Fiocruz Bahia participa de consórcio internacional de pesquisa em tuberculose

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A última reunião do Report ocorreu na China.

A Pesquisa Regional Prospectiva e Observacional em Tuberculose (RePORT) é uma rede global de pesquisa em diversos países, como Índia, Brasil, Indonésia, África do Sul, China, Filipinas e Estados Unidos, que dedica-se ao estudo colaborativo sobre tuberculose. A primeira reunião do RePORT Internacional ocorreu em Boston, nos Estados Unidos, em setembro de 2015. O intuito do encontro foi apresentar os primeiros resultados nas áreas pertinentes de tuberculose para o RePORT e encorajar colaborações entre os grupos e outros investigadores.

O pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno de Bezerril Andrade, lidera um dos grupos de pesquisa e participa do segmento do estudo envolvendo a interação entre tuberculose e diabetes, que analisa como a origem do aumento do risco de adquirir tuberculose ativa em pessoas com diabetes é multifatorial.

Integrantes do projeto no Brasil se encontraram, em outubro deste ano, em Salvador, com o objetivo de mostrar os avanços nas pesquisas realizados nos locais que o RePORT trabalha. Atualmente, são mais de 1000 participantes com tuberculose ativa e 1320 contatos domiciliares, os quais contribuíram com sangue, escarro e urina para o biorrepositório do RePORT no país. 

A reunião do RePORT Internacional com investigadores de todos os consórcios ocorre uma vez ao ano. A última reunião, realizada em setembro de 2018, na China, não só destacou numerosos avanços em múltiplos aspectos da pesquisa sobre tuberculose nos últimos anos, mas também expôs as lacunas de conhecimento e oportunidades para estudos mais aprofundados usando a plataforma do RePORT.

Freezers do biorrepositório.

A infraestrutura oferece oportunidades para identificar e implementar abordagens científicas inovadoras tanto de investigadores já bem estabelecidos, quanto de jovens cientistas da área. A experiência do consórcio já produziu diversos artigos, publicados em periódicos internacionais.

No Consórcio Internacional do RePORT foi criado o Protocolo Comum, um estudo observacional que registra indivíduos com tuberculose ativa ou latente nos países envolvidos. O protocolo inclui coleta de informações clínicas e estabelecimento de um biorrepositório para sangue, escarro, urina e amostra de saliva para potenciais colaborações nacionais e internacionais.

O biorrepositório é composto de uma sala com dimensão 26 metros quadrados com fornecimento de energia capaz de garantir o funcionamento dos equipamentos com refrigeração abaixo de 80 graus negativos (freezer e tanques de nitrogênio líquido) e um gerador de energia pronto para ser acionado em caso de queda ou oscilação de energia do fornecedor oficial da cidade de Salvador. Recentemente, este repositório recebeu acreditação internacional e é considerado uma referência de excelência pelo National Institutes of Health (NIH).

Seu principal objetivo é fornecer amostras e conectar dados clínicos para pesquisadores e seus colaboradores, com intuito de descobrir biomarcadores que caracterizam risco de falha no tratamento ou recorrência de tuberculose, assim como progresso da tuberculose latente até sua forma ativa. O Protocolo Comum dará também suporte a pesquisas focadas no melhor entendimento da doença e prognóstico, assim como em validação de testes diagnósticos utilizando as amostras armazenadas e os dados clínicos relacionados.

Pesquisa Tuberculose-Diabetes

Reunião realizada em Salvador.

Um dos focos da pesquisa no Brasil se empenha em estudar a comorbidade tuberculose-diabetes tipo 2, em estreita colaboração do grupo liderado por Bruno Andrade com os investigadores do RePORT na Índia.

Globalmente, 15% dos casos de tuberculose são estimados como sendo atribuíveis ao diabetes. O número de pessoas em todo o mundo com diabetes deve aumentar substancialmente nos próximos 20 anos, com o maior aumento nos países onde a tuberculose já é endêmica, como o Brasil, a Índia, a China e a África do Sul. O crescimento de diabetes prevalece sendo um desafio para o controle clínico da tuberculose, uma vez que é associada com o alto risco de efeitos adversos e recaídas após o início do tratamento.

Os estudos identificaram anormalidades específicas de citocinas em pessoas com diabetes e pré-diabetes que, provavelmente, contribuem tanto para casos de tuberculose latente como para a doença ativa. Entendendo a interação tuberculose-diabetes e seu impacto no sistema imunológico, os resultados ajudarão a melhorar o controle clínico dos pacientes com ambas as doenças e ter um impacto positivo na saúde pública. As novas evidências mostram que os mediadores lipídicos, como os eicosanóides, moléculas que interceptam processos imunológicos e inflamatórios nos tecidos dos organismo, desempenham papéis importantes na tuberculose e diabetes em ambientes experimentais e clínicos.

A publicação mais recente da pesquisa feita pelo pesquisador da Fiocruz Bahia é sobre um estudo relacionado ao papel das variações nas sequências do DNA na infecção latente por tuberculose e a progressão para tuberculose ativa que não é totalmente compreendida. O estudo fornece fortes evidências de associações entre polimorfismos em genes imunes inatos e o risco de infecção por Mycobacterium tuberculosis e desenvolvimento de tuberculose ativa no Brasil.

Diversas colaborações

Existem outras pesquisas feitas em colaboração entre Brasil e os outros países envolvidos no RePORT. Um desses projeto é o “Rumo a um biomarcador global de tuberculose: comparação de pequenas assinaturas transcriptômicas para prever, diagnosticar e monitorar a doença da tuberculose”, que testa o desempenho diagnóstico da assinatura dos seis genes em parceria com a Universidade da Cidade do Cabo.

A Universidade de São Paulo também utiliza a plataforma do RePORT para realizar um projeto que mapeia a localização de pacientes com tuberculose. Esse mapeamento serve para detectar pontos críticos de transmissão, através da geolocalização (GPS) em seus celulares, coletando dados não só dos pacientes, como também das pessoas do seu convívio.

Já em parceria com a Universidade de Boston, serão acompanhados 100 pacientes no Brasil e 300 na Índia durante 24 meses de tratamento de tuberculose e 12 meses após o encerramento da terapia antituberculose multidroga resistente. O estudo pretende avaliar a influência da concentração de drogas, mutações de DNA, influência da infecção pelo HIV, o tempo em que mutações de resistência podem ser detectadas durante o tratamento. Os pacientes receberão a terapia para tuberculose multidroga resistente preconizada pelos programas de controle da tuberculose brasileiro e indiano.

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