erupções cutâneas no corpo chamou a atenção de sanitaristas do Departamento de Vigilância Epidemiológica de Salvador, que, frente à situação, implementaram um sistema de vigilância sentinela nas Unidades de Pronto-Atendimento do município a fim de identificar outros casos semelhantes. De fevereiro a junho, a vigilância epidemiológica identificou 14.835 casos dessa doença de causa até então desconhecida na cidade de Salvador.

SURTO E SINTOMAS – Como resultado da união de esforços intelectuais por parte dos membros das quatro instituições envolvidas na publicação do artigo, foi identificado que a maior ocorrência da doença se deu no mês de maio e que os casos se caracterizavam pela frequente presença de prurido associado às lesões de pele. Além disso, os pesquisadores testaram amostras de 58 dos pacientes com métodos moleculares (RT-PCR) e demonstraram a presença de RNA dos vírus zika em três pacientes, do vírus chikungunya em outros três pacientes e do vírus dengue em mais dois pacientes.

Os resultados da investigação demonstram a dificuldade para distinguir com base nas manifestações clínicas essas três infecções virais e chamam atenção para a circulação simultânea dos três vírus em Salvador. Pela baixa frequência nos casos estudados de febre e artralgia (sintomas tipicamente presentes em casos de dengue e chikungunya) e pela identificação concomitante do vírus zika em pacientes com doença exantemática de vários estados do país, os pesquisadores concluíram que a mais provável causa para o grande surto de doença exantemática em Salvador seja o vírus zika.

Assim como os vírus da dengue e da chikungunya, o vírus zika também é transmitido por mosquitos do gênero Aedes spp.. Até o presente, os surtos causados pelo vírus zika tem ocorrido predominantemente na região Nordeste, mas dada a ampla distribuição do mosquito vetor no país, há um risco real de que outras regiões também venham a sofre com epidemias causadas por este vírus. Até o presente, a Bahia permanece como o estado brasileiro com o maior número de notificações de casos suspeitos de zika e de chikungunya, mas, em função da semelhança clínica entre estas arboviroses (infecções virais transmitidas por insetos), é provável que muitos dos casos notificados no país como sendo casos de dengue sejam na verdade casos de zika ou chikungunya.

MICROCEFALIA – Recentemente, o aumento na região Nordeste de casos de microcefalia, uma malformação congênita em que os recém-nascidos apresentam perímetro cefálico menor do que o normal, tem sido relacionado à infecção de gestantes pelo vírus zika. Da mesma forma, a Síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica em que há perda progressiva da força muscular, também é suspeita de ser uma das possíveis complicações associadas à infecção pelo vírus zika. Até julho, somente a Bahia havia notificado 115 casos suspeitos dessa síndrome.

 

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