Populações vulnerabilizadas na Bahia recebem apoio da Fiocruz contra Covid-19

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A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou uma Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais Junto a Populações Vulneráveis, com o objetivo de contribuir para a mitigação dos efeitos da pandemia de Covid-19 em locais em situação de vulnerabilidade socioambiental. No total, foram selecionados 145 projetos de organizações com reconhecida atuação, de todas as regiões brasileiras. Destes, 13 projetos foram da Bahia e estão sendo executados desde junho. 

No estado, os projetos contemplados estão localizados nas cidades de Cachoeira, Caem, Cruz das Almas, Feira de Santana, Jaguaripe, Salvador, Taperoá e Vitória da Conquista. Para cada proposta do edital, um servidor da Fundação foi designado para prestar acompanhamento técnico. Na Fiocruz Bahia, 6 assessores estão acompanhando projetos de diversos estados. 

A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, avalia que a chamada pública destacou-se em meio às ações realizadas pela instituição em relação às respostas emergenciais ao enfrentamento do SARS-CoV-2 (Covid-19). Para Marilda, esta forma de apoio e o número de populações em situação de vulnerabilidade que se candidataram ao edital refletem o quanto a pandemia expôs a situação crítica relacionada a desigualdade social existente no país. 

“Foram contempladas 13 propostas no Estado da Bahia e a resposta obtida comprova mais uma vez que a Fiocruz é uma instituição voltada para respostas importantes de saúde pública e reforça a sua missão e integridade na condução de políticas públicas ao longo dos seus 120 anos de existência”, ressaltou a diretora.

Uma das propostas selecionadas foi da Associação de Moradores de Mutá (AMMU), do município de Jaguaripe, intitulada “Uma corrente de solidariedade e união pela garantia da vida”. A organização realiza a produção e distribuição contínua de alimentos prontos e máscaras de tecido para cerca de 160 pessoas da localidade, que vivem em situação de vulnerabilidade, garantindo, assim, segurança alimentar e medidas de prevenção nesses tempos emergenciais de crise sanitária.

A AMMU tem 13 anos de atuação na comunidade, promovendo atividades voltadas para a educação, como oficinas de karatê e música, além do atendimento e acompanhamento das famílias formadas, em sua maioria, por marisqueiros e pessoas com trabalho informal. As crianças da comunidade costumavam frequentar a associação no turno oposto ao horário escolar e realizavam uma refeição por dia no local, porém, com o isolamento social e a queda na arrecadação da associação, as atividades foram suspensas. 

De acordo com a secretária da associação, Gabriela Souza, tem sido bastante gratificante realizar esse projeto em parceria com a Fiocruz e já é possível perceber os resultados positivos da ação. “Nós estamos fomentando na comunidade o espírito de solidariedade, além da questão do voluntariado também, de não apenas receber, mas também se doar para o outro”, explica Gabriela. 

A organização Casa de Barro, em Cachoeira, município do Recôncavo da Bahia, desenvolve ações nos campos da cultura, da arte e da educação com a população local, desde 2005. A proposta da entidade contemplada no edital pretende atender cerca de 2000 pessoas de comunidades ribeirinhas, rurais, quilombolas, com a doação inicial de 50 cestas básicas, mobilização para arrecadação e distribuição de novas cestas, intervenções educativas focadas na prevenção da Covid-19 e a distribuição de 300 máscaras protetivas reutilizáveis e luvas descartáveis.

A coordenadora da proposta, Luisa Mahin Nascimento, recebeu diversos depoimentos de pessoas atendidas, como é o caso de dona Anieda, que agradeceu cesta básica recebida pelo projeto: “Que o Senhor Jesus continue abençoando o projeto de vocês, obrigada por tudo”. O fornecedor das cestas básicas também comentou sobre o projeto. “Nos faz acreditar em um mundo melhor”, declarou.

Em Salvador, a Associação de Moradores do Alto do Cabrito e Adjacência (AMACA), que atua em bairros do Subúrbio Ferroviário, desenvolve atividades e projetos para a comunidade de forma contínua, como aulas de capoeira, escolinha de futebol, além de prestar atendimento social e acompanhamento das famílias. Com o apoio da chamada, a AMACA vai fornecer cestas básicas e produtos de limpeza e higiene, além de informações de educação em saúde de prevenção e controle da Covid-19, a 200 famílias em situação de extrema pobreza e que não estejam recebendo qualquer benefício do governo.

O edital

O protagonismo das organizações da sociedade civil é a marca da chamada pública, por isso as propostas contempladas partiram dos próprios atores sociais que conhecem de perto ou vivenciam os impactos desta crise sanitária, como associações, cooperativas, coletivos, entre outras formas de organizações, nos locais mais desassistidos do país. 

Populações que vivem em situação de vulnerabilidade socioambiental estão mais expostas ao risco de contrair o novo coronavírus e, no caso de adoecimento, dispõem de poucos recursos para a obtenção de um tratamento adequado. Frente aos desafios estruturais da sociedade brasileira, a Fiocruz se viu diante da urgência em apoiar ações que contribuíssem para reduzir a disseminação da Covid-19 e assegurar condições mínimas de sobrevivência para essas populações. 

Os projetos contemplados foram enquadrados nas áreas de segurança alimentar; comunicação; saúde mental; ações que favoreçam a observância das medidas preconizadas pelas autoridades sanitárias; e assistência específica a idosos, pessoas com doenças pré-existentes e com deficiências, gestantes e outros grupos de risco.

A iniciativa é coordenada pela diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio; o coordenador da Cooperação Social da Fiocruz, José Leonídio Santos, a coordenadora geral do Canal Saúde da Fiocruz, Márcia Corrêa e Castro; e o chefe de gabinete da Presidência da Fiocruz, Valcler Rangel. Conta também com a assessoria remota da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec).

Márcia reforça a importância para uma instituição de pesquisa, como a Fiocruz, realizar essa chamada pública, “pois nos dá um panorama de como a sociedade brasileira está enfrentando a pandemia e como está se organizando para dar enfrentar esse desafio”, comentou.

Segundo Leonídio, a Bahia é o quarto estado com maior número de projetos financiados nessa chamada, dos quais onze preveem ações em segurança alimentar associada a outras áreas temáticas. “Merece nosso reconhecimento a cooperação da direção da Fiocruz Bahia na sensibilização e envolvimento de profissionais para o estratégico trabalho de assessoramento sociotécnico”, acrescentou. 

Para Fabiana, a chamada tem sido fundamental para viabilizar a construção de estratégias coletivas para lidar com as principais questões decorrentes das iniquidades sociais históricas que eclodiram com a pandemia. “Os projetos da Bahia se configuram como um caminho importante de proposições diante das questões regionais. Além disso, a Fiocruz Bahia tem cumprido um papel fundamental no suporte a esses projetos para que contribuam de modo efetivo para a garantia de dignidade para as comunidades contempladas pelas diversas propostas”, afirmou.

Algumas imagens enviadas pelas coordenações dos projetos:

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