Seminário na Fiocruz Bahia abordou desafios e perspectivas das arboviroses

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O “Seminário arboviroses: desafios e perspectivas”, aconteceu na sexta-feira, 19 de abril, na Fiocruz Bahia. O objetivo do evento foi promover o diálogo entre pesquisadores, médicos, autoridades, gestores e representantes de instituições acadêmicas, governamentais e da sociedade civil, que abordaram aspectos, como quadro epidemiológico, manejo e diagnóstico das doenças, bem como produzir reflexões coletivas sobre caminhos para enfrentamento dos desafios impostos pelo aumento de infecções.

A mesa de abertura institucional teve a participação de Marcos Sampaio, presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES); Carlos Melo, representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil; do promotor Carlos Robson Oliveira Leão, representante do Ministério Público da Bahia; Alda Maria da Cruz, diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis, do Ministério da Saúde; Tânia Maria Peixoto Fonseca, coordenadora de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz; Rivia Mary de Barros – Superintendente de Vigilância e Proteção da Saúde – SUVISA/SESAB; e da diretora Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves.

Marilda avaliou que o seminário foi produtivo e agradeceu a presença dos palestrantes e participantes do evento. “Já estamos marcando uma sessão pública conjunta no Ministério Público, para debater o tema e compartilhar o que tem sido produzido junto com a secretaria de saúde e outras entidades”, pontuou.

Tânia Fonseca comentou que a mesa representava bem o que tem sido a resposta às arboviroses. Para ela é preciso um trabalho conjunto da sociedade civil, com as entidades públicas, a Organização Pan-Americana, e as instituições de ensino e pesquisa. Tânia falou também sobre as dimensões e a diversidade regional que o Brasil possui.

“Tem coisas que permeiam o país como um todo e impactam nas respostas. Por exemplo, as mudanças climáticas, que vão ter uma participação muito significativa na resposta às arboviroses e no perfil que elas vão ganhando. É necessário uma mudança de mentalidade e de infra-estrutura. Os governos vão passar e nós vamos continuar falando de arboviroses. Essa é uma oportunidade de a gente refletir sobre quais são as possibilidades, e chamar a atenção para os potenciais e para as crises que vão continuar a emergir diante do cenário ambiental”, pontuou.

Após a abertura, a primeira mesa apresentou os cenários epidemiológicos das arboviroses. Tânia Fonseca, compartilhou como tem sido a atuação da Fiocruz no contexto das arboviroses. Carlos Melo, representante da OPAS/OMS no Brasil, apresentou o cenário nas Américas. Já o contexto brasileiro das arboviroses foi relatado por Alda Maria da Cruz, diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis, do Ministério da Saúde. Márcia São Pedro Leal Souza, diretora de Vigilância Epidemiológica – Divep/SESAB falou sobre o monitoramento e vigilância de arboviroses na Bahia. E a apresentação sobre o monitoramento e vigilância de dengue em Salvador nos últimos 15 anos foi realizada pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro.

Alda Maria da Cruz, apontou, entre outros pontos, desafios como o diagnóstico laboratorial;  a resistência vetorial; as definições de casos; sistema de informação robustos e oportunos; necessidade de saúde das crianças com síndrome da zika congênita; analisar a capacidade de resposta em epidemia; escalonar novas tecnologias de controle vetorial; redução de óbitos; mudança de comportamento da população; políticas públicas estruturantes; investimento permanente em pesquisa; e a preparação de novos gestores.

A segunda mesa tratou do manejo clínico das arboviroses, que foi mediada por Rívia Mary de Barros. E entre os participantes estava Antônio Bandeira, membro Diretor do Sociedade Brasileira de Infectologia, que falou sobre o manejo clínico da dengue. Renato Cony, subsecretário de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, compartilhou a atuação na promoção à saúde e vigilância de arboviroses na cidade do Rio de Janeiro. O manejo clínico da chikungunya foi explicitado por Rivaldo Venâncio, assessor especial da Presidência da Fiocruz. Ricardo Khouri, pesquisador da Fiocruz Bahia e professor da Faculdade de Medicina da UFBA, colaborou trazendo a perspectiva de uma só saúde no estudo de epidemiologia do vírus chikungunya.

Rivaldo Venâncio, apresentou alguns desafios na assistência de pessoas que tiveram/têm chikungunya, como uma assistência integral que inclua fisioterapia e psicologia, devido as consequência de dores por muitos meses e outros sintomas, como queda de cabelo e ganho de peso; identificar sintomas e indícios de que pode evoluir para a forma crônica da doença; atenção para as manifestações de gravidade, ou seja, óbitos; medidas preventivas de sequelas; e alternativas terapêuticas para os casos crônicos. “A atenção humanizada é parte fundamental do protocolo clínico”, ressaltou.

Na última mesa do seminário, o tema abordado foi o diagnóstico das arboviroses. Contou com as contribuições de Arabela Leal, diretoria do Laboratório Central de Saúde Pública Prof. Gonçalo Moniz (LACEN-BA), que falou sobre o diagnóstico sorológico e molecular de arboviroses na Bahia; e do pesquisador Ricardo Khouri, que apresentou a plataforma genômica em arboviroses da Fiocruz. De acordo com Ricardo, a ideia é fazer a intersecção entre a genômica, pesquisa e vigilância. “O objetivo da plataforma é oferecer diagnóstico molecular de média e alta complexidade para o SUS, pesquisa e particular. Além de disponibilizar espaço com controle de qualidade, equipamentos atualizados, treinamento avançado especializado para usuários da Fiocruz e externos, e inovação em detecção molecular avançada”.

É possível assistir o seminário no canal da Fiocruz Bahia.

Arboviroses

As arboviroses são um grupo de doenças virais transmitidas por vetores, como mosquitos e carrapatos. Algumas das mais conhecidas são dengue, zika e chikungunya, que têm como principal vetor o mosquito Aedes aegypti. Nos últimos anos, várias epidemias de arboviroses ocorreram no Brasil, e, atualmente, o país enfrenta uma epidemia de dengue que em 2024 já registrou mais de 3 milhões de casos prováveis da doença, com importante número de casos graves e óbitos.

Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins | Foto: Júlia Lins

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