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Histórico

A origem do Instituto Gonçalo Moniz (IGM), também conhecido como Fiocruz Bahia, está relacionada à união de esforços das esferas de governo federal e estadual, com o objetivo de sedimentar bases sólidas para a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e a formação de recursos humanos qualificados para o enfrentamento de problemas de saúde pública no estado da Bahia, sobretudo aqueles relacionados às doenças infecto-contagiosas de caráter epidêmico.

Neste contexto, destaca-se como marco histórico inicial da instituição o dia 3 de abril de 1950, quando a lei nº 262, promulgada pelo então governador da Bahia, criou a Fundação Gonçalo Moniz, sediada no bairro do Canela, na cidade de Salvador. Desta maneira, a entidade tinha como finalidade manter e desenvolver os serviços de um Instituto de Saúde Pública, com foco na realização de exames laboratoriais e produção de vacinas e soros demandados pelo Estado, bem como na formação de pessoal técnico-especializado em colaboração com universidades e demais estabelecimentos de pesquisa.

Posteriormente, em 1957, o Núcleo de Pesquisas da Bahia (NEP) foi criado por meio de um convênio entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERU) e a Fundação Gonçalo Moniz. Tal ação teve como finalidade estudar endemias parasitárias no estado da Bahia, momento em que se fortalece a colaboração entre os governos federal e estadual, desenvolvendo um ambiente propício para a constituição de atividades ligadas à ciência, tecnologia e inovação na área da saúde no estado da Bahia.

No dia 22 de maio de 1970, por meio do Decreto 66.624, o NEP foi incorporado à Fiocruz e passou a ser denominado de Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM). Dez anos depois, em 27 de outubro de 1980 o CPqGM se tornou uma unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente, o IGM tem como foco o estudo de doenças infecciosas e parasitárias, na realização de exames anatomopatológicos, além de abrigar dois cursos de pós-graduação stricto sensu em níveis de mestrado e doutorado.

 

GONÇALO MONIZ SODRÉ DE ARAGÃO – PRESENÇA MARCANTE NA CIÊNCIA E NA SAÚDE DA BAHIA

 

A formatura ocorreu aos 23 anos, com a defesa do trabalho “Algumas noções sobre a Etio-pathogenia e o diagnóstico das lesões valvulares do coração esquerdo”, em 07 de dezembro de 1893. Dois anos depois, aos 25 anos, Gonçalo Moniz uniu-se aos seus mestres, tornando-se professor da FAMEB, na cátedra de Patologia Geral, com apresentação do trabalho “Imunidade Mórbida”.

Gonçalo Moniz dedicou-se à docência até sua aposentadoria em 1925, ocupando as cadeiras em disciplinas como Clínica Médica, Fisiologia, Anatomia, Fisiologia Patológicas e Patologia Geral, Histologia, Bacteriologia, Anatomia e Fisiologia Patológicas. Estas atividades estavam, desde os primeiros passos, associadas à pesquisa, o que lhe rendeu a produção e publicação de trabalhos que refletiram na melhoria da saúde da população baiana, com destaque para estudos sobre a peste bubônica e a tuberculose. Como Diretor da Liga Bahiana contra a Tuberculose, por exemplo, proferiu a conferência “Tuberculose, causas e medidas preventivas”, que se tornou uma importante referência sobre o tema.

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O médico Gonçalo Moniz Sodré de Aragão foi professor da Faculdade de Medicina da Bahia.

Casado com Maria da Purificação da França Pinto de Oliveira Garcez, com quem teve dois filhos, Luiz Moniz Sodré e Alice Moniz Sodré, Gonçalo Moniz assumiu posições importantes no campo da Saúde Pública. Em 1899, foi designado, pelo Governo do Estado da Bahia, para constituir e dirigir o Gabinete de Análises e Pesquisas Bacteriológicas, responsável pela verificação de óbitos e controle das doenças infectocontagiosas de caráter epidêmico. No cargo, publicou vários estudos e observações sobre a peste bubônica e a tuberculose, tais como, “Considerações sobre a peste bubônica” (1899). Em 1914, foi nomeado pelo governador J. J. Seabra, Diretor Geral de Saúde Pública. Com a criação do Serviço de Assistência Pública do Estado, responsável pelos socorros médicos e cirúrgicos de urgência, Gonçalo Moniz foi o responsável por sua concepção e planejamento. Como Secretário de Interior, cargo assumido em 1916, conduziu a conclusão do processo de reforma da Biblioteca Pública, entre outras ações que uniam arte, literatura, educação e saúde pública.

