Estudo sobre a subnotificação da dengue é publicado no Emerging Infectious Diseases

CDC Emerging 06Pesquisadores da Fiocruz Bahia, da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Yale University School of Public Health assinaram o artigo intitulado Accuracy of Dengue Reporting by National Surveillance System, Brazil, publicado no jornal médico Emerging Infectious Diseases. O estudo coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro, foi realizado entre janeiro de 2009 e dezembro de 2011, com pacientes de uma unidade de emergência pública, em Salvador (BA).

De acordo com os autores da pesquisa, a dengue é uma doença subnotificada globalmente. No entanto, o grau de subnotificação no Brasil, país que mais notifica casos de dengue no mundo, permanecia desconhecida. Nesse contexto, os pesquisadores realizaram um estudo para avaliar a magnitude da subnotificação da doença no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Para a realização da pesquisa, foram coletadas amostras de sangue de pacientes com idade igual ou superior a 5 anos, que buscavam atendimento médico por uma doença febril aguda. Uma segunda amostra de sangue foi coletada na fase de convalescença, 15 dias depois. Empregando testes sorológicos e moleculares nas amostras de sangue coletadas, os pacientes incluídos no estudo foram classificados entre aqueles com e sem dengue.

Em seguida, os pesquisadores identificaram se os pacientes com e sem o diagnóstico laboratorial de uma infecção pelo vírus da dengue haviam sido oficialmente notificados para o Sinan, como caso suspeito da doença. No Brasil, a notificação de casos suspeitos é obrigatória.

Resultados – A pesquisa indicou que 1 em cada 4 pacientes atendidos por uma doença febril da unidade de emergência onde o estudo foi realizado tinha evidência laboratorial de infecção pelo vírus da dengue, no entanto, para cada 20 pacientes que o estudo permitiu identificar com tendo dengue, apenas 1 havia sido notificado ao Sinan. Esses e outros dados levaram os autores do estudo a concluírem que a vigilância tem subestimado, substancialmente, a carga da doença no Brasil.

Os pesquisadores ainda calcularam um fator multiplicador que permite estimar um número mais correto de casos da doença para cada caso que é notificado. Aplicando este fator de multiplicação, eles estimaram que a incidência anual média, oficialmente registrada em Salvador no período de estudo, de 303,8 casos/100.000 habitatantes, deve ter sido, na realidade de 3.645,7 casos/100.000 habitantes.

Clique aqui e acesse, na íntegra, o artigo publicado em fevereiro de 2016.

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Tríplice epidemia de dengue, zika e chikungunya é tema da aula inagural

9Aconteceu, na manhã desta segunda-feira, 7, a aula inaugural que deu as boas-vindas para os novos alunos de mestrado e doutorado dos cursos de pós-graduação da Fiocruz Bahia. O evento, que ocorreu na Biblioteca de Ciências Biomédicas Eurydice Pires de Sant’Anna, contou com a participação da vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do diretor da Fiocruz do Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio da Cunha, que proferiu a palestra “A tríplice epidemia: desafios para a sociedade, oportunidades para a pesquisa”.

A recepção aos estudantes ficou a cargo das vice-diretoras de Ensino e Pesquisa, Patrícia Veras e Marilda Gonçalves, respectivamente, que orientaram os “calouros” sobre o percurso acadêmico na instituição. As informações relativas aos Programas de Pós-graduação em Patologia (PGPAT) e Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) foram apresentadas pelos coordenadores dos cursos Claudia Brodsky e Mitermayer Reis. Importante destacar a transferência da coordenação da PgBSMI para o pesquisador Guilherme Ribeiro ocorrerá ainda no primeiro semestre de 2016.

Também participaram da cerimônia o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Fameb/UFBA), Luis Fernando Adan, e Charbel Niño El-Hani, do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia (LEFHBio/UFBA). Ambos professores possuem projetos em desenvolvimento com a Fiocruz Bahia no âmbito da PGPAT e do Curso Especialização em Ensino de Biociências, respectivamente.

Ao apresentar o panorama do ensino na Fiocruz, a vice-presidente Nísia Trindade elogiou algumas ações desenvolvidas pela Fiocruz Bahia, como a execução da disciplina Bioinformática Compartilhada, resultado da articulação de professores oriundos de diferentes unidades regionais. Segundo ela, a experiência foi exitosa e possibilitou aos programas de pós-graduação aproveitar mais a riqueza da instituição. “Esta iniciativa teve a capacidade de proporcionar aos alunos aulas com os melhores profissionais em determinadas áreas”, acrescentou.

