Fiocruz Bahia reúne pesquisadores do Brasil, África e EUA no GENEAFRO 2025 para discutir genética, saúde da população negra e cooperação internacional

Getting your Trinity Audio player ready...

Entre os dias 19 e 22/11, a Fiocruz Bahia promoveu as Conferências Clínico-patológicas: GENEAFRO 2025, realizadas em parceria com o Centro Internacional de Estudo e Pesquisa da Saúde da População Negra e Indígena da Universidade Federal da Bahia (CIEPNI/UFBA. O evento reuniu pesquisadores do Brasil, África e Estados Unidos para debater genética, saúde da população negra, inovação científica e estratégias de cooperação internacional. Participaram profissionais e estudantes das áreas médicas, biológicas, humanas, computacionais, estatísticas e engenharias.


Ao longo da programação, especialistas discutiram temas como Doença Renal Crônica (DRC), fatores genéticos associados à doença, relações entre genética e câncer em populações afrodescendentes, custos econômicos, medicina de precisão e genética populacional. Também foram apresentados estudos que articulam polimorfismos genéticos, desigualdades sociais e espectro autista, destacando a necessidade de ampliar pesquisas voltadas às populações negras no Brasil, país com a maior população afrodescendente fora da África.


Evento marca avanço na internacionalização da Fiocruz Bahia


Na abertura, a vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Alda Maria da Cruz, ressaltou a relevância do encontro no contexto do Novembro Negro e a importância histórica da agenda. “É muito significativo estarmos aqui nesta semana, tão marcante para a população negra. Passados dezesseis anos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, seguimos num processo de fortalecimento dessa agenda. Precisamos celebrar os avanços e continuar ampliando esse campo de atuação”.
O diretor da Fiocruz Bahia, Valdeyer Reis, afirmou que o GENEAFRO inaugura uma nova etapa de cooperação internacional. “Este evento marca uma ação de internacionalização da Fiocruz Bahia. Vamos celebrar um protocolo de intenções ainda durante o encontro, formalizando relações com países africanos. Seguimos o que o governo brasileiro e a Fiocruz preconizam sobre colaboração Sul-Sul e com os países do BRICS. Que este evento gere resultados efetivos para a sociedade”.


A vice-diretora de Ensino e Informação da Fiocruz Bahia, Clarissa Gurgel, destacou o caráter estratégico da iniciativa. “A missão do GENEAFRO é fomentar um ambiente propício para cooperações internas e internacionais, especialmente com países do continente africano. Nosso objetivo é reunir competências para desenvolver estudos com populações afrodescendentes, promover a formação de recursos humanos de excelência e ampliar o acesso a tecnologias de saúde que fortaleçam a medicina de precisão”, pontuou.


Durante o discurso final, Clarissa reafirmou a relevância e urgência do tema para a saúde pública. “Refletimos sobre os custos das doenças no Brasil, vimos como o impacto econômico e social das doenças crônicas se agrava e a importância de incluir a ancestralidade como variável científica, porque a ausência de dados genéticos específicos compromete todo o ciclo de cuidado: rastreamento, diagnóstico, tratamento e políticas de prevenção”.


O encontro também permitiu conhecer os cenários de saúde da África do Sul, do Benin e da Nigéria. “Compreendemos realidades diversas, mas marcadas por desafios comuns. Nossos primeiros resultados anunciam caminhos para o avanço da pesquisa e colaboração em biomarcadores em nefropatias, câncer de mama e autismo em populações afrodescendentes, com rigor, consistência e, principalmente, propósito”, concluiu Clarissa.


Parceria com a UFBA reforça compromisso com a saúde da população negra


O pró-reitor de Pesquisa da UFBA, Ronaldo Lopes, reforçou o simbolismo de discutir o tema durante o Novembro Negro. “Tratar da saúde da população negra em pleno Novembro Negro, na véspera e durante o dia da Consciência Negra, tem grande significado. É um tema fundamental, que deve ser lembrado de janeiro a janeiro”.


O diretor da Faculdade de Medicina da UFBA, Antônio Alberto da Silva Lopes, celebrou o fortalecimento das articulações internacionais. “Temos muito a festejar com esta iniciativa. A parceria com pesquisadores africanos é fundamental e está alinhada à missão da universidade. Colocamos nossa instituição à disposição para colaborar nas próximas ações”.


Cooperação internacional: acolhimento, adaptação e novos desafios


A pesquisadora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves, compartilhou os desafios e aprendizados no processo de recepção de 16 estudantes africanos vinculados ao programa de pós-graduação CNPq/Benin/Nigéria, que teve início em 2014. Além da realização dos seminários Brasil-África de Doença Falciforme da Fiocruz.


O programa recebeu estudantes do Benin e da Nigéria, oito deles estudaram na Bahia, nos programas de pós-graduação da Fiocruz e da UFBA. A iniciativa teve como objetivo a formação de pesquisadores africanos em hematologia, com foco na doença falciforme, tema prioritário nos dois países. A experiência é muito importante para a Fiocruz Bahia no contexto da cooperação.


“Nossa instituição precisa estar preparada para receber esses estudantes. Eu fui aprendendo junto com eles: a documentação exigia traduções oficiais, ajudamos com abertura de contas, acomodações e alimentação enquanto as bolsas não eram liberadas. Isso tudo foi um grande desafio”, disse.
Segundo Marilda, a adaptação linguística ocorreu rapidamente. “A UFBA ofereceu cursos de língua e, para nossa surpresa, eles se adaptaram muito rápido. Eles falam vários dialetos e têm grande capacidade de aprender novas línguas. Não devemos ter receio de parcerias com países que não têm o português como língua oficial”.


“O intercâmbio expande o conhecimento sobre doença falciforme e fortalece grupos de pesquisa africanos. Precisamos devolver o que nos foi dado. Esta também é uma forma de reparação histórica”, finalizou a pesquisadora.


Um novo horizonte para a ciência de populações afrodescendente


O GENEAFRO 2025 representa a ampliação das Conferências Clínico-Patológicas e dos seminários da rede PathoSpotter, incorporando agora patologia molecular, digital e computacional em perspectiva global.
A programação incluiu conferências, oficinas e sessões temáticas que discutiram diretrizes de pesquisa, compartilhamento de dados e construção de redes de inovação entre Brasil e África. As discussões reforçaram a necessidade de ampliar a produção científica sobre saúde da população negra e desenvolver ações de medicina de precisão que considerem especificidades genéticas, históricas e sociais das populações afrodescendentes.

Por Jamile Araújo, sob supervisão de Dalila Brito | Fotos: Iana Motta

twitterFacebookmail
[print-me]