O encontro com a Fiocruz – Por reunir a qualidade de cientista, professor, experimentalista e gestor público, o encontro de Gonçalo Moniz com os expoentes da ciência brasileira, naquele momento, seria inevitável. Moniz foi convocado pelo Governo da Bahia, em 1901, para estudar a preparação da vacina antipestosa e do soro Yersin, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esta experiência, na Fiocruz, foi muito importante na sua trajetória. Em Manguinhos, tomou conhecimento, por Oswaldo Cruz, que os coelhos do biotério estavam morrendo, mas sem identificação das causas. Depois de observações microscópicas e necropsias, o pesquisador provou que o motivo da devastação era a coccidiose ou parasitismo de roedores, por coccidias (cimerias). O relatório, fruto destas observações, foi considerado, à sua época, a última palavra sobre o assunto.

Em 07 de setembro de 1915, foi inaugurado o Instituto Bacteriológico, Antirrábico e Vacinogênico, no bairro do Canela, sob a direção de Gonçalo Moniz. Posteriormente, o nome foi alterado para Instituto Oswaldo Cruz e, na perspectiva de evitar sobreposição em relação ao Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, modificou-se para Instituto de Saúde Pública. É deste instituto que surgiu a Fundação Gonçalo Moniz, criada pela Lei nº 262, de 03 de abril de 1950, que realizava pesquisas científicas e mantinha o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). O Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, a Fiocruz Bahia, passou a funcionar nas instalações de pesquisas desta Fundação, a partir de um convênio firmado em 30 de março de 1979, assinado pelo Governo do Estado da Bahia, a Faculdade de Medicina da UFBA e a Fundação Oswaldo Cruz. A homenagem representou uma demonstração da vivacidade e da referência que o pesquisador tinha na Bahia e no Brasil.

Poucos pesquisadores deixaram um legado tão extenso quanto o doutor Gonçalo Moniz Sodré de Aragão. Soteropolitano, nascido em 28 de janeiro de 1870, segundo filho, de um total de dez, o jovem estudioso ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), aos 17 anos. Entre 1891 e 1893, foi interno de Clínica Médica do professor Ramiro Monteiro. Ainda em 1891, publicou o artigo “Etiologia e pathogenía da supuração”, na Revista Acadêmica da Bahia.

Intelectual que mantinha contato constante com a psicologia, o direito, a astronomia, as ciências matemáticas, a economia e a literatura, Gonçalo Moniz ultrapassou as fronteiras das ciências biológicas e da medicina. Em 7 de março de 1917, junto com outros intelectuais baianos, fundou a Academia de Letras da Bahia, com o objetivo de cultivar a língua e a literatura nacionais, preservar a memória cultural baiana, amparar e estimular as manifestações, inclusive nas artes e ciências.

Antes já havia oferecido imensa colaboração à comunicação científica como redator/colaborador da Gazeta Médica da Bahia, no período de 1906 a 1914. Culto, com formação ampliada, Gonçalo Moniz foi o segundo presidente da Academia de Letras da Bahia, assumindo logo após o falecimento do professor Ernesto Carneiro Ribeiro, em 1920.

A associação com as Letras era profícua, a ponto de sua biblioteca particular possuir mais de dezesseis mil volumes, uma das mais importantes do estado. Gonçalo Moniz morreu em 1º de junho de 1939, aos 69 anos, mas deixou contribuições em vários campos sociais. Sua presença ultrapassou o laboratório e a sala de aula, chegou a uma dimensão ampla da saúde pública, com contribuições importantes na gestão e na institucionalização do conhecimento.

 

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