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Um estudo concluiu que a elevada transmissão do vÃrus chikungunya em Salvador em 2019 e 2020, gerando o que parecia ser uma grande epidemia em toda a cidade, foi na verdade constituÃda por vários surtos comunitários, sincronizados ou sequenciais. Os resultados do trabalho, coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia e professor da UFBA, Guilherme Ribeiro, e que tem como primeiro autor, Hernan Argibay, pós-doutorando da Fiocruz Bahia e do Instituto de Saúde Coletiva (ISC-UFBA), foram publicados na Lancet Regional Health – Americas.
Os autores combinaram análises epidemiológicas e espaço-temporais para avaliar o padrão de distribuição dos casos notificados de chikungunya em Salvador ao longo da epidemia de 2019-2020, buscando compreender o modo de a disseminação desse vÃrus na cidade e os fatores sociais e ambientais associados à incidência da doença.
Mais de 19.000 casos de chikungunya foram registrados em Salvador entre 2016 e 2020, com aumento significativo nos anos de 2019 e 2020, que tiveram 4.549 e 13.071 casos notificados, respectivamente. Em 2016, foram notificados 977 casos, em 2017 foram 349 e em 2018 notificou-se 183.
O estudo identificou dezesseis clusters (aglomerados espaço-temporais) estatisticamente significantes durante as epidemias de 2019 e 2020, sendo nove em 2019 e sete em 2020, indicando que o vÃrus chikungunya exibe um padrão localizado de transmissão. Este achado sugere que, mesmo em cidades altamente afetadas por epidemias de chikungunya, pode haver bairros onde a transmissão viral foi baixa, formando bolsões populacionais que são potencialmente suscetÃveis a futuros surtos.
Os resultados também demonstraram que a distribuição heterogênea dos casos na cidade foi relacionada a determinadas caracterÃsticas dos setores censitários. Aqueles setores com maior renda média, densidade populacional humana e cobertura vegetal tiveram menor risco de chikungunya, enquanto os setores censitários com temperaturas mais altas tiveram maior risco de chikungunya.
No artigo, também é discutido o possÃvel impacto da pandemia de Covid-19 na epidemia de chikungunya em 2020, em Salvador. Segundo os autores, a restrição ao deslocamento de pessoas pode ter contribuÃdo para o aumento significativo de casos nesse perÃodo, levando em conta que a transmissão desta arbovirose ocorre principalmente no ambiente peridomiciliar. Além disso, houve redução nas ações de controle de vetores, uma vez que todos os esforços do setor de saúde foram direcionados para enfrentamento da pandemia. Por outro lado, se a menor mobilidade pode ter favorecido a disseminação local do vÃrus em certas comunidades, pode ter dificultado que o vÃrus alcançasse e estabelecesse transmissão em outras áreas.
Por Júlia Lins.

