Pesquisa sugere gerenciamento do risco de doenças transmitidas por vetores na Europa a partir da experiência de países endêmicos

Pesquisadores propuseram um conjunto de ferramentas e intervenções para gerenciar o risco crescente de doenças transmitidas por vetores na Europa, diante das mudanças climáticas, da degradação ambiental e da globalização, que têm ampliado a presença de insetos e expondo populações de países desse continente a novos patógenos.

O trabalho teve o objetivo de ajudar os formuladores de políticas a adaptarem estratégias de preparação e controle de doenças, a partir das lições aprendidas em países que enfrentam transmissão endêmica e acumulam décadas de experiência no enfrentamento desses desafios, oferecendo referências valiosas para adaptação local. O pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro, participou do trabalho, que foi publicado no periódico The Lancet Regional Health – Europe.

Os métodos utilizados na pesquisa incluíram uma busca sistemática por melhores práticas e literatura recente nas bases Google Acadêmico e PubMed (junho de 2024), através de termos como “doença infecciosa sensível ao clima”, “arbovírus”, “vetor”, “mosquito”, “carrapato”, “febre hemorrágica da Crimeia-Congo”, entre outros. A seleção foi orientada para identificar estudos relevantes sobre prevenção e controle de vetores, com ênfase em intervenções eficazes implementadas em cenários endêmicos.

Também foram analisados dois estudos de caso que exemplificam como essas práticas podem ser aplicadas no contexto europeu: a emergência do Aedes aegypti na República do Chipre; e o surto de febre hemorrágica da Crimeia-Congo em Barcelona. Outra experiência de sucesso, citada no artigo, pelo potencial de ser adaptada para o contexto Europeu, se baseou em um estudo coordenado por Guilherme Ribeiro, em Salvador. Neste estudo, foi observado que uma intervenção estrutural em bocas de lobo da cidade foi capaz de melhorar o sistema de drenagem, prevenindo o acúmulo de água nessas estruturas e, consequentemente, reduzindo a presença dos mosquitos Culex e Aedes, que usavam estes locais para repouso e reprodução.  

Os autores enfatizam a importância de parcerias transdisciplinares de One Health (Saúde Única), com a mobilização de setores, disciplinas e comunidades para atuarem juntos na interface saúde humana-animal-ambiente. Além disso, defendem a cocriação de medidas adaptadas ao contexto europeu, aproveitando a experiência de profissionais de áreas endêmicas e destacam que as intervenções devem considerar a ecologia local dos vetores, o comportamento humano e os fatores sociais e econômicos que influenciam a exposição aos patógenos.

O trabalho também propõe que a combinação de vigilância, educação pública, infraestrutura adequada e resposta rápida a ameaças emergentes é crucial para fortalecer a resiliência da Europa frente às doenças transmitidas por vetores. O aprendizado contínuo com regiões endêmicas é visto como uma oportunidade estratégica para antecipar riscos e reduzir impactos futuros.

Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins.

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Chikungunya: epidemias em Salvador, em 2019 e 2020, foram compostas por surtos comunitários

Um estudo concluiu que a elevada transmissão do vírus chikungunya em Salvador em 2019 e 2020, gerando o que parecia ser uma grande epidemia em toda a cidade, foi na verdade constituída por vários surtos comunitários, sincronizados ou sequenciais. Os resultados do trabalho, coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia e professor da UFBA, Guilherme Ribeiro, e que tem como primeiro autor, Hernan Argibay, pós-doutorando da Fiocruz Bahia e do Instituto de Saúde Coletiva (ISC-UFBA), foram publicados na Lancet Regional Health – Americas.

Os autores combinaram análises epidemiológicas e espaço-temporais para avaliar o padrão de distribuição dos casos notificados de chikungunya em Salvador ao longo da epidemia de 2019-2020, buscando compreender o modo de a disseminação desse vírus na cidade e os fatores sociais e ambientais associados à incidência da doença.

