Pesquisadores analisam efeitos da Covid-19 longa em pretos e pardos 

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Um estudo analisou a sintomatologia e o impacto da Covid-19 longa na qualidade de vida em indivíduos pretos e pardos atendidos em um centro de referência para sintomas Pós-Covid-19 do estado da Bahia, localizado no Hospital Especializado Octávio Mangabeira (HEOM), em Salvador. A Covid-19 longa ainda é pouco investigada e a maioria dos trabalhos existentes analisa a síndrome em populações da Europa e América do Norte.

Publicado no periódico PLOS ONE, o estudo é resultado de uma colaboração entre a Fiocruz e a equipe do Centro Pós-Covid, do HEOM. Tem entre os integrantes do trabalho os pesquisadores da Fiocruz Bahia, Viviane Boaventura, Natália Machado e Manoel Barral, e o aluno de Iniciação Científica da instituição Marcio Barreto, que está entre os primeiros autores.

Os cientistas avaliaram, entre agosto de 2020 e setembro de 2021, 1.164 pacientes diagnosticados com Covid-19 longa (entre os quais 57% eram mulheres, 88% pardos e pretos e 72,6% apresentavam no mínimo uma comorbidade, em sua maioria hipertensão ou obesidade). Para a coleta de dados foi desenvolvida uma estrutura de pesquisa criada por meio do software Research Electronic Data Capture (REDCap), com provedor centrado na Fiocruz Bahia. A pesquisa avaliou tanto casos de Covid-19 leve (sem internamento), como moderada (hospitalizados sem UTI) e grave (hospitalizados em UTI).

Os resultados apontaram que alguns pacientes com Covid-19 longa necessitaram hospitalização após a fase aguda. O estudo também destacou a alta frequência de casos de diabetes mellitus nesse grupo, incluindo indivíduos sem diagnóstico prévio da doença, uma observação importante já que a Covid-19 tem sido relacionada como um fator de risco para o desenvolvimento da diabetes.

Com relação aos índices de qualidade de vida, o bem-estar de 88,9% dos pacientes foi afetado, principalmente no que tange à ansiedade, depressão, dor e desconforto. Os sintomas residuais mais frequentes foram falta de ar (67,8%), fadiga (63,4%), perda de memória (54,5%), insônia (52,7%) e dor no peito (42,8%). Os cientistas perceberam que os sintomas manifestados se apresentaram independente da gravidade do quadro de Covid-19 desenvolvido pelo paciente. 

Mulheres apresentaram maior queixa de sintomas de fadiga e dor de cabeça. As pacientes que desenvolveram casos moderados e severos na fase aguda da infecção apresentaram maior proporção de sintomas envolvendo dor (muscular, de cabeça e no peito), do que homens. No entanto, não foram observadas maiores diferenças nos sintomas da Covid-19 longa entre grupos étnicos/raciais daqueles já constatados em estudos realizados na Ásia ou em populações brancas.  

Também foram analisados parâmetros laboratoriais, como taxas de glicemia, de hemoglobina (HbA1c), ureia, creatinina, entre outros. Apesar da medição de HbA1c ter sido realizada em apenas parte dos pacientes selecionados (664), o total de 64,1% destes exibiram níveis alterados de HbA1c, o que indica o diagnóstico da diabetes mellitus. Como 40% dos pacientes afirmam não ter recebido diagnóstico prévio da doença, os pesquisadores especularam que a alteração na HbA1c pode apontar para uma possível relação entre a infecção da Covid-19 e disfunções metabólicas. No entanto, salientam que pode ser consequência de não detecção prévia da diabetes.

Outro dado importante foi o entendimento de que a apresentação do quadro clínico da Covid-19 longa variou de acordo com o período pandêmico. Disfunções no paladar e olfato foram detectados mais frequentemente durante a circulação da variante ancestral do coronavírus do que durante o período de circulação das variantes Gamma e da Delta.

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