Uso de creme combinado a imunomoduladores potentes se mostra promissor no tratamento de leishmaniose cutânea

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Uma pesquisa testou uma nova abordagem promissora no tratamento da leishmaniose cutânea através de um creme para tratar as lesões combinado a imunomoduladores potentes. O trabalho foi coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Camila Indiani, e publicado no periódico PLOS Neglected Tropical Diseases.

A leishmaniose cutânea é uma doença infecciosa agressiva causada pelo protozoário Leishmania braziliensis. Essa infecção ocorre após a picada de mosquitos infectados e é comum em várias regiões do Brasil e da América Latina. O tratamento mais utilizado é a quimioterapia com antimoniais pentavalentes (SbV), aplicada de forma sistêmica, mas esse método tem efeitos colaterais importantes e eficácia variável, o que motiva a busca por novas terapias mais seguras e eficazes.

O creme testado é de uso tópico, e combina nanopartículas de ouro com uma proteína chamada Sm29, derivada do parasita Schistosoma mansoni. Essa proteína é conhecida por sua capacidade de modular a inflamação, reduzindo danos teciduais sem comprometer a resposta imunológica contra o parasita.

Os pesquisadores desenvolveram o creme AuNPs-Cys-Sm29 a partir da funcionalização da proteína recombinante Sm29 em nanopartículas de ouro (AuNPs), uma plataforma eficiente para entrega de antígenos e imunomodulação. Essas nanopartículas ajudam a proteger a proteína da degradação e permitem que o composto seja liberado de forma controlada no local da infecção.

Nos experimentos, camundongos infectados por Leishmania braziliensis foram tratados com o creme de AuNPs-Cys-Sm29, aplicado isoladamente ou em combinação com o tratamento padrão SbV. O estudo observou que o uso combinado do creme com o antimonial reduziu significativamente a gravidade das lesões, a carga parasitária e o processo inflamatório, em comparação com o tratamento convencional isolado. Além disso, o efeito anti-inflamatório do creme não interferiu na capacidade do organismo de eliminar o parasita.

A equipe também verificou que o tratamento tópico modula a resposta imune, diminuindo a produção de citocinas inflamatórias como IFN-γ, TNF e IL-10. Essa modulação contribui para um processo de cicatrização mais equilibrado e menos destrutivo ao tecido.

Esses resultados reforçam o potencial do creme como uma alternativa terapêutica inovadora e segura para a leishmaniose cutânea. De acordo com os autores, essa formulação pode complementar o tratamento padrão, oferecendo uma via mais eficaz e com menos efeitos adversos para os pacientes.

O estudo destaca ainda a importância de novas estratégias combinadas para combater a leishmaniose cutânea, uma doença que continua sendo um desafio de saúde pública no Brasil.

A Fiocruz Bahia já avançou nos estudos clínicos em pacientes e o resultado foi positivo, avaliando a segurança e a eficácia da formulação em pacientes. O ensaio clínico (controlado e randomizado), conduzido por Dr Edgar Carvalho, mostrou que a taxa de cura foi de 71% nos indivíduos tratados com AuNPs-Cys-Sm29, e de 43% nos pacientes que receberam o tratamento convencional para a leishmaniose (AM) mais placebo ou AM isoladamente. As características únicas do AuNPs-Cys-Sm29, que o distinguem de outros tratamentos, tornam a combinação de rSm29 com um medicamento leishmanicida um candidato promissor para futuras investigações.

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