Triagem de gestantes para HTLV-1 poderia evitar infecção de mais de mil bebês por ano no Brasil

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Um estudo estimou, através do desenvolvimento de um modelo matemático, que a implementação de políticas públicas na prevenção da transmissão do HTLV-1 por aleitamento materno no Brasil evitaria a infecção de mais de mil crianças por ano. A pesquisa foi realizada por cientistas da Imperial College London (UK), em colaboração com grupos de pesquisa no Brasil, incluindo a Fiocruz Bahia, e publicada na Lancet Global Health. O Ministério da Saúde recomenda a suspensão do aleitamento para mães vivendo com HTLV-1, no entanto a testagem não é oferecida no SUS para gestantes de todo o país.

Esta intervenção reduz o risco de transmissão do vírus para a criança, prevenindo cerca de 85% das infecções. Apenas em alguns estados, como a Bahia, a testagem é parte do pré-natal, constituindo-se como política de prevenção. A implementação da testagem para as gestantes está em processo de avaliação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sistema Único de Saúde (CONITEC).

O vírus linfotrópico de células T humano do tipo 1 (HTLV-1) é um retrovírus da mesma família do HIV, e pode causar doenças graves, como câncer e desordens neurológicas crônicas. Esse vírus possui vias de transmissão semelhantes ao HIV, podendo contaminar uma pessoa pela via sexual desprotegida (sexo sem camisinha), por objetos perfuro-cortantes, ou pelo aleitamento materno. Atualmente, estima-se que cerca de 800 mil a 2,5 milhões de brasileiros são portadores do vírus.

Os pesquisadores avaliaram que, caso fosse implementada a testagem massiva de gestantes para o HTLV-1, entre 41 e 207 crianças por ano deixariam de desenvolver a leucemia de células T do adulto, tipo de câncer gerado pelo HTLV-1, altamente agressivo e geralmente fatal. Além disso, cerca de 31 a 93 casos da mielopatia associada ao HTLV-1 – doença progressiva que afeta a medula espinhal – também seriam prevenidos. Este tipo de intervenção pode acarretar em benefícios econômicos futuros para o sistema de saúde brasileiro.

O modelo matemático desenvolvido pelos pesquisadores está disponível de forma gratuita e aberta. A intenção é que o trabalho possa ser utilizado por outros países para avaliar o custo-efetividade da implementação de políticas públicas para prevenção da transmissão por aleitamento materno. Os cientistas ressaltam que, como não há tratamento ou vacina para o HTLV-1, a melhor política a ser adotada para o combate ao vírus é a prevenção de novas infecções.

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