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Em pesquisa desenvolvida pelas pesquisadoras Lourdes Farre, da Fiocruz Bahia e Sonia Guil, do Instituto Josep Carreras (Espanha), a função de um pseudogene conhecido como RPSAP52 é analisada em tumores de mama e sarcoma. O trabalho foi descrito no artigo intitulado “The transcribed pseudogene RPSAP52 enhances the oncofetal HMGA2-IGF2BP2-RAS axis through LIN28B-dependent and independent let-7 inhibition”, publicado na revista de alto impacto Nature Communications.
O estudo é uma investigação da função de uma região concreta do genoma que não codifica para proteínas, mas origina um transcrito não codificante conhecido como RPSAP52, que apresenta funções reguladoras muito relevantes na proliferação celular. Os pesquisadores identificaram que o RPSAP52 regula a via de sinalização de HMGA2/IGF2BP2/RAS. Esta é uma via de caráter altamente pró-proliferativo e anti-diferenciador das células, de modo que a ativação de RPSAP52 promove o crescimento e mantem as células em um estado desdiferenciado típico das células tumorais mais agressivas.
Em condições normais, RPSAP52 somente se expressa a nível embrionário e está silenciado na maioria dos tecidos adultos. Porém, em um grande número de cânceres, o RPSAP52 se expressa de forma aberrante e promove o caráter pluripotente e de alta replicação das células. Isto se consegue mediante a capacidade que RPSAP52 tem em manter os níveis e função do co-regulador da tradução IGF2BP2 e em consequência, de diminuir os níveis do importante microRNA supressor tumoral let-7.
O estudo foi realizado in vitro e in vivo em modelos animais, e tem confirmado o papel tumorgênico de RPSAP52 em tumores de mama e sarcoma. Nesses tipos tumorais, o RPSAP52 pode também ter um valor preditivo como biomarcador. Além disso, o fato de que este RNA não codificante se expresse na maior parte dos tumores humanos e mostre um papel relevante reforça a função do genoma não codificante (frequentemente menosprezada) na regulação dos programas celulares e especialmente no contexto patológico.
Na ótica da pesquisa translacional, os achados são significativos pois este tipo de moléculas são presentes em níveis baixos e são mais facilmente atacáveis que os genes codificantes. Neste sentido, os pesquisadores estão trabalhando na geração de modelos tumorais in vivo nos quais seja possível testar a administração de pequenas moléculas que possam destruir RPSAP52 e seu efeito no crescimento tumoral. Este foi um estudo altamente colaborativo, em que também participaram pesquisadores do Instituto Catalão de Oncologia e do Instituto de Pesquisa Biomédica de Bellvitge, de Barcelona, Espanha.