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Uma pesquisa foi realizada para analisar as tendências temporais e as diferenças regionais na taxa de mortalidade da doença de Chagas no estado da Bahia, no período de 2008 a 2018. O estudo, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, foi coordenado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e contou com a participação do pesquisador da Fiocruz Bahia, Gilmar Ribeiro-Jr, além de especialistas da Universidade de Brasília, Universidade Federal de Goiás e Secretaria da Saúde do Estado da Bahia.
A doença de Chagas tem alta carga de mortalidade em muitos países da América Latina, como o Brasil. O trabalho revelou que, no período estudado, a mortalidade pela doença no estado foi superior à média nacional, especialmente nas regiões de saúde de Barreiras, Guanambi, Irecê, Itaberaba, Santa Maria da Vitória e Santo Antônio de Jesus, destacadas como hotspots de mortalidade. A Bahia tem a quarta maior taxa de mortalidade do país.
O trabalho analisou séries temporais de óbitos relacionados à enfermidade usando dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Brasil. Os pesquisadores compararam a taxa de mortalidade por doença de Chagas como causa primária e a menção da doença na declaração de óbito, padronizada por idade e macrorregião de saúde/município de residência.
No estudo, a taxa de mortalidade por doença de Chagas na Bahia revelou tendência estacionária, variando de 5,34 (2008) a 5,33 (2018) óbitos por 100 mil habitantes. Entretanto, as quatro macrorregiões de saúde apresentaram tendência ascendente nas taxas. Também foi observada uma tendência ascendente na taxa de mortalidade entre indivíduos com idade maior ou igual a 70 anos e maior incidência de óbito entre homens do que entre mulheres. Do total de óbitos, quase 80% tiveram a enfermidade como causa básica. Complicações cardíacas foram relatadas em cerca de 85% destes óbitos.
Apesar de uma queda na mortalidade desde 2012, houve um aumento nos últimos três anos do período analisado. Além disso, a investigação recomenda políticas públicas para monitoramento e controle da doença, com foco em regiões vulneráveis e integração de vigilância epidemiológica e entomológica, visando uma resposta regionalizada e melhoria na atenção à saúde, e subsidiando um planejamento em saúde que considere as peculiaridades do território.
A doença
A doença de Chagas é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, e transmitida por insetos triatomíneos hematófagos (conhecidos como barbeiros), por meio de alimentos ou bebidas contaminados com o parasita, além da transmissão vertical e pelo sangue. Essa condição afeta principalmente populações socialmente vulneráveis e pode levar a casos graves da doença e morte. Isso impacta os sistemas de saúde e previdência social do país.
Devido aos recursos limitados disponíveis para pesquisa, gestão, diagnóstico e tratamento, a doença de Chagas é classificada como uma doença tropical negligenciada. A taxa de mortalidade pela enfermidade é alta no Brasil, respondendo por 74,9% das mortes atribuídas a doenças tropicais negligenciadas entre 2000 e 2019
Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins.