É #FAKE que todos os atestados de óbitos de pacientes do SUS afirmem que causa mortis foi a Covid-19

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Circula nas redes sociais uma mensagem que diz que, em cumprimento a decretos de governadores, os atestados de óbito de todos os pacientes que morrem em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) afirmam que a causa da morte foi a Covid-19, ainda que isso não seja verdade. É #FAKE.

Segundo a publicação, o número de mais de 104 mil mortes decorrentes da Covid-19 no país é falso, tendo sido inflado propositalmente pelos dados de outras causas mortis. O texto é acompanhado da hashtag “dorianaassassino”, alusão ao governador de São Paulo, João Doria.

Desde o início da pandemia do coronavírus, Doria vem sendo alvo de informações falsas na internet, impulsionadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

A mensagem que circula agora diz: “São 100 mil mortos por Covid? Não, não são. Os governadores baixaram decretos para que todos que morressem no SUS tivessem atestado de coronavírus. Não somos idiotas!”

Procurado pela CBN, o Ministério da Saúde refuta tal boato e explica que os óbitos decorrentes da Covid-19 que divulga diariamente são somente os confirmados pelos estados, seguindo as suas orientações, e que os dados são dispostos no site https://covid.saude.gov.br, que pode ser consultado por todos os cidadãos. Informa ainda que semanalmente são liberados também boletins epidemiológicos sobre a pandemia.

O ministério ressalta, em nota, que emitiu nota técnica para orientar o preenchimento da declaração de óbito. Com oito páginas, o documento, datado do mês de maio, diz que “a Covid-19 deve ser registrada no atestado médico de causa de morte para todos os óbitos que a doença causou, ou se assume ter causado ou contribuído para a morte”, e que “o médico tem responsabilidade ética e jurídica pelo preenchimento, pelas informações registradas e pela assinatura da declaração de óbito”.

Na nota, o ministério orienta ainda: “Se, no momento do preenchimento da declaração, a causa da morte ainda não estiver confirmada para Covid-19, mas houver suspeição, o médico deverá registrar o termo ‘suspeita de Covid-19’”. Ou seja, não há qualquer orientação para que outras causas mortis sejam adulteradas para Covid-19. Tampouco houve algum decreto de algum governo estadual determinando tal conduta.

O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, ressalta que esse tipo de mensagem busca levar a população a acreditar que o número de mortes decorrentes da infecção pelo coronavírus é menor que o oficial, premissa que não se justifica. Até por que há óbitos suspeitos que não entram na contagem oficial, e que podem ter sido pela Covid-19.

“Essa é mais uma das inúmeras mensagens falsas divulgadas nessa pandemia. Muito provavelmente, o número de vidas perdidas para a Covid-19 é maior do que as mais de 104 mil, pois muitos indivíduos podem ter morrido com a doença, mas sem a confirmação laboratorial do diagnóstico, e, portanto, não entraram nas estatísticas. O Brasil testa pouco. Os óbitos suspeitos não fazem parte desses mais de 104 mil”, alerta.

“A mensagem diz ‘não somos idiotas’, mas quem espalha esse tipo de informação, parece, sim, ser idiota, por negar a gravidade do momento que estamos vivendo. A declaração de óbito é um documento oficial, com normas oficiais para o seu preenchimento. Além disso, o profissional deve seguir as diretrizes do Código de Ética Médica”, continua Weissmann.

Cabe ressaltar, diz o médico, que esse tipo de tese põe em xeque a idoneidade da categoria. “Mensagens como essa, de cunho político e ideológico, sugerem que todos os médicos são antiéticos em sua conduta, e que seguem orientações totalmente sem fundamento.”

O pneumologista Rodolfo Fred Behrsin, professor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, aponta que para que isso fosse verdade ia ser necessário que milhares e milhares de médicos no Brasil todo concordassem em fazer parte de uma fraude.

“Os disseminadores de fake news conseguiram se superar. A pessoa desprezar a ocorrência de mais de 104 mil mortes de brasileiros, fingir que isso não aconteceu, e ainda acusar governadores de baixarem decreto para a falsificação de documentos? Então mostrem os decretos, porque eles saem publicados em Diário oficial. Quem preenche atestado de óbito é médico. Será que a gente tem médicos em quantidade suficiente no Brasil que topem falsificar tantos atestados de óbito?”, questiona.

Atestados de óbitos de pacientes do SUS apontando outras causas continuam a ser feitos normalmente no país. Caso contrário, o número de mortes por Covid-19 ia ser muitas vezes maior.

Fonte: G1

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