Tese busca estimar a frequência de APOL1 e da hemoglobina em pacientes submetidos à biopsia renal

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Autoria:Dona Jeanne Alladagbin
Orientação: Washington Luís Conrado dos Santos
Título da tese: “Associação entre variantes de risco do gene apoli e hemoglobinas variantes com progressão das doenças glomerulares na Bahia”.
Programa: Pós-Graduação em Patologia Humana-UFBA /FIOCRUZ
Data de defesa: 23/03/2020
Horário: 14h

RESUMO

Introdução: Além daqueles tradicionalmente reconhecidos como principais fatores de risco da doença renal, uma ênfase crescente tem sido atribuída à constituição genética dos pacientes.

Objetivo: Estimar a frequência das variantes de risco de APOL1 e da hemoglobina em pacientes submetidos à biopsia renal na Bahia, e avaliar a associação entre essas variantes e a progressão das doenças glomerulares nesses pacientes.

Método: Estudo de coorte prospectiva, incluindo 326 pacientes submetidos à biópsia renal. Os genótipos de Apol1 foram testados por PCR e sequenciamento do DNA de 304 pacientes e as variantes da hemoglobina foram definidas por cromatografia líquida de alta eficiência. A genotipagem do haplótipo G1 do APOL1 na população geral, foi realizada utilizando-se o kit Illumina BeadChip Human Omni2.5-8.Também foi desenvolvido um estudo longitudinal onde os pacientes foram acompanhados durante cinco anos para avaliar os marcadores de progressão de doença.

Resultados: Dentre os pacientes, 22,7% têm um alelo de risco e 4,3% têm dois alelos de risco da APOL1. A mediana de idade do diagnóstico de doença renal foi menor em pacientes portadores de dois alelos de risco de APOL1 (21 [18 – 39] anos) do que pacientes com um (30 [21 – 36] anos) ou sem alelos de risco (33 [24 – 44] anos, p = 0,04). Houve um declínio progressivo na taxa média de filtração glomerular entre pacientes com dois alelos de risco entre o momento da biópsia e após 5 anos de acompanhamento: (de um dos maiores agrupamentos populacionais afrodescendentes fora da África69 [39-79] mL / min / 1,73 m2 para 27 [26-31] mL / min / 1,73 m2, p = 0,004), comparado àqueles com um (de 76 [42-111] mL / min / 1,73 m2 para 105 [62-138] mL / min / 1,73 m2), p=0,74 ou nenhum (de 66 [41 -101] mL / min / 1,73 m2 para 91 [53-113] mL / min / 1,73 m2, p = 0,81) alelo de risco do APOL1.A análise de regressão logística sob um modelo de herança recessiva mostrou uma associação forte e significativa entre dois alelos de risco do APOL1 com doença renal em estágio terminal (Odd ratio = 4,8, p = 0,015). A sobrevida renal foi significativamente menor (69%) no grupo com dois alelos de risco de APOL1 em comparação com o grupo com um (94%) e ou sem (91%) alelos de risco (p = 0,024). A proporção de pacientes diagnosticados com GESF que evoluíram para doença renal em estágio terminal foi maior em indivíduos com dois alelos de risco (33%) do que naqueles com um alelo de risco (0%) ou sem alelos de risco (3%, p = 0,04). A frequência do haplótipo G1 não foi estatisticamente diferente entre os pacientes submetidos à biópsia renal (9,6%) e a população em geral (8,3%). A frequência do traço falciforme nos pacientes submetidos à biópsia renal foi de 5%, semelhante à encontrada na população geral (4,5%, p = 0,70). O traço de hemoglobina C est presente em 3,7% dos pacientes e em 2,2% da população geral (p = 0,11). Cinco anos depois da biopsia renal, a taxa media de filtração glomerular entre os pacientes com traço falciforme era significativamente menor 24 [10-57] mL / min / 1,73 m2 em comparação a 86 [47-115] mL / min / 1.73 m2, no grupo com HbAA, p=0,01. Após um acompanhamento de cinco anos, 31% dos pacientes com HbAS apresentaram doença renal em estágio terminal necessitando de diálise em comparação com 8% dos participantes HbAA (p = 0,02). Nenhum paciente com traço da hemoglobina C necessitou de diálise durante os cinco anos de acompanhamento.

Conclusões: O genótipo de alto risco do APOL1 está fortemente associado com o declínio progressivo e mais rápido da taxa estimada de filtração glomerular, bem como maior frequência de doença renal em estágio terminal, e consequentemente, com uma menor sobrevida renal nos pacientes. Não há diferença na frequência de HbAS ou HbAC entre os pacientes submetidos a biópsia renal e a população geral. Porém, pacientes com HbAS apresentam atrofia tubular mais intensa, declínio mais rápido da taxa de filtração glomerular, menor sobrevida renal em comparação aos pacientes com HbAA. A frequência dos haplótipos do APOL1 entre os pacientes submetidos a biópsia renal não parece diferir do da população geral da Bahia.

Palavras-chave: glomerulopatia, Nefropatia, biópsia renal, APOL1, traço falciforme, traço de hemoglobina C.

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