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Fundado em 2002, com o apoio da Fiocruz Bahia, o Centro Integrativo e Multidisciplinar de Atendimento ao Portador de HTLV (CHTLV) da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública completou, neste mês de novembro, 20 anos de atuação pela promoção da saúde à população portadora do HTLV. Instituído e coordenado desde então pelo pesquisador emérito da Fiocruz Bahia e médico Bernardo Galvão, a importância da iniciativa e do trabalho do pesquisador foram recordadas na cerimônia de celebração do aniversário do Centro.
Estiveram presentes na solenidade o vice-reitor da Bahiana, Humberto Castro Lima Filho, a enfermeira do Centro, Aidê Nunes, o membro representante da associação HTLVida, Francisco Daltro, além da professora da Bahiana e pesquisadora Fernanda Grassi, representando a Fiocruz. Na ocasião, Bernardo Galvão recebeu, das mãos do diretor do Centro Médico da Bahiana, Luiz Eduardo Fonteles Ritt, uma placa marcando a homenagem.
De acordo com artigo publicado no periódico Frontiers in Medicine, realizado com participação de pesquisadores e médicos atuantes no CHTLV, a Bahia é o estado com maior prevalência de infecção pelo HTLV-1 no Brasil, com quase 130 mil portadores em todo o estado. É nesse cenário que surge a iniciativa de implantar o CHTLV, como conta Bernardo Galvão. Atualmente, o Centro atua em colaboração com o Laboratório de Saúde Pública (LASP) da Fiocruz Bahia.
“A maior parte da população da Bahia desconhece essa infecção e suas consequências mórbidas para a espécie humana. Os pacientes são estigmatizados e acabam não procuram os serviços de saúde. Além disso, é ainda escasso o seu conhecimento entre os profissionais da área de saúde”, declara. O médico ressalta que o tratamento para a infecção do vírus requer uma equipe multidisciplinar de saúde, para abarcar o diagnóstico laboratorial, a assistência médica, inclusive às gestantes, a fisioterapia, a terapia ocupacional e o atendimento psicológico.
“O CHTLV presta esse atendimento, desde 2002, visando o bem-estar físico e mental das pessoas vivendo com HTLV, assim como dos seus familiares. Esses serviços são oferecidos não apenas à população de Salvador, mas também a outras cidades da Bahia”, afirma Bernardo Galvão. Atualmente, o local já acolheu mais de duas mil pessoas em todo o estado.
Para a docente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e enfermeira no CHTLV Aidê Nunes o pesquisador é um ativista na atuação pelo controle da doença. “Desde o começo, o Dr. Galvão tinha uma visão de promover o cuidado aos portadores do HTLV. O atendimento do Centro é integrado e multidisciplinar”, explana. Nunes relata que o Centro recebeu duas caravanas neste mês, vindas da Paraíba e do Rio Grande do Norte, a fim de observar o modo como funciona o atendimento do CHTLV.
Segundo Aidê, outro ponto fundamental do projeto é que seu combate ao vírus se dá em diversas frentes. “O Dr. Galvão não queria apenas o atendimento. Ele incentivava a pesquisa na área também, a formação de pessoal. Eu acho que ele foi muito pioneiro em trabalhar em uma doença que, em 2002, era ainda mais negligenciada”. A enfermeira também é Coordenadora do Programa de Extensão Enfermagem Cuidar Faz Bem, da Escola Bahiana, que promove a participação dos discentes de diversas especialidades no cotidiano do centro.
“Eu fico muito feliz como cidadã, como profissional enfermeira, e como docente de ver essa história sendo escrita”, orgulha-se a professora. Pelo trabalho prestado no controle da doença na Bahia, o pesquisador foi homenageado com a Medalha Thomé de Souza pela Câmara Municipal de Salvador, em 2002. Ele recorda que na ocasião de recebimento da medalha, seu discurso buscou reforçar a missão que leva com o instituto: “contribuir para o controle da infecção causada pelo HTLV-I, grave problema de Saúde Pública, no Brasil, e, particularmente, nesta bela e dadivosa cidade do Salvador, que tão gentilmente me homenageia”, disse à época.
HTLVida
A presença do CHTLV também foi um incentivo à criação da Associação voltada aos portadores do vírus HTLV – HTLVida. A presidente da organização Adijeane Oliveira de Jesus relata que a HTLVida é a única associação dedicada aos portadores do vírus no país. “Sabemos o quanto é necessária nossa existência para incentivar a criação de mais grupos e também para continuar criando políticas públicas a nível nacional”, afirma a dirigente.
“Atuamos juntos com o Centro de HTLV, principalmente por meio da figura do Dr. Bernardo Galvão, um dos maiores incentivadores da Associação HTLVida. Estamos constantemente pensando, organizando, criando ações, atividades, construindo e participando de pesquisas voltadas a qualidade de vida das pessoas com HTLV”, completa.
No último dia 10 de novembro, data do Dia Internacional de Enfrentamento ao HTLV, a Associação organizou uma homenagem em celebração aos principais atores de sua existência. O pesquisador recebeu uma placa em agradecimento aos esforços feitos em favor da organização e na luta pela visibilidade dos portadores. “O Dr. Bernardo foi o mentor e principal entusiasta da criação dessa Associação. Nada mais justo do que presenteá-lo e homenageá-lo”, expõe.
“Fiquei lisonjeado com a homenagem que recebi da Associação HTLVida”, conta o pesquisador. “Foi uma homenagem feita por pessoas que vivem com o HTLV-1. Tenho a sensação de ter cumprido parcialmente a promessa que fiz. No entanto, resta muito a ser feito”.
Sobre o HTLV
Pertencente a mesma família do HIV, o HTLV é um vírus infeccioso que afeta as células de defesa do organismo humano. Existe cerca de 10 milhões de portadores do vírus em todo o mundo. A maioria dos países afetados pelo vírus são considerados subdesenvolvidos. O HTLV pode ser transmitido por via sexual, pelo compartilhamento de agulhas infectadas ou de forma vertical, passando de mãe para filho, através da gestação ou da amamentação.
A doença não possui cura, mas possui tratamento e manutenção. Caso não controlado, o HTLV pode levar o portador a desenvolver leucemia de células T, Mielopatia associada com o HTLV-1/Paraparesia espástica tropical, uveíte e dermatite infecciosa.