Mais de 19.000 casos de chikungunya foram registrados em Salvador entre 2016 e 2020,  com aumento significativo nos anos de 2019 e 2020, que tiveram 4.549 e 13.071 casos notificados, respectivamente. Em 2016, foram notificados 977 casos, em 2017 foram 349 e em 2018 notificou-se 183.

O estudo identificou dezesseis clusters (aglomerados espaço-temporais) estatisticamente significantes durante as epidemias de 2019 e 2020, sendo nove em 2019 e sete em 2020, indicando que o vírus chikungunya exibe um padrão localizado de transmissão. Este achado sugere que, mesmo em cidades altamente afetadas por epidemias de chikungunya, pode haver bairros onde a transmissão viral foi baixa, formando bolsões populacionais que são potencialmente suscetíveis a futuros surtos.

Os resultados também demonstraram que a distribuição heterogênea dos casos na cidade foi relacionada a determinadas características dos setores censitários. Aqueles setores com maior renda média, densidade populacional humana e cobertura vegetal tiveram menor risco de chikungunya, enquanto os setores censitários com temperaturas mais altas tiveram maior risco de chikungunya.

No artigo, também é discutido o possível impacto da pandemia de Covid-19 na epidemia de chikungunya em 2020, em Salvador. Segundo os autores, a restrição ao deslocamento de pessoas pode ter contribuído para o aumento significativo de casos nesse período, levando em conta que a transmissão desta arbovirose ocorre principalmente no ambiente peridomiciliar. Além disso, houve redução nas ações de controle de vetores, uma vez que todos os esforços do setor de saúde foram direcionados para enfrentamento da pandemia. Por outro lado, se a menor mobilidade pode ter favorecido a disseminação local do vírus em certas comunidades, pode ter dificultado que o vírus alcançasse e estabelecesse transmissão em outras áreas.

Por Júlia Lins.

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Estudo publicado na Parasite & Vectors aponta que bueiros são focos de mosquito transmissor de arboviroses

Parasitc and VectorEstudo liderado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro, indicando que a água acumulada no interior dos bueiros é foco de mosquito transmissor de enfermidades como dengue, zika e chikungunya, foi publicado na mais conceituada revista científica internacional especializada no tema, a Parasites & Vectors. O artigo intitulado Storm drains as larval development and adult resting sites for Aedes aegypti and Aedes albopictus in Salvador, Brazil, publicado no dia 27 de julho, pode ser lido na íntegra no site da revista.

No trabalho descrito, pesquisadores e estudantes de Pós-Graduação da Fiocruz Bahia, da Universidade Federal da Bahia e da Universidade de Emory (EUA) observaram no total de 122 bueiros, também conhecidos como bocas de lobo, dos bairros de Brotas, Cabula, Piatã e Pituba, no período de março a julho de 2015, com o intuito de verificar com que frequência a água fica acumulada servindo como criadouro de mosquitos.

Foram identificados pelos pesquisadores, espécimes de Aedes aegypti, tanto adultos quanto em suas fases larvais, em bueiros de dois dos quatro bairros, sendo mais comum nos bueiros que também continham larvas de outras espécies de mosquitos, como a muriçoca (pernilongo comum). A presença do Aedes aegypti também foi mais frequente nas inspeções precedidas por período de pouca chuva. O Aedes albopictus, outro mosquito que também pode transmitir arbovírus, foi encontrado em bueiros de um dos bairros pesquisados.

De acordo com os especialistas, os achados são de grande relevância por chamar atenção para a necessidade de reorientação nos programas de prevenção e controle de arboviroses, já que as principais ações assumem que os focos de reprodução dos mosquitos transmissores de dengue, zika e chikungunya encontram-se nas residências e não nos ambientes públicos.

A fim de ampliar o estudo para saber a extensão do problema em outras áreas da cidade, a equipe de pesquisadores está trabalhando em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses do município de Salvador. Os resultados também ensejaram discussões intersetoriais no município, com o intuito de planejar ações de combate à proliferação do Aedes nos bueiros.

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