Ainda segundo ela, outra ação de destaque comandada pela Fiocruz Bahia está a criação do Curso de Especialização em Ensino de Biociências, que tem como foco a capacitação de professores da rede pública, tendo mesclado Ensino à Distância com atividades presenciais.

Patrícia Veras afirmou que esta foi uma oportunidade para que todos pudessem se conhecer de forma integrada, bem como se informar sobre os procedimentos acadêmicos normatizados pela instituição. De acordo a pesquisadora, é fundamental uma boa recepção para os novos membros da comunidade Fiocruz Bahia aliada à oportunidade de debater temas atuais no campo da saúde. “A minha sensação é que devemos retribuir essa manifestação de confiança com empenho, para que os cursos sejam oferecidos em nível de excelência, impactando positivamente na vida acadêmico-profissional desses estudantes”, disse.

DESAFIOS E OPORTUNIDADES – Para tratar da tríplice epidemia, o diretor da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio da Cunha, analisou dengue, zika e chikugunya, sob a ótica dos desafios impostos ao Brasil, que ultrapassam os limites do setor saúde, abrangendo as áreas de educação, comunicação social, saneamento básico, dentre outros. De acordo com o pesquisador, o momento atual, em que a comunidade de pesquisa se depara com uma doença ainda por investigar, onde causas e efeitos ainda precisam ser confirmados, pode ser comparado ao início da década de 1980, quando começaram os primeiros relatos da Aids.

“Assim como no passado, vivemos uma ebulição de descobertas onde, no meio da crise, tentamos sistematizar o conhecimento sobre novas enfermidades que chegaram para somar os problemas de saúde pública do Brasil”, afirma Venâncio. O pesquisador aproveitou a ocasião para salientar o fato de que vivemos uma epidemia de “zika congênita” e não de microcefalia.

Segundo ele, existem muitos casos de bebês sem microcefalia que apresentam calcificações no cérebro. “Mais tarde, esses problemas, que somente serão descobertos na fase escolar, vão afetar seriamente o desenvolvimento de muitas crianças, a exemplo da dificuldade de aprendizagem e catarata congênita”, completa.

O diretor da Fiocruz do Mato Grosso do Sul afirma que a solução para estes graves problemas está fora do setor de saúde, pois envolve determinantes sociais relacionados à pobreza e histórico de exclusão em que vive a sociedade dos países de terceiro mundo. “Trata-se de uma época de desafios e o papel da ciência é enxergar a adversidade como oportunidade. A solução não depende dos esforços de apenas uma área do conhecimento e sim da reunião de competências multidisciplinares”, conclui.

Para fechar o encontro, foi sorteado o livro “Dengue: teorias e práticas”, cujos organizadores são Denise Valle, Denise Nacif Pimenta e Rivaldo Venâncio da Cunha. A publicação, que aborda uma ampla variedade de temas, do histórico às inovações científico-tecnológicas em desenvolvimento, incluindo as vacinas preventivas e o controle vetorial por meio de mosquitos biológica ou geneticamente modificados, reúne textos de professionais de diferentes áreas, como medicina, jornalismo, educação, entomologia, epidemiologia, matemática, gestores, dentre outros.

 

 

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Fiocruz Bahia desenvolve ferramenta online para identificar vírus da dengue, zika e chickungunya

RecursosFiocruz Bahia, através do Laboratório de Hematologia, Genética e Biologia Computacional (LHGB), desenvolveu uma ferramenta de bioinformática para tipagem, sorotipagem e genotipagem para os vírus de dengue, zika e chikungunya.

O mecanismo, que foi realizado em parceria com o “Africa Centre”, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, em colaboração com a Universidade de Oxford, na Inglaterra, Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, Centro de Controle de Doenças da Costa Rica e Instituto Evandro Chagas do Pará, no Brasil, já está disponível gratuitamente para toda a comunidade científica.
De acordo com os pesquisadores Luiz Alcântara (Fiocruz Bahia) e Tulio de Oliveira (Africa Centre), coordenadores do projeto, a aplicação foi desenvolvida com o objetivo de dar suporte aos estudos epidemiológicos sobre estes arbovírus que estão circulando no Brasil. O trabalho segue os moldes de outras sete ferramentas previamente publicadas, em 2009, no periódico Nucleic Acid Research, para os vírus HTLV-1, HIV-1, HIV-2, HCV, HBV, HPV e HHV8.

