Estudo descreve caso atípico de encefalite do tronco encefálico associada à infecção pelo vírus Zika

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Um estudo descreveu um caso raro de encefalite do tronco encefálico, também conhecida como rombencefalite, associada à infecção pelo vírus Zika. Com autoria do doutorando Mateus Santana do Rosário, e coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Isadora Siqueira, o trabalho foi publicado na revista Viruses. O artigo destaca uma manifestação neurológica atípica do vírus, evidenciando seu potencial neuroinvasivo e a importância de considerá-lo no diagnóstico diferencial de encefalite em regiões endêmicas.

O vírus Zika, pode causar complicações neurológicas graves, incluindo a síndrome de Guillain-Barré e encefalites. Em 2015, o Brasil vivenciou um surto sem precedentes de casos de síndrome congênita do vírus Zika e outras sindromoes neurológicas.

O artigo apresenta o caso de uma mulher de 21 anos, previamente saudável, que apresentou febre, erupção cutânea e dores articulares. Sete dias depois, ela desenvolveu confusão mental, comprometimento da fala e distúrbio da marcha e equilíbrio. Evoluiu com uma convulsão tônico-clônica e paralisia facial, sugerindo envolvimento do tronco encefálico.

A paciente foi inicialmente avaliada no pronto-socorro de um hospital geral público e posteriormente internada em uma unidade de terapia intensiva neurológica em Salvador, onde foram coletadas amostras de sangue, urina e líquido cefalorraquidiano para análises laboratoriais. Os testes moleculares por RT-qPCR para os vírus Zika, Chikungunya e Dengue foram negativos, porém a infecção foi confirmada por sorologia positiva para o vírus zika, pelos métodos de ELISA IgM e teste de neutralização por redução de placas (PRNT).

O tratamento com corticosteroides e antiepilépticos levou a uma melhora clínica substancial. Após 25 dias de hospitalização, a paciente recebeu alta com recuperação funcional significativa. Durante o acompanhamento, ela foi considerada totalmente recuperada, embora, nove anos após o episódio, persistam sintomas residuais leves, como dores de cabeça, lapsos de memória e comprometimento cognitivo discreto.

De acordo com os autores, o caso se soma ao crescente corpo de evidências que destacam o potencial neuroinvasivo do vírus Zika, reforçando a importância do reconhecimento e manejo precoce de manifestações neurológicas atípicas. O estudo também ressalta a utilidade dos testes sorológicos em situações em que a viremia  Ã© baixa e os exames moleculares não conseguem detectar o vírus.

Os pesquisadores concluíram que o vírus Zika deve ser reconhecido como um potencial agente causador de encefalites, particularmente em regiões endêmicas, e que é necessária maior conscientização clínica sobre suas manifestações neurológicas. Além disso, apontam para a importância de avanços em metodologias diagnósticas e estratégias terapêuticas que reduzam as sequelas de longo prazo.

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