Estudo faz levantamento de diversidade de mosquitos no Parque da Cidade

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Uma pesquisa foi realizada no Parque da Cidade Joventino Silva, em Salvador, com objetivo de identificar espécies de mosquitos de importância para a saúde pública e investigar o papel dos diferentes ecossistemas existentes em abrigar os insetos. Os cientistas, liderados pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro, coletaram 11.914 mosquitos pertencentes a pelo menos sete espécies, no período de maio a agosto de 2018, um ano após a epizootia (surto em animais) de febre amarela que atingiu a população de saguis da cidade. 

O parque, que recebe em média 2.000 visitantes por dia, possui 72 hectares de Mata Atlântica e está circundado por uma área residencial, configurando um cenário propício para a emergência da transmissão urbana de vírus que tipicamente são transmitidos em ambientes silvestres, como o vírus da febre amarela. A possibilidade da reurbanização da doença e da transmissão de outros arbovírus em ambientes de transição urbano-silvestre reforça a necessidade de inventários de espécies de mosquitos nestas localidades. O trabalho foi descrito no periódico científico Journal of Medical Entomology e integra a tese da doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Medicina Investigativa (PGBSMI), da Fiocruz Bahia, Raquel Lima de Souza, primeira autora do artigo. 

Os vetores foram coletados semanalmente, em 30 pontos diferentes. Os maiores números de mosquitos capturados foram das espécies Culex quinquefasciatus (92,6%), mais conhecidos como pernilongo ou muriçoca, Wyeomyia spp. (3,1%) e Limatus spp. (1,9%). O Aedes aegypti e o Aedes albopictus, principais transmissores de arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, representaram apenas 0,1% e 1,4%, respectivamente, sendo estes os de maior interesse em saúde pública. Nenhuma das espécies encontradas são associadas à transmissão silvestre do vírus da febre amarela.

Também foi analisada a distribuição espacial da densidade de mosquitos para as duas espécies mais capturadas e as duas de maior interesse em saúde pública. O Culex quinquefasciatus e Wyeomyia spp. estiveram presentes em todos os pontos de coleta no parque. O Aedes albopictus foi capturado em 23 pontos de coleta. Já o Aedes aegypti foi capturado em 6 dos 30 pontos, sendo estes localizados em áreas mais abertas, onde o movimento de visitantes é maior ou mais próximos de áreas residenciais.

Os Culex quinquefasciatus foram coletados tanto nas áreas do parque com predomínio de vegetação do tipo de floresta ombrófila densa (também chamada de floresta tropical) quanto nas áreas de restinga. O Wyeomyia spp. e Aedes. albopictus foram menos frequentes nas áreas de floresta tropical (2,5% e 1%, respectivamente), em comparação com a presença encontrada na restinga (7,7% e 3,8%, respectivamente).

Esses achados indicam que a diversidade de mosquitos nos remanescentes urbanos da Mata Atlântica em Salvador é baixa. Embora não tenham sido coletadas espécies dos vetores transmissores da febre amarela silvestre, foram encontradas as principais espécies de vetores de outras arboviroses, sugerindo que esses locais podem ser propícios à transmissão de doenças que já circulam na cidade, como dengue, Zika e chikungunya. A realização de inquéritos entomológicos periódicos em áreas urbanas de confluência com o ambiente silvestre é importante para o monitoramento do risco de emergência de novas epizootias e epidemias.

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