É #FAKE que alto nível de vitamina D no organismo reduza a quase zero a chance de morte pela Covid-19

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Foto de Polina Tankilevitch no Pexels
Está sendo compartilhado que pessoas com altos níveis de vitamina D no organismo respondem melhor a um tratamento da Covid-19 e têm risco de morte pela doença reduzido a quase zero. É #FAKE.

Existem estudos que sugerem que a vitamina D pode ajudar no combate ao coronavírus, mas nada é conclusivo, explicaram médicos entrevistados pela CBN. Segundo a pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, já havia trabalhos publicados antes da pandemia do coronavírus indicando que a vitamina D poderia trazer algum benefício para quadros de gripe comum, mas outros não mostram essa associação. Em relação à Covid-19, também não há como sustentar a afirmação que consta da mensagem que viralizou.

“Alguns estudos sugerem que a vitamina D poderia ajudar no combate ao novo coronavírus. No entanto, o mais adequado para a definição de tratamentos eficazes para qualquer doença são os ensaios clínicos randomizados (quando os participantes que tomam a substância que se quer testar são escolhidos aleatoriamente no grupo selecionado para a pesquisa). E esses ainda não temos”, esclarece Canto Ribeiro.

A vitamina D, chamada popularmente de “vitamina do sol”, por ser estimulada pela exposição solar, tem várias funções no organismo. Ajuda na saúde dos dentes e dos ossos e também a regular níveis de insulina. Entretanto, é prematuro associá-la a uma proteção máxima da Covid-19. O mesmo se dá quando se argumenta que locais quentes têm menos casos e óbitos.

“Não é exatamente uma vitamina, mas um pró-hormônio, que pode ser sintetizado em nosso organismo. É essencial para a saúde em várias frentes, já comprovadas”, salienta Canto Ribeiro. Ela ressalta estatísticas que apontam vantagens na proteção contra o coronavírus por ser um país com mais exposição ao sol.

“Um estudo fala da pouca mortalidade em países do hemisfério sul, mas ele foi publicado quando o Brasil tinha em torno de 1.500 mortes. Hoje estamos com 80 mil mortos. Não acredito que possamos falar em poucos óbitos no nosso caso. A verdade é que ainda não temos comprovação científica de medicamentos ou substâncias que possam ser usadas na prevenção da Covid-19”, lembra a médica.

O professor titular de infectologia da UFRJ Mauro Schechter ratifica que não há como se fazer a associação entre a vitamina D e apresentar melhora da doença. “Estudos observacionais são incapazes de estabelecer relações de causa e efeito. Há inúmeros estudos que descrevem a importância da vitamina D para o bom funcionamento do sistema imunológico. Por outro lado, só estudos prospectivos poderiam estabelecer a associação causal entre hipovitaminose D e pior prognóstico, ao corrigi-la em um grupo, mas não em outro.”

Ele compara a letalidade da doença no Brasil e nos Estados Unidos, que estão em hemisférios diferentes e têm climas diferentes. “Pelos números oficiais, a letalidade no Brasil é semelhante à verificada nos EUA. No Brasil, 79,1 mil mortes em 2,1 milhões de casos, taxa de 0,038. Nos EUA, 140 mil mortes para 3,7 milhões de casos, taxa de 0,037”.

A mensagem que está circulando diz que, para se proteger da doença, é necessário aumentar a dose de vitamina D. No entanto, a pneumologista Patricia Canto Ribeiro alerta que há riscos: “O excesso de vitamina D pode causar problemas renais, nos ossos, cálculos renais, perda de apetite, náuseas e vômitos”, avisa.

“As pessoas não devem recorrer à automedicação ou à suplementação de vitaminas achando que assim estarão protegidas. As medidas de proteção eficazes até o momento são o uso de máscaras, a higiene das mãos e o distanciamento social”, reforça.

O infectologista Ralcyon Teixeira, diretor da divisão médica do hospital Emílio Ribas, de São Paulo, não vê nexo em vincular o calor a um prejuízo menor pelo coronavírus. Segundo ele, talvez a dinâmica da circulação do vírus no Brasil, ainda sob análise, possa explicar por que o patamar de mortos – apesar de muito alto – não chegou ao que supunha uma parte da comunidade médico-científica.

“Não tem a ver com as condições do tempo, basta pensar em Manaus, Belém e Fortaleza, que são bem quentes e tiveram muitas mortes”, ele diz. “No Brasil, temos o isolamento social, que funcionou para diminuir a quantidade de casos. E a circulação viral não foi intensa assim porque, com 20% da população infectada, tivemos uma espécie de proteção de rebanho. E existe uma teoria que diz que talvez a gente tenha imunidade de outros coronavírus”.

Sobre o poder da vitamina D, ele contraindica a suplementação feita por conta própria: “Há algumas teorias que dizem que a vitamina D tem ação antiinflamatória, protetora, principalmente em doses altas. Mas não há nada que comprove esta ação. Existem alguns estudos que tentam relatar um pior desfecho em quem tem vitamina D baixa, mas a gente não sabe se isso é só coincidência, especialmente quando a pessoa já está internada. Até agora não há nada consistente para indicar suplementação para aumentar imunidade ou para proteger ou tratar o coronavírus”.

Marcelo Sampaio, cardiologista e clínico geral da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que não há por que pensar em suplementar vitamina D para toda a população num país como o Brasil, muito menos razão para creditar ao calor um número supostamente baixo de casos e mortes pelo coronavírus.

“Não dá para provar que a vitamina D combata o vírus. Não é verdade que níveis altos levem a uma mortalidade quase zero. Assim como o calor não está nos protegendo. É muito pouco provável que uma única substância ou determinado efeito protetor possa ser responsável: é sempre um conjunto, a imunidade, o estado nutricional, a existência ou não de comorbidades”.

Em abril, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia divulgou uma nota afirmando que “não existe, até o presente momento, nenhuma indicação aprovada para prescrição de suplementação de vitamina D visando efeitos além da saúde óssea”, e que não há embasamento científico para afirmar que a vitamina D sirva para proteger as pessoas da Covid-19.

Fonte: G1

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