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Na noite do último domingo, dia 10/09, ocorreu a abertura do 58º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), o Medtrop 2023. O evento reúne, até o dia 13 de setembro, associados, autoridades, pesquisadores e estudantes no Centro de Convenções de Salvador. O Medtrop 2023, presidido pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Mitermayer Galvão dos Reis, tem como tema “Desafios para Medicina Tropical no Século XXI: Como enfrentá-los?”. A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, pesquisadores e estudantes da instituição estiveram presentes na cerimônia de abertura e participam da programação.
A solenidade foi marcada pela leitura da Carta Aberta do 8º Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas, uma das três Reuniões Satélites que ocorrem em paralelo ao congresso. A carta foi lida pela presidente da Associação de Chagas da Bahia (ACHABA), Amélia Bispo, demandando das autoridades e pesquisadores presentes ações para a prevenção, tratamento e assistência aos portadores de doenças negligenciadas, como HTLV, doença de Chagas e hanseníase.
Representando a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, o evento contou com a participação da Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS), Ethel Maciel. Nísia não pode estar presente no congresso por conta do ciclone que devastou a região do sul do Brasil na última semana e a fala de Ethel destacou os novos desafios que a saúde enfrenta com as mudanças climáticas, que acrescentam aos costumeiros já enfrentados, envolvendo doenças infecciosas, negligenciadas e crônicas. “Quando o primeiro momento da emergência climática passa, muitas doenças, principalmente as tropicais, assolam a população que já estava sofrendo. Nossas políticas públicas precisam ser diferentes com esses novos desafios”, destacou a secretária.
O Vice-Presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS) da Fiocruz representou o presidente da instituição, Mário Moreira, e considerou a manifestação do fórum de doenças negligenciadas como “dever de casa” para os ali presentes, identificando algumas iniciativas importantes que a Fiocruz já desenvolve e apoia. “Essas iniciativas fazem parte de um esforço da instituição, mesmo durante um período de dificuldade e desmonte do sistema de financiamento da ciência e tecnologia do país, então saímos daqui vendo o que a gente pode melhorar e para quem a gente pode fazer mais”.
Já o Diretor Científico do CNPq, Olival Freire Júnior, falou da importância de entender o sistema brasileiro de apoio à ciência e tecnologia como não pertencente a um único ministério, um dos pilares desse sistema sendo a aliança entre Ministério da Saúde e Ministério da Ciência e Tecnologia. “Nunca trabalhamos tanto como agora, com os convênios que o Ministério da Saúde tem realizado conosco desde o início do ano”.
Além do presidente da SBMT, Julio Croda, e do presidente do evento Mitermayer Galvão, também participaram da abertura Socorro Grass, representante da Organização Pan-americana da Saúde no Brasil (OPAS Brasil); Carlos Gadelha, Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (Ministério da Saúde); Nésio Fernandes, Secretário de Atenção Primária à Saúde (Ministério da Saúde), Ceuci Nunes, presidente da Bahiafarma; a deputada estadual Fabíola Mansur, representando a Assembleia Legislativa da Bahia; Antônio Lopes, representando a Universidade Federal da Bahia; o médico Roberto Badaró, representando a Academia de Medicina da Bahia; e Alexandre Meneses, coordenador do 8º Fórum de Doenças Negligenciadas.
O evento
Considerado o maior evento do Brasil sobre medicina tropical, o MedTrop 2023 teve cerca de 3.000 inscritos e conta com mais de 600 palestrantes brasileiros e do exterior, que estão envolvidos em reuniões, cursos, mesas redondas, miniconferências, conferências e apresentações orais e de pôster. As discussões abordam temas de relevância na saúde, como as arboviroses, tuberculose, Covid-19, doença de Chagas, HTLV, esquistossomose, leishmaniose, mudanças climáticas, saúde da população negra, dentre outros.
Julio Croda comentou a participação da Fiocruz e a realização do evento na Bahia. “Nosso congresso é muito rico cientificamente. A Fiocruz está participando muito ativamente, com uma grande proporção de palestrantes, assim como alunos dos diferentes programas de pós-graduação da instituição, por conta da tradição da medicina tropical da Fundação. A nossa história está intimamente ligada à história da SBMT”, comenta o presidente da SBMT, que também é pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul. “A particularidade desse ano, que contribui para o sucesso do evento, é a Bahia. Salvador é uma cidade multicultural, multirracial, que atrai o público para discutir temas importantes”, completa.
O presidente do congresso, Mitermayer Galvão, destacou a diversidade de temas e de participantes. “As discussões vão desde questões epidemiológicas, clínicas, sociais a ambientais. Do ponto de vista macro, nós temos pessoas de todos os continentes, o que dá para gente a oportunidade de saber o que está se passando em todos esses lugares. Obviamente temos temas que são comuns como a Covid-19, mas tem patologias que são mais específicas em determinadas regiões”, pontua. Mitermayer também observa a diversidade de gênero e etária dos participantes. “São majoritariamente jovens na faixa de 20 a 30 anos, isso demonstra renovação”.
Premiações
O evento foi marcado também pela entrega de dois prêmios importantes. A Medalha do Mérito Científico Carlos Chagas, de Pesquisador Sênior da SBMT, foi entregue ao pesquisador da Fiocruz Bahia, Edgar Marcelino de Carvalho Filho, por sua produção científica na área de Medicina Tropical. Em seu agradecimento, Edgar lembrou o pesquisador Heonir de Jesus Pereira da Rocha, seu mentor em sua trajetória científica, e Carlos Chagas, por suas contribuições para a Medicina Tropical, destacando a importância das colaborações realizadas ao longo de sua carreira.
“Tão importante quanto a colaboração científica, foi a amizade que nasceu, com carinho e respeito, eu gostaria de agradecer a todos esses colaboradores e dividir com eles essa honraria a qual recebi”, comentou.
O estudante de doutorado, Matheus de Jesus, foi premiado com o 1º lugar na categoria Doutorado, por sua pesquisa que busca otimizar o uso da proteína presente na leishmania para melhorar o diagnóstico da doença no Brasil em animais. “Nesse trabalho, nós pretendemos diminuir ao máximo essa identificação cruzada na testagem e aumentar a detecção em animais sem sintomas, posteriormente testando em humanos com comorbidades e que possuem menor detecção atualmente”, explicou Matheus.
A pesquisadora da Fiocruz Bahia, Deborah Bittencourt, que orienta o estudante desde a época da Iniciação Científica, considera o momento como a coroação da sua carreira. “Um dos papéis mais importantes que a gente tem como pesquisador é na formação de recurso humano, então ver um aluno, que eu acompanho com esse projeto desde o início da carreira, conquistar esse reconhecimento, é uma emoção”, declarou a pesquisadora.
Fotos: Lucas Nour