Emergência de casos de Chikungunya em Salvador não foi imediatamente reconhecida, aponta estudo

Unrecognized Emergence of ChikungunyaPesquisadores da Fiocruz Bahia realizaram um estudo com o objetivo de determinar a intensidade da transmissão do vírus Chikungunya, em Salvador (BA), no período de novembro de 2014 a abril de 2016, quando ocorria simultaneamente um surto do vírus Zika no país. Os resultados da pesquisa estão descritos no artigo Unrecognized Emergence of Chikungunya Virus during a Zika Virus Outbreak in Salvador, Brazil, publicado pelo periódico científico Plos Neglected Tropical Diseases, no dia 23 de janeiro.

Dentre os autores do artigo estão os pesquisadores da Fiocruz Bahia estão os pesquisadores da Fiocruz Bahia Guilherme Ribeiro, Uriel Kitron, Laura Tauro e Mitermayer Reis e os estudantes de doutorado Mariana Kikuti, Igor Paploski e Monaise Silva e de mestrado Perla Santana. O trabalho foi realizado em parceria com as Secretarias de Saúde de Salvador e do Estado da Bahia, Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Emory University (EUA).

O Chikungunya é um arbovírus transmitido por mosquitos do gênero Aedes aegypti, cuja manifestação clínica é similar à de outras arboviroses, como a dengue. De acordo com o artigo, os primeiros casos do vírus Chikungunya no Brasil foram detectados em 2014, em Feira de Santana (BA), cidade a 100 km da capital baiana, onde houve um surto significativo da doença. Posteriormente, apesar de muitos casos terem sido notificados em Salvador, a intensa circulação do vírus Chikungunya na cidade não foi imediatamente identificada, em contraste com os surtos do Zika.

A pesquisa – Resultados indicaram que, devido à atenção direcionada ao surto do vírus Zika e suas complicações, as autoridades de saúde pública e os profissionais não reconheceram imediatamente o aumento do número de casos do Chikungunya.

Para chegar à essa conclusão, foi obtido o registro de todos os testes laboratoriais para o vírus Chikungunya realizados no setor público, verificando-se a frequência de testes positivos por semana epidemiológica. Dos 2.736 testes laboratoriais, aproximadamente 17% foram positivos. As análises mostraram que houve um aumento na taxa de testes positivos a partir de janeiro de 2015 e o maior pico de confirmações foi em agosto (68%), após o surto da doença exantemática, que é atribuída ao vírus Zika.

De acordo com os pesquisadores, é importante que profissionais de saúde e gestores de regiões do mundo que abrigam o Aedes e que não tenham tido transmissão intensa de Zika e Chikungunya estejam atentos para o co-surgimento potencial desses dois arbovírus.

Confira aqui o artigo na íntegra.

twitterFacebookmail
[print-me]

Tríplice epidemia de dengue, zika e chikungunya é tema da aula inagural

9Aconteceu, na manhã desta segunda-feira, 7, a aula inaugural que deu as boas-vindas para os novos alunos de mestrado e doutorado dos cursos de pós-graduação da Fiocruz Bahia. O evento, que ocorreu na Biblioteca de Ciências Biomédicas Eurydice Pires de Sant’Anna, contou com a participação da vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do diretor da Fiocruz do Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio da Cunha, que proferiu a palestra “A tríplice epidemia: desafios para a sociedade, oportunidades para a pesquisa”.

A recepção aos estudantes ficou a cargo das vice-diretoras de Ensino e Pesquisa, Patrícia Veras e Marilda Gonçalves, respectivamente, que orientaram os “calouros” sobre o percurso acadêmico na instituição. As informações relativas aos Programas de Pós-graduação em Patologia (PGPAT) e Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) foram apresentadas pelos coordenadores dos cursos Claudia Brodsky e Mitermayer Reis. Importante destacar a transferência da coordenação da PgBSMI para o pesquisador Guilherme Ribeiro ocorrerá ainda no primeiro semestre de 2016.

