Fiocruz Bahia e HUPES lançam programa de treinamento em autópsias minimamente invasivas

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Uma parceria entre a Fiocruz Bahia e o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), conhecido como Hospital das Clínicas, está promovendo a implantação de um Programa de Treinamento em Autópsias Minimamente Invasivas Guiadas por Ultrassonografia (AMIGUS). A iniciativa é voltada para professores, residentes e técnicos do serviço de Patologia do hospital.

No dia 16 de junho, foi realizada a primeira autópsia minimamente invasiva no HUPES, como parte do treinamento, conduzido pelo pesquisador do Laboratório de Patologia Estrutural e Molecular (LAPEM), da Fiocruz Bahia, Geraldo Gileno —  o primeiro a realizar o procedimento no estado. 

O programa implementado está conectado a um projeto, elaborado pelo pesquisador, tem como um dos seus objetivos capacitar profissionais, além de modernizar o processo de investigação post mortem, utilizando técnicas menos invasivas, mais rápidas e com maior aceitação por parte dos familiares. A ação integra equipes multiprofissionais — como patologistas, radiologistas, técnicos e clínicos — e visa contribuir para o ensino, assistência e, futuramente, a vigilância em saúde.

Segundo o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (FMB/UFBA), Antonio Alberto Lopes, graças ao Programa, as atividades de sessões e treinamento de estudantes e médicos residentes ganharam um novo fôlego, permitindo expandir a base de casos disponíveis para discussão, tanto para revisão sistemática nas sessões de óbitos, quanto para a seleção de casos relevantes nas sessões anátomo-clínicas. “É uma retomada que alia tradição e inovação, reafirmando o papel da Faculdade de Medicina da Bahia e do HUPES como centros de excelência no ensino médico. O retorno pleno dessas atividades formativas não apenas honra a história da instituição, mas projeta sua missão de formar profissionais mais críticos, humanos e tecnicamente qualificados”, afirmou. 

Para o coordenador do projeto, Geraldo Gileno, a AMIGUS surge como uma alternativa promissora uma vez que que as amostras obtidas podem ser submetidas a diversas análises, incluindo histológicas, microbiológicas, moleculares e ultraestruturais. “Por demandar uma infraestrutura mais simples, ser culturalmente mais aceitável, representar menor risco para as equipes médicas e manter alto valor diagnóstico, a AMIGUS apresenta-se como uma ferramenta útil em investigações de surtos epidêmicos, pesquisa científica, controle de qualidade médico-hospitalar e geração de dados sobre morbimortalidade em serviços de verificação de óbito, podendo apoiar a formulação de políticas públicas e a educação médica”, ressaltou. 

Para a médica infectologista e professora da UFBA, Áurea Paste, a AMIGUS é extremamente importante e necessária em todo hospital de grande ou até mesmo de pequeno porte porque ajuda a esclarecer as causas de óbito. “Contar com esse serviço em um hospital universitário como o Hospital das Clínicas é de suma importância porque vai agregar conhecimento na formação dos estudantes, internos, residentes, além dos profissionais e professores. Vai trazer muitos benefícios para ampliar, otimizar e melhorar o conhecimento de todos”, relatou a Dra Áurea, responsável por indicar a primeira AMIGUS no HUPES.

O médico patologista e chefe do Serviço de Patologia do HUPES, Eduardo Studart, destacou as contribuições do projeto para o aprimoramento do ensino, já que a correlação entre os achados clínicos e anatomopatológicos é essencial para a formação de estudantes e residentes, representando uma valiosa contribuição para a qualificação dos médicos em formação na área de Patologia. “A implementação da autópsia minimamente invasiva (AMIGUS) no HUPES-UFBA permitirá expandir a base de casos disponíveis para discussão e revisão sistemática nas sessões de óbitos e anátomo-clínicas do hospital”, destacou.

Para Carolina Calixto, gerente de Atenção à Saúde do HUPES e responsável pela elaboração do fluxograma para a realização de AMIGUS no hospital, o esforço de toda a gestão foi fundamental para que o procedimento voltasse a ser realizado. “O objetivo das autópsias é obter mais informações sobre os processos patológicos e determinar os fatores contributivos para a morte. Foram várias mãos, equipe da Patologia em nome de Dr. Eduardo Studart, Drª Áurea, Dr. Geraldo, equipes da Radiologia e multi do Hupes e a parceria da Fiocruz”, disse.

Após experiências em São Paulo, o professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFBA, Dário Nunes Moreira Júnior, participou do primeiro treinamento e descreveu a atividade como uma importante oportunidade de difusão do conhecimento. “O professor Geraldo é muito paciente e didático. Nos conduziu muito bem a coleta das amostras dos diversos órgãos e nos deu oportunidade de participar de várias etapas, realizando com nossas mãos as biópsias. Creio que cada profissional que participar de necrópsias micro invasivas com ele sairá pronto e seguro para realizar as necrópsias futuras e ajudar a difundir esse conhecimento prático”, ponderou. 

Para a residente de Anatomia Patológica, do segundo ano do Serviço de Patologia do HUPES, Niara Almeida, o treinamento representa uma grande contribuição para as atividades do hospital. “Considerei muito importante participar desse treinamento, como um marco para o retorno das autópsias no Hospital das Clínicas com uma técnica inovadora, menos invasiva e de melhor aceitação pelos familiares de pacientes em diagnósticos post mortem. Acredito que o treinamento no setor da Patologia irá somar não somente no aprendizado dos residentes de Patologia, mas terá grande contribuição para o serviço”, disse.

Diferente da autópsia tradicional, que exige a abertura completa das cavidades do corpo, a AMIGUS emprega a ultrassonografia para guiar a realização da coleta de amostras por agulha em órgãos como coração, pulmões, fígado, rins, cérebro, entre outros. As amostras obtidas são analisadas histologicamente, permitindo esclarecer a causa da morte, confirmar ou revisar diagnósticos clínicos e contribuir para a formação médica e a pesquisa científica. Essa abordagem, já validada internacionalmente, apresenta alta taxa de concordância com a autópsia convencional (cerca de 83%) e representa um avanço técnico, ético e pedagógico para os hospitais universitários. 

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