Estudo ressalta papel crucial dos cães na vigilância da doença de Chagas e da leishmaniose visceral

Uma pesquisa investigou a prevalência de anticorpos relacionados à doença de Chagas e à leishmaniose visceral em cães domésticos no município de Tremedal, área endêmica, localizada no sudoeste da Bahia. Parte do projeto Oxente Chagas, o estudo teve o objetivo de aprofundar a compreensão do papel que os cães desempenham na transmissão desses patógenos e informar estratégias mais eficazes de controle da doença. O trabalho foi coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Fred Luciano Santos, e publicado no periódico Parasites & Vectors.

A doença de Chagas e a leishmaniose visceral são doenças zoonóticas negligenciadas e potencialmente fatais, causadas pelos protozoários hemoflagelados Trypanosoma cruzi e Leishmania infantum, respectivamente. O controle dessas doenças representa desafios significativos para a saúde pública na América Latina. Os cães domésticos, devido ao contato próximo com humanos, servem como reservatórios-chave tanto para o T. cruzi quanto para a L. infantum, tornando-os importantes sentinelas na vigilância de doenças.

Foram analisadas amostras de soro de 17 cães por ensaio imunoenzimático indireto (ELISA), usando antígenos recombinantes (IBMP-8.1, IBMP-8.2, IBMP-8.3, IBMP-8.4) para T. cruzi e o teste rápido TR DPP® Leishmaniose Visceral Canina Bio-Manguinhos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e ELISA para L. infantum. Os resultados mostraram que 5,9% (1/17) dos cães testados foram soropositivos para T. cruzi, indicando a presença do parasita na região. Da mesma forma, 5,9% (1/17) dos cães foram confirmados como positivos para L. infantum por ELISA, embora os resultados do teste TR DPP® tenham sugerido inicialmente uma prevalência maior (41,2%), evidenciando o risco de falso-positivos.

Os resultados obtidos ressaltam o papel crucial dos cães na vigilância da doença de Chagas e da leishmaniose visceral, dado seu envolvimento nos ciclos de transmissão domésticos e peridomiciliares. Enfatizam também a necessidade de testes confirmatórios para garantir a precisão diagnóstica, o que contribuirá para estratégias de controle de doenças mais eficazes em áreas endêmicas.

Os pesquisadores observaram que a presença persistente de vetores triatomíneos em Tremedal exige esforços contínuos de vigilância e controle. Apontam também, que pesquisas futuras devem expandir o tamanho da amostra e o escopo geográfico para melhor compreender a epidemiologia das infecções por Leishmania spp. e T. cruzi. Destacam ainda, a importância de uma abordagem de One Health (Saúde Única), na qual a saúde humana e animal são monitoradas de perto para amenizar a transmissão de doenças zoonóticas.

Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins.

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Tese avaliou biomarcadores de gravidade em cães naturalmente infectados por Leishmania infantum

AUTORA: Manuela da Silva Solcà.
ORIENTADORA: Patrícia Sampaio Tavares Veras.
TÍTULO DA TESE: Avaliação de biomarcadores de gravidade em cães naturalmente infectados por Leishmania infantum.
PROGRAMA: Doutorado em Patologia Humana – UFBA /FIOCRUZ
DATA DE DEFESA: 09/02/2017

 

Resumo

 

Nas Américas, a leishmaniose visceral (LV) é causada pelo protozoário Leishmania infantum, que pode acometer humanos e animais. Dentre estes, o cão é considerado o principal reservatório doméstico do parasito. O curso da LV canina (LVC) varia dentre os animais, podendo alguns se mostrarem resistentes a infecção, se mantendo subclínicos, e outros susceptíveis demonstrando sinais da doença. O estado de resistência ou susceptibilidade à LVC, reflete na gravidade da infecção do animal, e não pode ser definido pelo quadro clínico apresentado ou por qualquer parâmetro isolado de resposta imune. Padrões de suscetibilidade e resistência à infecção por Leishmania devem estar correlacionados ao quadro clínico e com biomarcadores parasitológicos como a carga parasitária do animal ou biomarcadores imunológicos. A análise de carga parasitária dos animais é um importante parâmetro para acompanhar o curso da infecção e avaliar sua gravidade, podendo funcionar também como um biomarcador parasitológico. Ademais, a busca e identificação de outros biomarcadores de gravidade ajuda a melhorar a compreensão da patogênese da LV no hospedeiro. O objetivo da presente tese consiste em avaliar biomarcadores parasitológicos e biomarcadores de exposição a saliva do vetor, e identificar biomarcadores inflamatórios indicativos da gravidade da infecção por L. infantum em cães. Para este intuito um protocolo de PCR quantitativa (qPCR) para quantificação da carga parasitária foi desenvolvido e validado. A qPCR padronizada teve seu desempenho avaliado empregando a análise de classe latente, comparando o seu desempenho com outras técnicas diagnósticas e empregando-se diferentes amostras biológicas. A sensibilidade para a qPCR de aspirado esplênico (95,8%) foi maior do que as obtidas para os outras amostras biológicas e testes diagnósticos. Posteriormente, após a reação de qPCR ter sido validada, esta foi aprimorada para utilização em estudos epidemiológicos, sendo padronizada em formato duplex tanto na forma líquida como no formato em gel (ready-to-use), adicionando-se à reação padronizada anteriormente, primers específicos para a detecção de um gene constitutivo canino. Em seguida, foi realizado um estudo exploratório de uma amostra de cães coletada durante um estudo de corte transversal, em Camaçari-BA, no qual foram avaliados simultaneamente biomarcadores parasitológicos, imunológicos de exposição à saliva do vetor, e biomarcadores de inflamação, em cães com diferentes quadros clínicos de LVC, visando identificar perfis associados com a gravidade da doença clínica. A análise identificou uma bioassinatura distinta em cães com diferentes manifestações clínicas, caracterizada por uma diminuição dos níveis de LTB-4 e de PGE-2 e um aumento de CXCL1 e CCL2, de acordo com o agravamento da doença. Além disso, utilizando uma combinação de 3 parâmetros distintos (LTB-4, PGE-2 e CXCL1) fomos capazes de discriminar entre escores clínicos diferentes pela construção de uma curva ROC. Foi detectado também, que cães com escores clínicos elevados apresentaram-se, mais frequentemente, com negatividade para IgG anti-saliva e elevadas cargas parasitárias. Este estudo permitiu a avaliação e identificação de vários biomarcadores em cães, que podem ser importantes para auxiliar na avaliação do curso da doença e prognóstico por médicos veterinários, além de futuramente poder ajudar na distinção entre cães resistentes ou susceptíveis direcionando estratégias de controle da LVC em áreas endêmicas. Assim, neste trabalho foi possível concluir que existem biomarcadores parasitológicos como a carga parasitária, biomarcadores imunológicos e inflamatórios como CXCL1, CCL2, LTB-4, PGE-2, além da produção de anticorpos específicos contra as proteínas LJM 11 e LJM 17 da saliva do vetor, que são capazes de diferenciar animais infectados por L. infantum de acordo com seus diferentes quadros clínicos.

Palavras-chave: Leishmaniose Visceral Canina, Biomarcadores, qPCR, Cão.

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