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A Fiocruz Bahia recebeu a professora e pesquisadora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Márcia Barbosa, em uma sessão científica especial para o Dia Internacional da Mulher, realizada no dia 13 de março, no Auditório Aluízio Prata.
A Vice-Diretora de Pesquisa do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia), Camila Indiani de Oliveira, começou a sessão apresentando o currículo de Márcia, mencionando prêmios como o reconhecimento da ONU Mulher como uma das cientistas que moldam o mundo e da Forbes como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil.
Com a palestra “Mulheres na Ciência: uma mulher inconveniente”, Márcia mostrou através de dados a necessidade de ter mais diversidade na ciência. Sua experiência na conquista do espaço da mulher na ciência vem desde a universidade, quando se tornou a primeira mulher presidente do Diretório Acadêmico do Instituto de Física da UFRGS durante os anos da ditadura no Brasil. Começou a pesquisar sobre a presença feminina nesta área ao ingressar no grupo de pesquisa da União Internacional de Física em 1999, quando eles perceberam que não havia tantas mulheres na física.
A partir deste grupo ela ajudou a organizar a primeira Conferência Internacional de Mulheres na Física, em 2002, reunindo mulheres do mundo inteiro, em Paris. O congresso gerou dados sobre a presença das mulheres na graduação e na pós-graduação, mostrando que havia uma queda quando chegavam ao doutorado, assim como no meio profissional.
Márcia reforçou que esse problema não é exclusivo da física, mas de todas as áreas da ciência. Essa questão também é universal: mulheres de todas as regiões do mundo sofrem ao tentar conciliar carreira com maternidade e família, uma das razões para haver essa queda nos números conforme se avança na carreira acadêmica.
Segundo a pesquisadora, no Brasil, em todas as áreas da ciência as mulheres são quase 50% da presença na graduação, nos mestrados e doutorados. Porém, os dados diminuem quando se analisa dados dos cargos como professor universitário e pesquisador, chegando a 45%. No caso dos comitês e comissões das instituições, que são cargos que ela considera “técnico-política” pois requer indicação e network para alcançar, a queda é maior ainda.
“Mesmo que a situação esteja melhorando aos poucos e estejamos conseguindo eleger mulheres para esses cargos, nosso problema ainda é de formação de redes”, disse a pesquisadora.
Quando se fala do cenário baiano, Márcia comenta o fato da Bahia ter histórico de algumas mulheres que se destacaram na ciência, diferente de outros estados da região nordeste e também do sudeste. “O motivo ainda é um pouco desconhecido, mas acredito que as dificuldades de viver no nordeste levam as mulheres daqui a ter essa vontade de ter destaque na ciência, na Bahia principalmente”, acrescentou.
Ela comentou que em conversa com a professora do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Suani Pinho, da UFBA, ela foi informada que metade das diretoras dos institutos da UFBA são mulheres, o que impressionou Márcia por não ser o caso da Universidade de São Paulo (USP) ou da Universidade de Campinas (Unicamp), por exemplo.
Universidades públicas
Em relação às universidades federais, Márcia acredita que é preciso levantar dados em primeiro lugar, para definir as políticas e conseguir avançar na equidade de gênero. É preciso verificar quantas mulheres existem nas instituições e conversar com elas, verificar se elas estão sofrendo alguma forma de assédio moral ou sexual e desenvolver políticas internas para evitar isso. Algo que leva tempo, mas a pesquisadora acredita ser necessário.
Ela sugere a criação de um Código de Ética de Relações Humanas, em que todas as relações dentro da instituição são observadas. Esse projeto já foi iniciado na UFRGS, onde foi medido o assédio moral dentro da universidade através de um questionário.
“Com isso, estamos ‘cutucando’ a universidade para criar esse código e ensinar as pessoas a se relacionarem, pois a universidade pública é um ponto chave para essa transformação porque ela vai formar as pessoas que vão para o mercado de trabalho”, acrescenta.
Uma consequência dessa transformação desde a universidade é a formação de professores que irão trabalhar na educação infantil e com adolescentes. Segundo Márcia, para mudar o cenário das escolas, onde as crianças ainda não enxergam a mulher como cientista, é preciso dar formação primeiro ao professor para que ele seja capaz de contar a história da ciência, eles incluam as histórias das mulheres nessa área.