Coronavírus é tema de palestra na Fiocruz Bahia

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Panorama do COVID-19” foi o tema da Sessão Científica Extraordinária, que aconteceu na Fiocruz Bahia, no dia 4 de março. Na palestra, o infectologista da Universidade de San Diego, na Califórnia, e do Hospital Roberto Santos, Kevan Akrami, apresentou os aspectos epidemiológicos da doença, a patofisiologia do novo coronavírus, o tratamento, a prevenção e as respostas que o Brasil e mundo estão ofertando frente a ameaça que o vírus representa.

O coronavírus integra uma grande família de vírus zoonóticos, de origem animal, que pode causar de um resfriado comum a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV). O COVID-19 já infectou mais de 100 mil pessoas em 101 países/territórios, causando mais de 3,5 mil mortes. No Brasil, já existem 25 casos confirmados do vírus, sendo dois na cidade de Feira de Santana, na Bahia.

O surto por SARS-CoV ocorreu em 2002, na China, com transmissão de morcegos para seres humanos, infectando 8 mil pessoas e deixando 774 mortos. Já os casos de MERS-CoV aconteceram na Arábia Saudita em 2012, se estendendo até 2015, com casos relatados na Coréia do Sul ainda causados por esse coronavírus.

Em 31 de dezembro de 2019, os primeiros casos de uma pneumonia de origem desconhecida foram relatados na cidade de Wahun, na China. Os casos tinham ligação com um mercado de frutos-do-mar da região, sugerindo transmissão animal-humano, porém, mais tarde, houve um número crescente de pacientes que não tiveram contato com esse mercado, indicando que também estava ocorrendo a disseminação de pessoa para pessoa. Em 7 de janeiro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) Chinês divulgou que conseguiu isolar o vírus e identificá-lo como um novo coronavírus, denominado COVID-19 em 11 de fevereiro pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo Kevan, várias cepas do COVID-19 foram sequenciadas desde sua descoberta e a proximidade destas com o tipo que causou SARS, cerca de 88%, ajudará no tratamento, pois será possível utilizar medidas empregadas em 2002, o que ajudará para o desenvolvimento da vacina. O infectologista explicou que o COVID-19 é um vírus de RNA e, por isso, é altamente mutável, dificultando o seu controle.

Epidemia

Em relação a epidemia da doença na China, Kevan aponta que a demora para o país entrar em quarentena é um dos fatores responsáveis pelo grande número de casos. Adiciona-se ainda a negação inicial das autoridades sobre a possibilidade de os primeiros casos registrados em dezembro do ano passado serem um novo tipo de coronavírus. “Uma resposta atrasada a quarentena, faz a infecção se espalhar mais rápido na população”, explicou. Para Kevan, as implicações sociais e econômicas de uma epidemia podem levar a hesitação inicial em países que estão apresentando casos de coronavírus, o que favorece a epidemia a continuar no local.

O pico da epidemia aconteceu no mês de janeiro e os novos dados epidemiológicos mostraram que os casos na China tendem à estabilização, enquanto nos outros países a tendência é aumentar nos próximos meses. A justificativa é que epidemias em alguns países, como o Irã e Itália, que tem os maiores números de mortes fora da Ásia, ocorrem porque adotaram práticas semelhantes à China, ao retardar a resposta.

A taxa de mortalidade do COVID-19 é considerada baixa, de cerca de 2.72% quando comparada com a taxa de mortalidade do SARS-CoV de 2002, que foi 14-15%, e MERS-CoV, de 35%. Essa taxa deve ser ainda mais baixa, pois o número de casos assintomáticos ou com poucos sintomas pode ser muito maior, indicando que existem ainda mais pessoas infectadas pelo mundo. A maioria dos casos confirmados são leves, sem necessidade de hospitalização para tratamentos mais severos.

Os casos mais graves de infecção respiratória, no contexto da emergência do COVID-19, estão relacionados a homens com média de idade maior do que 50 anos, que apresentaram comorbidades, como diabetes e problemas cardiovasculares. Um dado interessante, exibido durante a apresentação, é em relação a infecção em crianças, que ainda não foi registrado.

Pesquisas e testes

Quando comparada a 2002, a resposta da comunidade científica aos desafios impostos pelo COVID-19 foi bem mais rápida. Graças às novas tecnologias, o sequenciamento do vírus está sendo feito em pouco tempo em várias partes do mundo. Testes estão sendo realizados com drogas utilizadas em outras epidemias provocadas pelo coronavírus, além de novas drogas que podem auxiliar na diminuição da taxa de mortalidade. Na época do surto de SARS, por exemplo, foram testadas diversas drogas para inibir a resposta inflamatória da doença, sem sucesso. Esse resultado já iluminou os caminhos que os pesquisadores estão seguindo e novas abordagens estão sendo feitas, como um estudo recente com utilização de células-tronco.

Sobre o desenvolvimento de kits diagnósticos, os institutos de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) iniciaram a produção de protótipos de kits com insumos para a realização de 30 mil testes diagnósticos para o novo coronavírus. Os kits foram encomendados pelo Ministério da Saúde para atender a rede de laboratórios públicos de todo o país.

A prevenção ainda é o meio mais aconselhado para a maioria da população, segundo o infectologista. O indicado é a lavagem das mãos e antebraços com água e sabão durante 20 segundos, uso de álcool em gel e evitar locais muito cheios de pessoas, pois uma pessoa infectada pode contaminar até 2m ao redor, com saliva ou espirro. O uso de máscaras não é necessário na situação atual da epidemia, apenas em caso de contato com pessoas infectadas ou viagens de avião se a pessoa quiser se sentir mais segura ou para profissionais de saúde, aconselhou Kevan.

 

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