Fiocruz Bahia recebe diretor da Casa de Oswaldo Cruz

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O diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Paulo Elian, ministrou a palestra intitulada “História e Política de Memória Institucional da Fiocruz”, na Fiocruz Bahia, no dia 12 de setembro. O pesquisador abordou os desafios da preservação da memória da Fiocruz, os projetos já realizados e a política de memória da institucional.

Durante a visita, o diretor também se reuniu com a diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, profissionais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e três filhos dos pesquisadores eméritos da Fiocruz, Zilton e Sonia Andrade, para discutir os trabalhos para preservação do acervo do casal de cientistas.  

A Casa de Oswaldo Cruz é a unidade da Fiocruz dedicada à preservação da memória da Fundação e às atividades de pesquisa, ensino, documentação e divulgação da história da saúde pública e das ciências biomédicas no Brasil. De acordo com o diretor, é preciso pensar em como registrar a experiência e reter conhecimentos de gerações que estão paralisando suas atividades, chegando ao final de sua trajetória profissional na Fiocruz. “É também um reforço ao valor da ciência e contra o negacionismo histórico”, frisou.

Em 2018, o Conselho Deliberativo da Fiocruz formou uma comissão, coordenada pelo diretor, para construir um documento de política de memória da Fiocruz, que está em desenvolvimento. Paulo Elian destacou a importância da preservação da memória no contexto da diversidade coletiva da Fundação.

“A Fiocruz, que completa 120 anos no próximo ano, é formada por unidades com histórias e trajetórias muito diferentes. Um dos desafios é dar conta de uma instituição que, hoje, está presente em 10 estados e Distrito Federal, além de pensar a relação da Fiocruz com a sociedade e os territórios onde ela está inserida, pois são muito diversos”, observou.

A diretora da Fiocruz Bahia considerou a visita de Paulo Elian de suma importância, pois a instituição deve estar atenta ao tratamento que planeja dar aos acervos institucionais advindos do trabalho realizado cotidianamente pelos pesquisadores. “É a certeza de que as gerações de pesquisadores que estão iniciando na instituição saibam do valor do trabalho até agora realizado e de que suas trajetórias profissionais deverão ser sempre lembradas, pois sempre haverá um passado e um futuro”, disse Marilda Gonçalves.

Na apresentação, a memória institucional foi definida como um recurso capaz de promover a construção de identidade, reforçar laços de pertencimento, ativar projetos coletivos e responder a questões do presente. Para o diretor da COC, as ações de memória são uma oportunidade para que instituições possam refletir e pensar criticamente sobre a sua própria trajetória.

“É também uma iniciativa voltada a democratização do conhecimento. Os acervos, aquilo que nós produzirmos em torno da nossa trajetória, devem estar sempre a serviço do acesso para a sociedade. É acionar o passado para enfrentar os desafios do presente”, comentou.

Diversas iniciativas vem sendo realizadas no âmbito nacional da Fiocruz, como a comemoração dos 100 Anos do Castelo da Fiocruz, o Projeto Oswaldo Inspira, a nova edição do livro “Massacre de Manguinhos” (Editora Fiocruz) e a indicação ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Castelo Mourisco da Fiocruz a Patrimônio Cultural da Humanidade. De acordo com Paulo Elian, medidas de incentivo também serão lançadas, como prêmio e edital de apoio a projetos de memória institucional.

Memória dos pesquisadores Zilton e Sônia Andrade

A Fiocruz Bahia, em parceria com a COC e a UFBA, está trabalhando na constituição e preservação de um acervo com documentos e materiais dos pesquisadores eméritos da instituição, Zilton e Sônia Andrade. Os cientistas têm 95 e 91 anos, respectivamente.

Os pesquisadores Zilton e Sonia Andrade, em 2009.

