Por: Maíra Menezes
A edição de agosto da revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz já está disponível e pode ser acessada gratuitamente online. Entre os destaques, a publicação traz um artigo que apresenta imagens de microscopia de células infectadas pelo vírus Zika, analisando a estrutura viral e os impactos da infecção na estrutura celular. Uma pesquisa que realiza, pela primeira vez, a comparação entre métodos de infecção experimental de insetos Phlebotomus perniciosus, transmissores das leishmanioses, por parasitos Leishmania infantum, causadores da forma visceral da doença, também está no periódico. Entre os dez artigos publicados, a revista apresenta ainda um estudo que aponta que uma molécula com estrutura semelhante à miltefosina é promissora para o desenvolvimento de um novo tratamento contra a esporotricose.
Estrutura do vírus Zika
Utilizando a técnica de microscopia eletrônica de transmissão, pesquisadores analisaram a estrutura do vírus Zika e o comportamento das partículas virais dentro das células infectadas. O estudo foi realizado pelo Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Laboratório de Flavivírus do IOC e o Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo. Os cientistas utilizaram amostra de sangue de um paciente diagnosticado com a doença para isolar o vírus. Em seguida, células Vero – derivadas de células rim de macaco – foram infectadas. Seis dias após a infecção, partículas virais foram observadas agrupadas no interior das células. O nucelocapsídeo, que compõe a estrutura dos vírus, contendo seu material genético, também foi detectado.
Infecção experimental
Considerando que os estudos mais citados sobre a infecção experimental de flebotomíneos – insetos transmissores das leishmanioses – envolveram espécies de parasitos Leishmania causadoras da forma cutânea da doença, pesquisadores franceses compararam metodologias de infecção experimental com o parasito Leishmania infantum, que provoca a modalidade visceral do agravo. Os cientistas da Universidade de Nice-Sophia Antipolis e do Centre Hospitalar Universitário de Nice, na França, utilizaram duas estratégias para infectar insetos Phlebotomus perniciosus: o uso de alimentadores artificiais com sangue contendo o parasito e a alimentação direto dos insetos em camundongos infectados. O trabalho apontou grande variedade na intensidade de infecção do vetor e o alimentador artificial foi considerado o método mais eficiente para obter altas taxas de infectividade.
Molécula contra esporotricose
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem e Fundação Nacional Helênica de Pesquisa, da Grécia, identificaram uma molécula promissora para o desenvolvimento de um novo tratamento contra a esporotricose. O grupo realizou testes in vitro com oito fármacos com estrutura molecular semelhante à da miltefosina, medicamento usado em casos de leishmaniose. Capaz de agir sobre diversos parasitos, esse antimicrobiano teve atividade demonstrada recentemente contra o fungo Sporothrix schenckii, uma das espécies causadoras da esporotricose. Com potencial para gerar menos efeitos colaterais, a molécula TCAN26 foi menos citotóxica quando testadas em células de mamífero, mais seletiva para o fungo e apresentou atividade superior à da miltefosina.