Também participaram da cerimônia o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Fameb/UFBA), Luis Fernando Adan, e Charbel Niño El-Hani, do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia (LEFHBio/UFBA). Ambos professores possuem projetos em desenvolvimento com a Fiocruz Bahia no âmbito da PGPAT e do Curso Especialização em Ensino de Biociências, respectivamente.

Ao apresentar o panorama do ensino na Fiocruz, a vice-presidente Nísia Trindade elogiou algumas ações desenvolvidas pela Fiocruz Bahia, como a execução da disciplina Bioinformática Compartilhada, resultado da articulação de professores oriundos de diferentes unidades regionais. Segundo ela, a experiência foi exitosa e possibilitou aos programas de pós-graduação aproveitar mais a riqueza da instituição. “Esta iniciativa teve a capacidade de proporcionar aos alunos aulas com os melhores profissionais em determinadas áreas”, acrescentou.

Ainda segundo ela, outra ação de destaque comandada pela Fiocruz Bahia está a criação do Curso de Especialização em Ensino de Biociências, que tem como foco a capacitação de professores da rede pública, tendo mesclado Ensino à Distância com atividades presenciais.

Patrícia Veras afirmou que esta foi uma oportunidade para que todos pudessem se conhecer de forma integrada, bem como se informar sobre os procedimentos acadêmicos normatizados pela instituição. De acordo a pesquisadora, é fundamental uma boa recepção para os novos membros da comunidade Fiocruz Bahia aliada à oportunidade de debater temas atuais no campo da saúde. “A minha sensação é que devemos retribuir essa manifestação de confiança com empenho, para que os cursos sejam oferecidos em nível de excelência, impactando positivamente na vida acadêmico-profissional desses estudantes”, disse.

DESAFIOS E OPORTUNIDADES – Para tratar da tríplice epidemia, o diretor da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio da Cunha, analisou dengue, zika e chikugunya, sob a ótica dos desafios impostos ao Brasil, que ultrapassam os limites do setor saúde, abrangendo as áreas de educação, comunicação social, saneamento básico, dentre outros. De acordo com o pesquisador, o momento atual, em que a comunidade de pesquisa se depara com uma doença ainda por investigar, onde causas e efeitos ainda precisam ser confirmados, pode ser comparado ao início da década de 1980, quando começaram os primeiros relatos da Aids.

“Assim como no passado, vivemos uma ebulição de descobertas onde, no meio da crise, tentamos sistematizar o conhecimento sobre novas enfermidades que chegaram para somar os problemas de saúde pública do Brasil”, afirma Venâncio. O pesquisador aproveitou a ocasião para salientar o fato de que vivemos uma epidemia de “zika congênita” e não de microcefalia.

Segundo ele, existem muitos casos de bebês sem microcefalia que apresentam calcificações no cérebro. “Mais tarde, esses problemas, que somente serão descobertos na fase escolar, vão afetar seriamente o desenvolvimento de muitas crianças, a exemplo da dificuldade de aprendizagem e catarata congênita”, completa.

O diretor da Fiocruz do Mato Grosso do Sul afirma que a solução para estes graves problemas está fora do setor de saúde, pois envolve determinantes sociais relacionados à pobreza e histórico de exclusão em que vive a sociedade dos países de terceiro mundo. “Trata-se de uma época de desafios e o papel da ciência é enxergar a adversidade como oportunidade. A solução não depende dos esforços de apenas uma área do conhecimento e sim da reunião de competências multidisciplinares”, conclui.

Para fechar o encontro, foi sorteado o livro “Dengue: teorias e práticas”, cujos organizadores são Denise Valle, Denise Nacif Pimenta e Rivaldo Venâncio da Cunha. A publicação, que aborda uma ampla variedade de temas, do histórico às inovações científico-tecnológicas em desenvolvimento, incluindo as vacinas preventivas e o controle vetorial por meio de mosquitos biológica ou geneticamente modificados, reúne textos de professionais de diferentes áreas, como medicina, jornalismo, educação, entomologia, epidemiologia, matemática, gestores, dentre outros.

 

 

twitterFacebookmail
[print-me]