Projeto sugere que esquistossomose ainda é uma doença ativa em Salvador

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O Simpósio de Esquistossomose Urbana apresentou os resultados de um projeto desenvolvido, desde 2011, em Salvador, para estudo da presença e persistência da esquistossomose em áreas urbanas da cidade. O evento foi realizado na Fiocruz Bahia, entre os dias 11 e 15 de dezembro de 2023.

O encontro abordou o panorama do Sistema Único de Saúde (SUS), a epidemiologia da esquistossomose no Brasil, a visão geral de Salvador e seus bairros e a genética de parasitas, e contou com apresentações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ); da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), da Embasa e da Conder. A Sessão Científica “Genetic Analysis of Schistosome population structure and transmission dynamics”, ministrada por Jeffrey Long, da Universidade do Novo México (EUA), encerrou a programação.

Integrantes do projeto durante apresentação dos resultados no Seminário Esquistossomose Urbana

O pesquisador da Fiocruz Bahia, Mitermayer Galvão dos Reis, um dos coordenadores do projeto, considera importante realizar um trabalho que faça o diagnóstico sobre a situação da esquistossomose em áreas urbanas. “Nós concluímos que a esquistossomose existe aqui em Salvador e a transmissão ocorre na cidade. Temos que ficar atentos, fazer uma vigilância constante nas áreas onde está tendo o maior risco de transmissão, que são áreas onde tem rios, coleções de águas e caramujos”, destaca.

A esquistossomose é causada pelo verme Schistosoma mansoni e é considerada negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A transmissão ocorre quando a larva, presente em água parada ou com pouca correnteza, penetra na pele do indivíduo que, após infectado, libera ovos do parasita em suas fezes – que podem ser depositadas em ambientes de água doce. Em contato com a água, os ovos eclodem dando origem a novas larvas que se alojam em caramujos, são liberadas na água, voltando ao ciclo.

O cientista explica que, onde há caramujos, é necessário examiná-los para avaliar se estão infectados com o Schistosoma, e, caso estejam, também examinar a comunidade, e tratar os indivíduos infectados. “Também é necessário levar informações a nível municipal, estadual e federal de que são necessárias intervenções mais duradouras e definitivas, como melhorar as condições de vida da comunidade, oferecendo água potável, esgoto, e levando mais educação e informação de como se dá a transmissão”, pontua.

Para Ronald Blanton, médico especializado em doenças infecciosas da Universidade de Tulane (EUA) e professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI) da Fiocruz Bahia, os trabalhos de pesquisa nos bairros demonstraram a necessidade de um conjunto de forças para controlar a transmissão. “As instituições de saúde pública, da construção civil e de saneamento às vezes não se comunicam, e é uma um momento de juntar todo mundo, e apresentar o que estamos encontrando”, observa Ronald, que também é um dos coordenadores do trabalho.

Mitermayer conta que o desenvolvimento da pesquisa também resultou em uma importante formação de recursos humanos. “Foram capacitados técnicos, estudantes de graduação realizaram trabalhos de conclusão de curso e os de pós-graduação produziram suas dissertações e teses sobre o tema, além da participação de pós-doutorandos. Também realizamos seminários com membros da comunidade e o estudo resultou em publicações de artigos científicos”, declarou.  

Resultados

Os pesquisadores tiveram conhecimento da esquistossomose em São Bartolomeu (comunidade às margens da Av. Afrânio Peixoto), em Salvador, a partir de 2007, e realizaram inquéritos nesta área em 2011 e 2015. O projeto Esquistossomose Urbana, especificamente, ocorreu entre 2017 e 2023. Nesse período, foram realizados oito inquéritos completos (entrevistas e exames de fezes), no Dique do Cabrito (2017), Bate-Facho (2023), Saramandaia (2018, 2019 e 2023) e Pirajá (2019, 2021 e 2023).

“Houve uma redução significativa da prevalência da doença, de 24,5% para 6,2%, devido a nossa intervenção e obras de infraestrutura implementadas na vizinhança pela Conder. Em 2024, deveremos revisitar São Bartolomeu para avaliar sua situação atual”, descreve o pesquisador Luciano Kalabric, integrante do projeto. A taxa de positividade global média encontrada até o momento foi de 3,3% (272 indivíduos positivos para esquistossomose de 8.161 examinados). A menor positividade foi encontrada em Bate-Facho (0,7%) e os maiores foram em Saramandaia, em 2018 (5,3%), e Pirajá, em 2019 (5,5%).

“Todos os participantes com esquistossomose foram tratados e realizaram novos exames para confirmação de cura. O tratamento recorrente na Saramandaia e em Pirajá reduziram a prevalência da doença para menos de 2%, sendo que parte destes casos são indivíduos que não participaram do estudo antes e alguns foram reinfecção”, conclui o pesquisador.

*Com informações do IOC.

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