Fiocruz Bahia recebe delegação do Ministério da Saúde de Angola

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O Instituto Gonçalo Moniz (IGM), sede da Fiocruz Bahia, recebeu uma delegação do Ministério da Saúde de Angola, com o objetivo de apoiar a implementação de uma política de atenção integral para pessoas com doença falciforme no país africano. O encontro foi voltado para a troca de conhecimentos científicos no tratamento dos agravos causados pela enfermidade e no atendimento humanizado aos pacientes. O grupo foi recebido pela diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, no dia 17 de abril.

A delegação foi integrada por Francisco Antônio José Domingos, Diretor Geral do Instituto Hematológico Pediátrico Dra. Victória do Espírito Santo; Eunice Cassinda Pereira Manico, Diretora Técnica do Instituto Nacional do Sangue; Suzana da Conceição Simões Trindade, diretora Nacional de Saúde Pública, do Ministério da Saúde de Angola; e por Miguel Viriato, representante do Gabinete de Intercâmbio do Ministério da Saúde de Angola. Tiago Novais, assessor da Coordenação de Sangue do Ministério da Saúde do Brasil, acompanhou a delegação.

Em novembro de 2019, foi assinado um acordo entre o Ministério da Saúde do Brasil e o governo angolano visando fortalecer o intercâmbio de conhecimento entre os países no que se refere à atenção às pessoas com doença falciforme. Por conta da paralisação das atividades motivada pela pandemia da Covid-19, a visita oficial só pôde ser realizada nesse momento. Além da Bahia, os representantes visitaram Minas Gerais e Brasília. 

Com uma trajetória no estudo da doença falciforme, Marilda Gonçalves apresentou a atuação do Laboratório de Investigação em Genética e Hematologia Translacional (LIGHT), o qual coordena, e ressaltou a atuação no estudo de biomarcadores, no uso de fármacos para o tratamento e outras terapias, no estudo de subfenótipos da doença e o desenvolvimento de recursos para a formação de profissionais da saúde.“Nós ficamos honrados com a visita da delegação de Angola e com a oportunidade que tivemos para a troca de conhecimento sobre a doença falciforme. Já trabalhamos com outros paises africanos e será muito importante estreitarmos os laços com Angola, pois o aprendizado é sempre muito inspirador”, declarou Marilda Gonçalves.

Para Francisco Domingos, Diretor Geral do Instituto Hematológico Pediátrico Dra. Victória do Espírito Santo, o encontro apontou novas possibilidades não apenas no âmbito das pesquisas em saúde, mas também em caminhos para usar a comunicação e a educação a favor da população atingida. “Esta é uma entidade de ensino e pesquisa, com uma equipe multidisciplinar que funciona muito bem”, avalia. O pesquisador afirma que espera que a Fiocruz Bahia possa auxiliar a formar os profissionais de Angola. “Por o IGM ser uma entidade que possui cursos de formação a todos os níveis, principalmente na pós-graduação, nosso desejo é que tenhamos profissionais que venham para cá, tal como ocorreu com pessoas do Benin e da Nigéria”.

O pesquisador da Fiocruz Bahia, Washington Santos, apresentou o projeto “RIMFAL: traço falciforme e doença renal na Bahia”. Para o cientista, a ocasião foi uma oportunidade de troca de informações sobre a prevalência do traço falciforme na Bahia e em Angola (onde é particularmente alta), sobre o desafio que a progressão de doenças renais representa para o Brasil e para Angola e como a colaboração estabelecida entre o Brasil e os países da África pode contribuir para o entendimento e busca de soluções para problemas em comum. “Temos muito a aprender com Angola e temos muito também a oferecer, na formação de patologistas e na realização de projetos transcontinentais”, comentou.

Programação

O dia contou com a apresentação das pesquisas desenvolvidas sobre a doença falciforme no âmbito de instituições baianas. O professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Vitor Antônio Fortuna apresentou à delegação o projeto de pesquisa que desenvolve voltado para a aplicação de terapia fotodinâmica aplicada no tratamento de úlceras falciformes. A pesquisa coordenada pelo professor utiliza a técnica que consiste na aplicação de um elemento fotossensível junto com luz para tratar as úlceras que podem acometer indivíduos com a doença. A possibilidade de avanço da pesquisa e de implementação do tratamento animou os presentes.

“Nós pensamos em um contexto de colaboração internacional futura, com a possibilidade de um quinto encontro. Nós poderemos partilhar conhecimentos, recursos e tecnologias entre os países envolvidos”, avalia o professor. “A doença falciforme é uma doença genética que afeta principalmente pessoas de origem africana. Uma colaboração entre os países africanos é extremamente benéfica para que possamos desenvolver estratégias de tratamento”.

O coordenador geral da Associação Baiana de Pessoas com Doença Falciforme (ABDFAL), André Gomes, espera que os resultados alcançados nas pesquisas desenvolvidas possam promover mudanças significativas na atenção da saúde. “As apresentações que foram realizadas evidenciaram resultados importantes frente a realidade desses indivíduos. Essa colaboração entre a delegação de Angola e Brasil, mais especificamente a Bahia que é o estado brasileiro com mais casos de doença falciforme, nos mostrou que a Bahia continua produzindo ciência ao ponto de contribuir efetivamente nos cuidados integrais das pessoas”, avalia.

Houve ainda o compartilhamento de outras experiências envolvendo projetos de educação, divulgação e pesquisa voltados para pessoas com doença falciforme. Para tanto, a reunião contou com a presença de Antônio Brotas, coordenador da Gestão de Comunicação e Divulgação Científica da Fiocruz Bahia; Isa Menezes Lyra, pesquisadora colaboradora da Fiocruz Bahia e professora titular da UNIFACS; Elisângela Adorno, pesquisadora da Faculdade de Farmácia da UFBA; Thassila Pitanga, professora e pesquisadora da Universidade Católica de Salvador (UCSAL); Sânzio Santana, também professor da UCSAL; Cynara Barbosa, professora da Faculdade de Farmácia da UFBA; e Silvia Ribeiro, professora da Faculdade de Enfermagem da UFBA. O encontro contou com a participação de Setondji Modeste, pós-doutorando do LIGHT, que desenvolveu o mestrado e doutorado no IGM em decorrência de um intercâmbio com o país africano de Benin.

Fotos: Caique Fialho

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