“Dr. Zilton e Dra Sonia dedicaram a sua trajetória profissional à difusão do conhecimento em áreas ainda consideradas negligenciadas e que acometem a nossa população, como a esquistossomose e a doença de Chagas. Construíram um patrimônio cientifico sólido, repleto de descobertas, com colaborações científicas que trouxeram ícones da pesquisa ao nosso instituto, e estão de parabéns por essa trajetória grandiosa”, declarou Marilda Gonçalves.

A diretora reconhece, no pioneirismo de Zilton e Sonia Andrade na produção de ciência e formação de recursos humanos de excelência, inclusive da grande maioria dos servidores da Fiocruz Bahia, a importância da preservação do acervo dos cientistas.

Uma reunião realizada com Marilda Gonçalves, Paulo Elian, Leide Mota (arquivista da UFBA), Ana Lúcia Albano (bibliotecária da Biblioteca Gonçalo Moniz – Faculdade de Medicina da UFBA), Ritta Maria Morais (Memorial da Faculdade de Medicina da UFBA) e os filhos do casal de pesquisadores, Marusia, Carlos Eduardo e Ivan Huol, foi realizada para conversar sobre os materiais e os locais onde os acervos ficarão abrigados.

O tratamento inicial do material está sendo realizado por Leide Mota, que está identificando os documentos e acondicionando-os em caixas adequadas. De acordo com a presidente da Associação dos Arquivistas da Bahia, o casal de pesquisadores tem, na Fiocruz, diversos materiais biológicos, documentos textuais, correspondências, microfotografias de laminas, até disquetes e objetos de laboratório. O próximo passo será tratar os documentos e descrevê-los.

“Os pesquisadores Zilton e Sônia Andrade foram formadores de gerações de pesquisadores, de uma prática científica que se materializou num programa de pós-graduação. Além disso, eles tiveram um papel importante da construção do instituto; mantiveram-se atuantes durante muito tempo e guardaram um acervo enorme, o que não é comum”, afirmou Paulo Elian.

Conheça um pouco dos pesquisadores:

Zilton de Araújo Andrade – Formado em Medicina em 1950, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde alcançou o posto de professor titular em 1974 e o título de Professor Emérito em 1985. Detentor de outros títulos, o pesquisador é membro da Academia de Medicina da Bahia, desde 1985, sócio Emérito da Sociedade Brasileira de Patologia (1995). Entre as condecorações mais importantes estão a de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico – Presidência da República do Brasil (1995) e Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico – Presidente da República do Brasil (2005).

É Membro da Academia Brasileira de Ciências. Na Fiocruz Bahia, foi diretor e pesquisador titular, onde trabalhou intensamente na construção da Fiocruz Bahia. A unidade possui um pavilhão que leva seu nome, o qual abriga a maioria dos laboratórios da instituição. Se aposentou em 1994 e, em 2012, recebeu o título de Pesquisador Emérito da Fiocruz.

Sonia Gumes de Andrade – Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1953), doutorado em Patologia Humana pela Universidade Federal da Bahia (1986) e Pós-Doutorado pelo Institute Pasteur de Lyon (1987). Recebeu o Título de Professora Emérita da UFBA (2011) e recebeu o título de Pesquisadora Emérita da Fiocruz, em 2012. É especializada em Patologia, desenvolvendo estudos em Patologia Experimental das doenças parasitárias, com ênfase na Patologia e Imunopatologia da Doença de Chagas.

As suas linhas de pesquisa têm focalizado o papel das cepas do Trypanosoma cruzi na Patologia da Doença de Chagas Experimental, na caracterização clonal das cepas de diferentes biodemas e na resposta aos quimioterápicos. Desenvolve projetos sobre a patogenia da miocardiopatia crônica chagásica em diferentes modelos experimentais. É membro da Academia de Medicina da Bahia e sócia de várias sociedades como a de Medicina Tropical, de Patologia e de Parasitologia. Teve participação atuante como membro do Comitê Científico da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 1984 e 1986.

Veja fotos da visita:

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