Estudo de pesquisadora da Fiocruz Bahia repercute na imprensa internacional

Estudos sobre a relação dos vírus da dengue, da zika e da chikungunya com complicações neurológicas em pacientes infectados, realizados pela pesquisadora da Fiocruz Bahia Isadora Siqueira e pelo neurologista e estudante de mestrado da Fiocruz Bahia Mateus do Rosário, tiveram repercussão na imprensa internacional. Os resultados deste estudo, desenvolvido em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos, foram apresentados em uma reunião da American Society of Tropical Medicine and Hygiene (Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene) e repercutiram em veículos como o The Wall Street Journal, NBC News e Science Daily.

As pesquisas trataram da interação e atuação conjunta dos vírus da dengue e da chikungunya com o vírus Zika. As análises mostraram que cada um desses vírus pode ter o potencial de causar diversas complicações neurológicas, algumas muito graves, e os sintomas devem ser monitorados. Os achados de um estudo em andamento, em dois hospitais de Salvador, relatam 21 casos de doenças neurológicas associadas com arbovirus, sendo a maioria delas a síndrome de Guillain-Barré.

Observou-se também casos de encefalite e de dois pacientes, no mesmo hospital, com a rara síndrome de opsoclonus-mioclonos (ou síndrome de Kinsbourne). Um deles testou positivo para zika e dengue, enquanto o outro tinha chikungunya e dengue. “O que é difícil de determinar é se ter uma coinfecção com dois desses vírus aumenta o risco de problemas neurológicos. Nós ainda estamos avaliando o caso de um paciente que foi infectado com ambos, dengue e chikungunya”, afirmou Isadora Siqueira.

Estes estudos sobre a síndrome de Guillain-Barré também resultaram no artigo Case Report: Guillain–Barré Syndrome after Zika Virus Infection in Brazil, assinado pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia, que traz relatos de dois casos de pacientes infectados pelo vírus zika, que apresentaram sintomas da síndrome de Guillain-Barré. Foi detectada, através de testes diagnósticos, a presença de anticorpos IgM específicos para o vírus Zika, confirmando a infecção pelo vírus associado ao surgimento dos sintomas da síndrome.

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American Journal of Tropical Medicine and Hygiene publica relato de caso de pacientes com Guillain-Barré após infecção por Zika

artigo-isadoraO artigo intitulado Case Report: Guillain–Barré Syndrome after Zika Virus Infection in Brazil, publicado no periódico científico American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, em 19 de setembro, relata o caso de dois pacientes vítimas da síndrome de Guillain-Barré, após serem infectados pelo vírus Zika durante o grande surto no Brasil, em 2015. O estudo conduzido pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Isadora Siqueira, foi realizado em parceria com especialistas do Instituto Evandro Chagas e das universidades americanas University of Texas e Yale School of Public Health, com a colaboração do Hospital Geral Roberto Santos e do Hospital São Rafael, ambos de Salvador (BA).

O Zika é um flavivírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. O primeiro caso registrado de infecção pelo Zika data de 1954, na Nigéria. O primeiro surto de larga escala foi registrado em 2007, na Micronésia e, nos anos de 2013 e 2014, ocorreram surtos na Polinésia Francesa e na Nova Caledônia, respectivamente. No Brasil, o surto de Zika iniciou-se em março de 2015, tendo rápida disseminação por outros países das Américas Central e do Sul.

Neste período, apenas em Salvador foram registrados mais de 17.000 casos de suspeita de infecção por Zika e 44 casos da síndrome. Desses 44 casos, 32 (73%) relataram ter tido uma doença prodrômica aguda, compatível com a infecção por Zika, e diversos pacientes infectados pelo vírus desenvolveram a síndrome de Guillain-Barré, que é a maior causa de paralisia flácida generalizada no mundo, de acordo com o Ministério da Saúde. A síndrome tem como principais sintomas a paralisia dos membros, dor neuropática lombar ou nas pernas e fraqueza progressiva.

