Pesquisa testa proteínas quiméricas para avaliar cura da doença de Chagas após tratamento

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O declínio dos títulos de anticorpos específicos para o Trypanosoma cruzi, em pacientes com diagnóstico de doença de Chagas crônica que fizeram tratamento, foi avaliado em estudo, utilizando proteínas quiméricas. A pesquisa, de coorte transversal prospectiva entre os anos de 2000 e 2004, envolveu participantes com diagnóstico positivo para T. cruzi, da região de Añatuya, na Argentina, e que foram tratados com benznidazol. O trabalho foi realizado pela estudante de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa, Tycha Bianca Sabaini Pavan, e coordenado pelo pesquisador Fred Luciano Neves Santos, da Fiocruz Bahia.

A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido por diversas vias, como os vetores triatomíneos (insetos infectados), o consumo de alimentos e bebidas contaminadas, de mãe para filho, transfusões de sangue, transplantes de órgãos e, menos comumente, acidentes laboratoriais. O seu tratamento pode ser feito com dois medicamentos: benznidazol e nifurtimox.

Algumas lacunas dificultam o progresso na erradicação da doença. Uma delas é a inexistência de um teste que possa avaliar com eficiência a cura após o tratamento. Atualmente, o declínio de anticorpos contra o T. cruzi é avaliado com testes sorológicos convencionais, que podem levar anos. Por isso, a procura de novos marcadores de cura se faz necessária.

A pesquisa contou com amostras de soro de dez pacientes coletadas antes do tratamento (dia zero) e após o término do tratamento (2, 3, 6, 12, 24 e 36 meses). Para a detecção de anticorpos anti-T. cruzi, foi utilizado o método ELISA indireto, com duas proteínas quiméricas recombinantes (IBMP-8.1 e IBMP-8.4) como antígenos de captura. As alterações no índice de reatividade entre os grupos antes e após o tratamento foram avaliadas pelo teste de Friedman.

Nos resultados, foi observada uma diminuição nos títulos de anticorpos séricos dos participantes após o tratamento com benznidazol, especialmente IBMP-8.1. Porém, devido ao pequeno número de amostras e ao curto período de acompanhamento, os pesquisadores avaliaram que é prematuro concluir que esta molécula sirva como critério para determinar uma cura sustentada. Além disso, os resultados apontam a necessidade de mais estudos para validar testes baseados nesses ou em outros biomarcadores para demonstrar a cura parasitológica.

Os pesquisadores avaliam que os resultados encontrados podem ser um ponto de partida interessante para investigações adicionais comparando o comportamento pós-tratamento com diferentes tipos de antígenos quiméricos e diferentes composições de epítopos. Mais estudos com maior período de acompanhamento são necessários para confirmar a hipótese de que o IBMP-8.1 e o IBMP-8.4 podem ser úteis para verificar uma redução de sinal nos títulos séricos e, portanto, podem ser usados como critério de cura pós-terapêutica na doença de Chagas crônica.

O trabalho completo pode ser encontrado no periódico Folia Parasitologica.

Reportagem: Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins.

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