Fiocruz Bahia participa de fórum internacional de tecnologia e inovação social

Getting your Trinity Audio player ready...

Nos dias 19 a 21 de julho, o I Fórum Internacional de Tecnologia e Inovação Social para as Pessoas e o Planeta, que aconteceu em Salvador, contou com a participação da Fiocruz Bahia. O evento teve como objetivo debater, principalmente, tecnologia e inovação social no âmbito das iniciativas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). A organização é da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), do Atlantic International Research Centre (Air Centre), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura no Brasil (FAO Brasil), com patrocínio da Fundação de Apoio à Fiocruz (Fiotec). O encontro reuniu cerca de 300 pessoas presencialmente e 500 online.

A abertura do evento contou com a apresentação musical do Quinteto de Cordas da Orquestra Sinfônica Juvenil (Neojiba), seguida da mesa composta representantes das instituições organizadoras e parceiras. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, falou sobre esperança em perspectivas diversas, a partir da academia, de movimentos sociais, da sociedade civil. “Falamos na mesa de pobreza, fome, desigualdades, mudanças climáticas, guerra, falamos sobretudo de cenários de insegurança frente ao alcance dos ODS e incertezas. Mas ao mesmo tempo falamos de resiliência, aliança para construção de agenda positiva em torno dos ODS, sustentabilidade, diplomacia da ciência e da saúde, cooperação em prol da agenda 2030, juventude, movimentos sociais, aprendizados. Falamos, portanto, de esperança”, comentou.

“Estamos reunidos aqui por um sentimento de urgência que sentimos com enfrentamento de uma crise planetária, um modelo de desenvolvimento iníquo, que se agravou com a pandemia e a guerra. Precisamos dar um salto para aquilo que nós nos colocamos como necessidade, a de construir ecologia de saberes, processos compartilhados de desenho e implementação de ações, a de inovar de maneira radical a maneira como se estabelece relação entre governos e movimentos sociais, em um nível nacional e global”, disse Paulo Gadelha, coordenador da EFA 2030 e do evento.

A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, salientou a importância do evento, que tem como um dos objetivos criar uma rede dinâmica e participativa com diferentes instituições nacionais e internacionais visando priorizar a tecnologia social e inovação como elemento fundamental para implantar a Agenda 2030 e os ODS. “As discussões foram direcionadas para o marco conceitual de tecnologia social, água, clima e segurança alimentar e nutricional, com a apresentação de iniciativas bem sucedidas, além de uma discussão fundamental sobre os principais problemas que a população global tem passado e que foram agravados com a pandemia da COVID-19, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a inflação, com o aumento das desigualdades sociais, principalmente da fome e da pobreza”.

Tecnologias e inovações sociais para a saúde 

No primeiro dia, Nísia Trindade ministrou a palestra intitulada “Tecnologia social, saúde e inovação: é possível falar em revolução democrática?”, moderada pela diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves, com comentários de Xiaolan Fu, do Centro de Tecnologia e Gestão para o Desenvolvimento da Universidade de Oxford, Adélia Maria Carvalho, secretária de Saúde da Bahia, e Naomar de Almeida Filho, da UFBA. 

“Como transformar isso em potência democrática? As várias experiências reveladas trazem a questão de escala, como sair de um território específico, como transformar muitas ações em políticas públicas?”, questionou a presidente. “São perguntas que permanecerão, sem pretensão de respondê-las”. Nísia também apontou para a existência de uma grande potência, nos meios urbano e rural. “Mudança não vem da noite para o dia, existe tradição, mas existe também recriação que nos faz pensar diferente alguns problemas, na relação da academia e das políticas públicas com movimentos sociais e lideranças indígenas. Não sei se há revolução, mas há potência democrática em curso. A trajetória, mais que ascendente, precisa ser constante para que potência possa, de fato, significar uma revolução democrática”.