O primeiro relato de caso descrito no artigo foi de uma mulher, de 49 anos, com exantema maculpapular e mialgia sem febre, apresentando tetraparesia, perda de movimento nos quatro membros, paralisia bifacial e parestesias, ao longo de 9 dias de internação em unidade de tratamento intensivo (UTI). O segundo foi um homem, de 22 anos, com sintomas de exantema maculpapular generalizado, moderada artralgia, tetraparesia e paralisia bifacial, além de outros distúrbios sensoriais e neurológicos, ao longo de 24 dias de internação em UTI. Apesar da severidade das apresentações clínicas, nenhum deles precisou de ventilação mecânica ou faleceu.

Conclusões – Durante o acompanhamento dos pacientes, os autores do estudo detectaram, através de testes diagnósticos, a presença de anticorpos IgM específicos para o Zika, confirmando a infecção pelo vírus associado ao surgimento dos sintomas da síndrome de Guillain-Barré. Levando em conta as evidências, os pesquisadores afirmaram que a relação entre o Zika e as complicações neurológicas resulta em preocupação com consequências dramáticas para a saúde pública.

A investigação destes dois casos também serve como um alerta para os clínicos em regiões da América do Sul, Central e Caribe, onde o vírus se propagou recentemente, do risco potencial da Guillain-Barré e a necessidade de detecção, diagnóstico, além de tratamento e cuidados de suporte para prevenir a mortalidade e sequelas de longo prazo. Os pesquisadores ressaltam que outros estudos imunopatológicos ainda são necessários para uma melhor compreensão desta síndrome.

O artigo pode ser acessado clicando aqui.

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Guillain-Barré e microcefalia estão associadas à doença exantemática, atribuída ao vírus Zika

CDC-Emerging-05

Sob a liderança de Guilherme Ribeiro, um grupo de pesquisadores e estudantes da Fiocruz Bahia publicou um artigo na revista Emerging Infectious Diseases, vinculada ao Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que demonstra fortes evidências da relação temporal entre os surtos de doença exantemática aguda (AEI, sigla em inglês) atribuída ao vírus Zika, a síndrome de Guillain-Barré (GBS, sigla em inglês), e a microcefalia que ocorreram em Salvador em 2015. Além do pesquisador Guilherme Ribeiro, assinam o trabalho o pesquisador Mitermayer Reis e Monaise Silva, ambos da Fiocruz Bahia, Igor Paploski e Mariana Kikuti, da Universidade Federal da Bahia, Uriel Kitron e Lance Waller, da Universidade de Emory, nos EUA, e Cristiane Cardoso e Ana Paula Prates, da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador.

No estudo, intitulado Time Lags between Exanthematous Illnes Attributed to Zika Virus, Guillain-Barré Syndrome and Microcephaly, Salvador, Brazil, os pesquisadores analisaram as curvas epidemiológicas e as séries temporais das três ocorrências na cidade de Salvador e perceberam uma maior correlação entre o surto de AEI e de GBS, após um intervalo de 5 a 9 semanas. Em relação à microcefalia, constatou-se uma maior correlação entre a ocorrência do surto de AIE e o surto de microcefalia em recém-nascidos após o intervalo de 30 a 33 semanas. Esse último achado sugere que se as mães de crianças nascidas com microcefalia foram realmente infectadas pelo vírus Zika. O mais provável é que esta infecção tenha ocorrido no primeiro trimestre de gravidez. Contribui com esta perspectiva a substancial diminuição da incidência de manifestações congênitas após o seu pico em dezembro de 2015 (31,4 casos por 1.000 nascidos vivos neste mês). Destaca-se o fato, que, em particular, essa redução ocorreu 7-8 meses após o pico do surto de AIE, em maio do mesmo ano.

De acordo com Ribeiro, apesar do trabalho não permitir definir uma relação causal entre os eventos, as associações temporais identificadas fornecem importantes informações sobre o período gestacional em que uma infecção pelo vírus Zika possivelmente confere maior risco para uma gestante desenvolver malformações congênitas. Este achado pode auxiliando as autoridades de saúde pública e de controle de vetores no direcionamento de esforços de controle e proteção mais eficazes. “Com as doenças infecciosas emergentes crescentes em todo o mundo, o investimento em vigilância em saúde pública na cidade, estado, país e no mundo é uma das forma mais rentável para ajudar a enfrentar esses desafios contínuos e crescentes”, destaca o artigo.

Clique aqui para acessar o artigo.

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