Estudo reforça que vacinação protegeu contra formas graves da Covid-19 durante circulação da Ômicron

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Avaliar a proteção e a duração da efetividade da vacinas contra infecção sintomática e desfechos graves da Covid-19 após a emergência e predominância da variante Ômicron foi o objetivo de uma nova pesquisa do projeto VigiVac, da Fiocruz Bahia. Neste estudo, conduzido com base de dados nacionais do Brasil e da Escócia, foram avaliados indivíduos que receberam dose de reforço com uma vacina de mRNA. Os resultados do trabalho foram publicados no preprint (ainda sem revisão dos pares) da revista The Lancet e podem ser relevantes para outros países, já que a Ômicron é a variante dominante globalmente.

Os achados do estudo de caso-controle, coordenado pelo pesquisador Manoel Barral, sugerem que o esquema de duas doses de vacina de vetor viral ou de mRNA com terceira dose de mRNA gera proteção moderada e de curta duração contra infecção sintomática e proteção forte e mais prolongada contra hospitalização e óbito, com declínio para indivíduos acima de 65 anos.

A pesquisa, que pode ser a maior a realizar este tipo de análise, utilizou informações de todos os indivíduos com 18 anos ou mais que relataram sintomas de doença respiratória aguda e testaram para infecção por SARS-CoV-2, no período de 1º de janeiro a 7 de março de 2022, para o Brasil, e 20 de dezembro 2021 a 9 de março de 2022, para a Escócia. Esse período correspondeu a predominância de circulação da variante Ômicron nesses países.

No total foram 4.653.517 testagens, de 4.590.259 indivíduos, sendo 4.282.961 testes do Brasil e 370.556 da Escócia. As informações no Brasil foram obtidas em três conjuntos de banco de dados nacionais do Ministério da Saúde: Campanha de Vacinação COVID-19 (SI-PNI); Infecção Respiratória Aguda Casos Suspeitos (e-SUS-Notifica); e Infecção/Doença Respiratória Aguda Grave (SIVEP-Gripe). Os dados na Escócia foram da plataforma EAVE II. Esses dois países têm programas de vacinação semelhantes, ambos incluem as vacinas da Astrazeneca e Pfizer e oferecerem uma vacina de mRNA como dose de reforço. No Brasil, a vacina da Pfizer foi administrada como dose de reforço. No caso da Escócia, além da Pfizer também foi utilizada a vacina da Moderna. Ambos os países tiveram rápida velocidade de propagação e dominância da variante Ômicron. 

Resultados

Segundo o estudo, no Brasil, de 2 e 4 semanas após a dose de reforço com vacina de mRNA em indíviudos vacinados com AstraZeneca ou Pfizer, a proteção contra infecção sintomática pelo coronavírus foi de 42,3%, diminuindo para 5,4%, em 13 semanas. No mesmo período, a proteção contra desfechos graves foi de 89,8%, diminuindo para 80,2%. Em indivíduos com idade maior que 65 anos, esta proteção diminuiu de 83,1% para 76,9%, em 13 semanas. Já na Escócia, a proteção contra infecção sintomática, de 2 e 4 semanas após o reforço de mRNA, foi de 53,4%, diminuindo para 29,2%, em 13 semanas. A efetividade da vacina contra desfechos graves no país passou de 81,8% para 75,8%, neste período. Em indivíduos acima de 65 anos, a proteção diminuiu de 97,2% de 5 a 8 semanas, após a dose de reforço, para 79,8% em 13 semanas.

Durante o período de estudo, a maioria dos testes realizados no Brasil foi positivo (61,4%) para Covid-19, com taxa semelhante em vacinados (59,2%) e não vacinados (62,0%). Na Escócia, 59% dos testes foram positivos, destes 67,1% eram de não vacinados e 57,9% de vacinados. 

Os autores também compararam a proteção em pessoas vacinadas com 3 doses com  aqueles que receberam duas doses. Os resultados confirmaram a proteção elevada contra quadros graves para aqueles que usaram a terceira dose da vacina. Com resultados de efetividade das vacinas semelhantes nos dois países, esse estudo reforça que a vacinação protegeu contra formas graves da COVID-19 durante a circulação da Ômicron e também sugere que os indivíduos idosos potencialmente se beneficiariam de uma segunda dose de reforço contra a variante.

 

 

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