Pesquisador avalia complicações renais provocadas pela Covid-19

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Os rins podem ser afetados pelo SARS-CoV-2 de maneira direta e indireta, explica o pesquisador da Fiocruz Bahia, Washington dos Santos.

A Covid-19 é considerada uma doença sistêmica que atinge diversos órgãos, além das vias respiratórias. Alguns estudos têm apontado os rins como uns dos órgãos mais afetados na infecção pelo SARS-CoV-2. O médico e pesquisador da Fiocruz Bahia, Washington dos Santos, explica que, pacientes que tiveram complicações renais por conta da Covid-19 precisam de permanência na UTI mais frequentemente do que outros pacientes. “O risco de morte chega a ser cinco vezes maior do que o observado em indivíduos que não tiveram alteração na função renal”, conta o cientista.

Por ser uma doença recente, ainda não se sabe qual a extensão da lesão renal causada pelo vírus e tampouco está claro se haverá danos aos rins a longo prazo. “Presume-se que teremos pacientes com danos de longa duração, mas ainda é cedo para dizer”, comenta o pesquisador. De acordo com Santos, a comunidade de profissionais de saúde está atenta para possibilidade de existir pessoas com sequelas renais não só durante, mas também após a pandemia. 

A principal alteração que os pacientes com Covid-19 manifestam clinicamente é a insuficiência renal aguda, que decorre de uma lesão das células do túbulo renal. Felizmente, essa lesão é reversível em uma quantidade grande de casos e espera-se que boa parte desses pacientes tenham recuperação completa dos rins. Existem algumas outras lesões que são mais preocupantes, como a obstrução vascular que retarda a circulação geral do órgão, podendo levar a um estado de hipóxia permanente ou prolongado, que é a ausência de oxigênio suficiente nos tecidos para manter as funções corporais. Já nesse quadro o rim pode ser lesado permanentemente. 

Como o vírus atinge os rins?

As células renais têm receptores para o coronavírus semelhantes àqueles que existem nas células do pulmão, possibilitando a infecção. O órgão também pode ser afetado indiretamente pelo SARS-CoV-2 de diversas maneiras. Uma delas é que os pacientes com Covid-19 têm excesso de substâncias que células inflamatórias do sangue utilizam para se comunicar, que terminam causando lesões às células renais. Outra forma de dano pode ser causado pelo próprio tratamento da doença: o rim é muito sensível à tempos prolongados de ventilação mecânica e ao uso de muitos medicamentos. 

Além disso, o vírus da Covid-19 lesiona órgãos como pele e músculo. Quando isso acontece é liberada uma substância denominada mioglobina, que tem função de acumular oxigênio nas células musculares para a produção de energia necessária à contração muscular. “Essa substância termina sendo filtrada no rim e lesionando células tubulares renais, levando à insuficiência renal”, explica Washington. Outro problema que tem sido relatado na infecção pelo SARS-CoV-2 é a coagulação intravascular disseminada, que é quando microcoágulos se formam nos pequenos vasos sanguíneos. Os tecidos ficam menos oxigenados e o rim é ainda mais sensível a essa alteração por lidar com a filtração sanguínea.

Existe também o processo de empilhamento de células vermelhas no interior de pequenos vasos em alguns casos da Covid-19, que também pode retardar a circulação sanguínea e, como o rim é um órgão que filtra aproximadamente 180 litros de sangue por dia, tem sua função afetada por essa alteração. “Qualquer processo que obstrua e retarde a circulação do sangue vai levar a alteração da função renal e lesar irreversivelmente”, comenta o pesquisador. 

Problemas renais crônicos

No caso de pessoas com algum tipo de problema no rim anterior à infecção por Covid-19, como pacientes com insuficiência renal crônica, que realizaram transplante desse órgão ou vivem apenas com um rim, Washington diz que é preciso ter um cuidado redobrado para evitar ao máximo se contaminar pelo coronavírus. 

Os pacientes que estão em diálise, considerados com insuficiência renal crônica terminal, ao contrair a Covid-19 têm uma tendência a ter síndrome respiratória aguda mais frequentemente do que a população geral, mas o desfecho da doença não é diferente. “Eles têm a mesma taxa de recuperação que os outros pacientes, o que é uma boa notícia”, observa o pesquisador.

No caso de pessoas transplantadas, a taxa de mortalidade é maior do que a população em geral, então é recomendado a esses pacientes um cuidado maior, cumprindo as medidas de proteção. Ainda não existem muitos dados sobre pacientes com apenas um rim, mas os especialistas da área recomendam que estes também tenham mais cuidado. 

 

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