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O Brasil dá um passo histórico no enfrentamento das desigualdades raciais em saúde.
Fruto de uma parceria do CIDACS/Fiocruz Bahia, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, foi lançado na última segunda-feira, 24 de novembro, o Boletim Saúde Quilombola no Brasil: Evidências para a Equidade, primeiro documento nacional a apresentar, em escala inédita, dados demográficos, sociais e epidemiológicos sobre a população quilombola brasileira — um retrato fundamental para compreender as desigualdades que atravessam gerações e continuam impactando vidas.
Produzido a partir da Coorte de 100 Milhões de Brasileiras e Brasileiros, o boletim analisa informações de mais de 140 milhões de pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico), com foco em cerca de 64 mil quilombolas adultas(os) acompanhadas(os) entre 2011 e 2020. Pela primeira vez, dados dessa magnitude revelam com clareza como condições de vida adversas e desigualdades estruturais moldam a saúde da população quilombola no paÃs.
Quilombolas no Brasil: resistência, identidade e desigualdades persistentes
Presentes em todas as regiões do paÃs — com maior concentração no Nordeste (60%) — os quilombolas carregam uma trajetória de resistência e afirmação identitária. No entanto, apenas 12% vivem em territórios oficialmente demarcados. As desigualdades de infraestrutura são profundas, contabilizando 55% sem acesso à água potável, 54% sem rede de esgoto, 51% sem coleta de lixo, 10% sem energia elétrica, 29% vivendo em moradias com materiais precários e 68% acessando suas casas por estradas de terra. O boletim aponta ainda que 2 em cada 10 quilombolas adultos nunca frequentaram a escola, proporção duas vezes maior que na população geral.
Panorama da saúde: evidências do impacto histórico das desigualdades
As análises evidenciam padrões de adoecimento e mortalidade marcados pelo racismo estrutural. Entre as principais causas de morte na população quilombola da região Nordeste, destacam-se causas mal definidas (42 por 100 mil — maior que na população geral), diabetes, homicÃdios, uso problemático de álcool e desnutrição.
A presença elevada de registros de doença falciforme, diarreia, desnutrição e de óbitos com causa mal definida revela tanto falhas no sistema de saúde quanto o apagamento histórico dessa população: o racismo atravessa inclusive a forma como a morte é registrada no paÃs.
Um marco para polÃticas públicas e para a equidade em saúde
Ao reunir, pela primeira vez, um conjunto amplo e robusto de informações sobre a saúde quilombola, este boletim se torna ferramenta estratégica para subsidiar gestores públicos, pesquisadores, lideranças quilombolas e a sociedade civil na construção de polÃticas mais justas, eficazes e alinhadas à s necessidades reais desses territórios.
O documento completo pode ser acessado pelo QR Code disponÃvel no material de divulgação ou diretamente no endereço virtual
por Iana Motta