Na última mesa do dia, com o tema “Exemplos de tecnologia e inovações sociais para a Saúde”, foi debatido como instituições acadêmicas e da sociedade civil podem atuar para desenvolver ferramentas, ações e estudos em prol da saúde pública.  Entre os participantes estavam o presidente da Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu, Raimundo Nonato da Silva; a diretora fundadora da Redes da Maré, Eliana Sousa Silva; o coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Mauricio Barreto; e o administrador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, de Portugal, Rui Oliveira. A coordenação foi do chefe de Gabinete da Presidência da Fiocruz, Valcler Fernandes. 

Barreto apontou como “usar bem os dados que a sociedade produz” pode gerar conhecimento científico inovador, como ocorreu com o projeto Coorte de 100 Milhões de Brasileiros, no qual a análise de dados utilizados pela administração pública, como as informações do Cadastro Único e o Sistema de Mortalidade, identificou, por exemplo, que a mortalidade em crianças menores de 5 anos nascidas de mãe indígena é três vezes maior do que os de uma mãe branca. O primeiro dia do fórum contou ainda com palestras, apresentação de conceitos sobre tecnologia social e, ao fim do dia, um momento para discussões finais.  

Segurança alimentar e nutricional

A diretora da Fiocruz Bahia coordenou a última mesa do evento, com o tema “Exemplos  de tecnologias e inovações sociais para a Segurança Alimentar e Nutricional”, composta pelos palestrantes Ananias Viana, do Turismo Étnico Comunitário Rota da Liberade; Denise Cardoso, presidente da Cooperatica Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Ana Paula Perles, do Programa Cozinhas Solidárias; Milton Barbosa, Superintendente de Economia Solidária e Cooperativismo da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia; e Veerle Vandeweerd, cofundadora do Global Sustainable Technology and Innovation Conference Series (G-STIC).

Marilda falou da importância das políticas públicas e apresentou dados do relatório de junho da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL/ONU), com previsões econômicas para a América Latina, no qual consta que oito milhões de pessoas passarão a viver em situação de insegurança alimentar. Falar de segurança alimentar, hoje, no nosso país, é muito importante e uma obrigação de todos nós. Temos um desafio enorme, aqui na Bahia e, eu tenho certeza, que em todo o Brasil as mulheres negras foram o grupo que foi mais atingido”.

O modelo de turismo comunitário desenvolvido em comunidades do município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, denominado de Rota da Liberdade, foi abordado por Ananias. “O turismo comunitário foi pensado com as organizações e conselheiros das  próprias comunidades, para desenvolver um novo modelo não só do turismo, mas também de todas outras produções que tem dentro das comunidades. E o turismo é o carro-chefe para carregar todas essas produções”.

Denise comentou sobre o modelo de inclusão e fortalecimento do cooperativismo e da lógica de sustentabilidade. “A Coopercuc é o resultado da convivência com o semiárido, seca não se combate se convive, e a gente mostra que é possível conviver com o semiárido”, afirmou. “A gente traz a valorização do bioma caatinga, desde o produto na prateleira até a relação com o cooperado, promovendo o empoderamento feminino”. 

Ana Paula apresentou o Programa Cozinhas Solidárias, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que atende pessoas em condição de insegurança alimentar. “Além de entregar alimento, a gente tem desenvolvido parcerias com advogados, então tem atendimento para as pessoas que estão na fila, de saúde, reforço escolar, enfim diversas atividades que acontecem ali, que conseguem deslocar essa essa comunidade não só em torno da alimentação, mas também em torno da sua própria cultura. Ali as pessoas podem se reunir, debater, a gente tem o próprio Jornal da Cozinha Solidária”. 

As conclusões e o encerramento do dia foram realizadas por Marilda Gonçalves e Patrícia Jaime, da Universidade de São Paulo (USP). No final do encontro, houve a cerimônia de encerramento, em que participaram da mesa Paulo Gadelha, Olivia Cordeiro e a coordenadora da Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde do Estado da Bahia, Rívia Barros. Gadelha leu a Carta da Bahia, assim intitulada pela diversidade do estado, das contribuições durante o evento tanto de agentes públicos, como dos movimentos sociais e comunitários. O evento foi encerrado com a apresentação de Amadeu Alves e as Morenas de Itapoã.

*Com informações do Portal Fiocruz.

twitterFacebookmail