Para acessar a ferramenta, clique aqui.

 

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Trabalho que descreve os surtos de doença exantemática causado pelos vírus Zika, Chikungunya e Dengue é publicado na revista Emerging Infectious Diseases

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O artigo Outbreak of Exanthematous Illness Associated with Zika, Chikungunya, and Dengue Viruses, Salvador, Brazil, elaborado pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro e Mitermayer Reis, além de Cristiane Cardoso, Igor Paploski, Mariana Kikuti, Moreno Rodrigues, Monaise Silva, Gubio Campos, Silvia Sardi e Uriel Kitron, foi publicado na edição de dezembro da importante revista científica Emerging Infectious Diseases (Vol. 21, Nº 12), publicada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. O trabalho descreve os surto de doença exantemática causado pelos vírus Zika, Chikungunya, e dengue em Salvador no ano de 2015.

De acordo com Guilherme Ribeiro, a publicação, que foi conduzida em uma colaboração entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Fiocruz, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) e a Emory University, nos Estados Unidos, merece destaque pela relevância do tema no cenário epidemiológico atual, já que tais achados são de interesse tanto para o meio acadêmico, quanto para sociedade em geral. “A equipe de pesquisadores continuam trabalhando com a SMS, dando apoio às ações de vigilância epidemiológica e investigação do surto de SGB e microcefalia”, afirma.

No primeiro semestre de 2015, o aumento do número de casos de pessoas com erupções cutâneas no corpo chamou a atenção de sanitaristas do Departamento de Vigilância Epidemiológica de Salvador, que, frente à situação, implementaram um sistema de vigilância sentinela nas Unidades de Pronto-Atendimento do município a fim de identificar outros casos semelhantes. De fevereiro a junho, a vigilância epidemiológica identificou 14.835 casos dessa doença de causa até então desconhecida na cidade de Salvador.

SURTO E SINTOMAS – Como resultado da união de esforços intelectuais por parte dos membros das quatro instituições envolvidas na publicação do artigo, foi identificado que a maior ocorrência da doença se deu no mês de maio e que os casos se caracterizavam pela frequente presença de prurido associado às lesões de pele. Além disso, os pesquisadores testaram amostras de 58 dos pacientes com métodos moleculares (RT-PCR) e demonstraram a presença de RNA dos vírus zika em três pacientes, do vírus chikungunya em outros três pacientes e do vírus dengue em mais dois pacientes.

Os resultados da investigação demonstram a dificuldade para distinguir com base nas manifestações clínicas essas três infecções virais e chamam atenção para a circulação simultânea dos três vírus em Salvador. Pela baixa frequência nos casos estudados de febre e artralgia (sintomas tipicamente presentes em casos de dengue e chikungunya) e pela identificação concomitante do vírus zika em pacientes com doença exantemática de vários estados do país, os pesquisadores concluíram que a mais provável causa para o grande surto de doença exantemática em Salvador seja o vírus zika.

Assim como os vírus da dengue e da chikungunya, o vírus zika também é transmitido por mosquitos do gênero Aedes spp.. Até o presente, os surtos causados pelo vírus zika tem ocorrido predominantemente na região Nordeste, mas dada a ampla distribuição do mosquito vetor no país, há um risco real de que outras regiões também venham a sofre com epidemias causadas por este vírus. Até o presente, a Bahia permanece como o estado brasileiro com o maior número de notificações de casos suspeitos de zika e de chikungunya, mas, em função da semelhança clínica entre estas arboviroses (infecções virais transmitidas por insetos), é provável que muitos dos casos notificados no país como sendo casos de dengue sejam na verdade casos de zika ou chikungunya.

MICROCEFALIA – Recentemente, o aumento na região Nordeste de casos de microcefalia, uma malformação congênita em que os recém-nascidos apresentam perímetro cefálico menor do que o normal, tem sido relacionado à infecção de gestantes pelo vírus zika. Da mesma forma, a Síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica em que há perda progressiva da força muscular, também é suspeita de ser uma das possíveis complicações associadas à infecção pelo vírus zika. Até julho, somente a Bahia havia notificado 115 casos suspeitos dessa síndrome.

 

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