Fiocruz Bahia lamenta falecimento da Pesquisadora Emérita Sonia Andrade

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A Fiocruz Bahia lamenta profundamente o falecimento da Pesquisadora Emérita da Fiocruz, Sonia Gumes Andrade, na manhã desta terça-feira (11/10). A cientista foi uma das mais conceituadas do Brasil, por suas contribuições para a pesquisa experimental sobre a doença de Chagas.

Cientista, professora e médica, ela construiu uma família com seis filhos, frutos de seu casamento com o Pesquisador Emérito da Fiocruz, Zilton de Araújo Andrade, falecido em 2020. A pesquisadora estudou a Patologia e a Imunopatologia da doença de Chagas, tendo realizado uma proposição original de classificação das cepas do protozoário da enfermidade. Ela também investigou a interação da doença com diferentes tratamentos quimioterápicos. 

Na Fiocruz Bahia, a cientista foi chefe do Laboratório de Chagas Experimental, Autoimunidade e Imunologia Celular (Lacei), e esteve à frente da coordenação do curso de Pós-graduação em Patologia Humana e Experimental (PgPAT), da UFBA em Ampla Associação com a Fiocruz Bahia, durante 20 anos, tornando-o um dos mais importantes do país.

“Dra. Sonia foi uma pioneira. Ela tinha uma receptividade muito grande com outras mulheres, um olhar especial de estímulo para a carreira das pesquisadoras”, declara a diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves. “Dra. Sonia foi uma figura feminina forte dentro do nosso instituto. Eu acho que isso contribuiu muito para o sucesso dela na carreira, porque era um momento difícil para a mulher”, conta Marilda.

O pesquisador Manoel Barral Netto, da Fiocruz Bahia, considera a professora como uma cientista que teve forte contribuição para a comunidade científica na Bahia e no Brasil, na compreensão da doença de Chagas, tanto do ponto de vista dos parasitas, quanto dos mecanismos de lesão. “Meu reconhecimento ao trabalho da professora Sonia se associa também a um sentimento pessoal de gratidão, porque foi com ela que eu comecei a trabalhar em iniciação científica, quando era estudante de medicina, no tema da doença de Chagas. Eu comecei a fazer ciência com ela. Para mim, é uma mistura de emoções que torna mais dolorosa ainda essa notícia”, relata Barral.

Aluno, colega e colaborador em trabalhos de pesquisa de Sonia, o pesquisador da Fiocruz Bahia Mitermayer Galvão dos Reis afirma que a convivência com ela foi um “privilégio”. “Sonia Andrade é um grande exemplo de médica, profissional, patologista, pesquisadora e cidadã”, declara  Mitermayer. O professor destaca que um dos pontos mais marcantes da atuação dela foi a pesquisa realizada “com muito compromisso social e preocupação em gerar uma ciência que contribuísse, principalmente, com as classes menos favorecidas”. Mitermayer Galvão foi um dos primeiros alunos de doutorado formados pelo PgPAT. Ele recorda a seriedade, a firmeza e a generosidade que destacavam a didática da docente em sala de aula. “Se o curso está nesse estágio de excelência é porque teve a mão firme da professora Sonia”, considera.

O professor e pesquisador colaborador da Fiocruz Bahia Luiz Antonio Freitas também foi aluno de Sonia. Ele destaca o pioneirismo dela na pesquisa de Chagas, assim como o papel que teve na garantia de qualidade do curso de pós-graduação. “A Dra. Sonia era uma figura humana bastante admirável. Ela sempre se pautou por uma conduta muito ética, correta, com uma atitude justa e receptiva. Tinha atitudes muito firmes, mas era também uma pessoa generosa. Essas são características fundamentais e todas devem ser enaltecidas, essa completude de uma pessoa que é considerada na ciência brasileira uma das figuras mais eminentes”, reitera o professor Freitas. “Essa é uma perda muito grande e Sonia vai permanecer na lembrança daqueles que conviveram com ela”, completa.

Nascida em Caetité (BA), em 1928, Sonia Andrade obteve em 1953 a graduação na Faculdade de Medicina da UFBA. Iniciou suas explorações científicas na área de Medicina Tropical, consagrando-se na pesquisa sobre Chagas, mas tendo também estudado a leishmaniose e outras doenças parasitárias. Foi integrante da Academia de Medicina da Bahia, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e do Comitê Científico da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A pesquisadora deixa o legado de 124 artigos publicados e as homenagens rendidas através da concessão do Prêmio e Medalha Samuel Pessoa da Sociedade Brasileira de Patologia, em 1987; da Medalha do Centenário do Instituto Oswaldo Cruz, no ano 2000; diploma de Honra ao Mérito pelos serviços prestados a saúde pública e a ciência da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, em 2008; e a medalha do Centenário da descoberta da Doença de Chagas, em 2009. Em reconhecimento ao papel que teve na UFBA como docente, Sonia tornou-se professora emérita da universidade, em 2011.

A união de Sonia e Zilton Andrade, que resultou na construção de uma família e uma parceria prolífica na área da ciência, foi registrada pela Fiocruz Bahia, no documentário “Sonia e Zilton: ciência, saúde e amor”. Com depoimentos de colegas, familiares e amigos, o filme, lançado em agosto, resgata também gravações de entrevistas com o casal Andrade, que compunham o acervo deixado por eles. Esse projeto foi realizado através do edital interno de Memória Institucional da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e está disponível no Youtube da Fiocruz Bahia.

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