É #FAKE que médico congolês Prêmio Nobel da Paz deixou cargo por ser obrigado a falsear dados da Covid-19

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A mensagem falsa diz: “Não posso sujar meu Prêmio Nobel da Paz por dinheiro. Fomos obrigados a considerar qualquer doença como coronavírus, qualquer morte. Além disso, o que mais me desagradou é que, depois de mais de 100 amostras, nenhuma saiu positiva. Tenho carreira a proteger e sou congolês de sangue. Ficar rico mentindo é pecado diante de Deus. Eu me demiti”. Tal afirmação jamais foi feita por ele.

De março a junho, Mukwege, um ginecologista da República Democrática do Congo agraciado com o Nobel em 2018 por sua atuação na defesa de mulheres que sofreram violações sexuais em tempos de guerra, foi vice-presidente da Comissão Multissetorial e presidente da Comissão de Saúde de combate ao coronavírus na província de Kivu do Sul.

Ele, de fato, deixou o posto, mas em nenhum momento afirmou que sua decisão se deveu ao fato de ser pressionado a mentir sobre dados, atribuindo à Covid-19 óbitos que tiveram outras causas.

No dia 10 de junho, Mukwege publicou no site da Fundação Panzi, que criou para levar adiante suas causas humanitárias, um texto em que esclarece que os motivos que o levaram a sair do cargo, assumido no dia 30 de março após convite do governador da província, foram as dificuldades enfrentadas no trabalho, inclusive a “negação da realidade” da pandemia.

No texto, o médico explica quais foram as ações implementadas no sentido da prevenção da propagação da Covid-19 e de atenção aos doentes em sua passagem pelo posto, e diz que, com elas, foi possível conter a disseminação “por várias semanas”.

Só que entraves como a carência de testes rápidos para a Covid-19 na província, o afrouxamento das medidas de prevenção pela população, a falta de bloqueio nos acessos à região e a ausência de quarentena para quem chegava de fora impediram que os esforços fossem bem-sucedidos.

“A esses fatores são acrescentadas fraquezas organizacionais e de consistência entre as diferentes equipes responsáveis pela resposta à pandemia no Kivu do Sul. Até a presente data, diante do afluxo de pacientes afetados pelo coronavírus nos hospitais de Bukavu, parece indubitável que a doença está presente na cidade. Estamos, portanto, no início de uma curva epidemiológica exponencial, e não podemos mais aplicar uma estratégia que seria apenas preventiva. Decidi, portanto, renunciar às minhas funções como vice-presidente do Comitê Multissetorial de Resposta ao Coronavírus em nossa província e presidente da Comissão de Saúde, a fim de me dedicar inteiramente às minhas responsabilidades médicas e tratar esse afluxo de pacientes no Hospital Panzi.”

Ao deixar o cargo, ele não acusou o governo de determinar que mortes não relacionadas à Covid-19 fossem registradas como tal, como sugere a mensagem falsa. Pelo contrário. No texto do dia 10 de junho, Mukwege afirmou: “Em relação à continuidade de nossa ação, estou convencido de que o ministro da Saúde e a Divisão Provincial de Saúde serão capazes de garantir a implementação das estratégias iniciadas em conjunto. Nesta provação para a nossa população e para todos nós, estarei sempre ao lado da população e do governador da província”.

Dias depois, o médico também tuitou e disse que as afirmações postadas em seu nome que não constam de seus canais oficiais “não são genuínas”. Um usuário, então, postou a mensagem que tem viralizado na web e perguntou se era verdadeira ou não. Sua fundação rebateu: “É uma citação falsa”.

Fonte: G1

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