Projeto realiza testes para doenças infecciosas em territórios indígenas

O Núcleo de Estudos em Saúde Indígena (NESI) realizou testagens para dengue, chikungunya, sífilis e doença de Chagas, em território indígena dos municípios de Rodelas, Glória e Paulo Afonso, na Bahia, entre 08 e 15 de fevereiro. As ações contemplaram as etnias Tuxá, Pankararé, Atikun, Kantaruré, Xucuru-Kariri, Kariri-Xocó e Truká.

No total foram recrutadas 1197 pessoas para participarem dos estudos que têm como objetivo principal identificar a soroprevalência de diversas doenças infecciosas que podem afetar a população indígena, incluindo dengue, zika, chikungunya, sífilis e doença de Chagas, além de desenvolver estratégias de educação em saúde e na prevenção de enfermidades.

“Nossa equipe foi muito bem recebida pelos profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia (DSEI-BA), pelas lideranças indígenas e pelas comunidades. O trabalho foi muito rico, pois os povos indígenas do norte da Bahia são muito diversos. Também tivemos a oportunidade de conhecer e trabalhar em diferentes territórios e com diferentes etnias”, avalia Isadora Siqueira, pesquisadora da Fiocruz Bahia e coordenadora do NESI.

Ricardo Almeida, coordenador do DSEI-BA Polo Paulo Afonso reforça como as testagens ajudam a identificar doenças silenciosas na região. “Como enfermeiro e indígena Tuxá, é muito gratificante a gente ver esses projetos em nossas comunidades, pois sabemos da dificuldade de acesso. Essas ações fortalecem as políticas de saúde de prevenção, controle e tratamento dessas patologias em prol das comunidades indígenas”, declara.

Heliana Sandi, Secretária Municipal de Saúde de Glória, considera o projeto relevante para detectar rapidamente as doenças infecciosas dos povos indígenas da região. “O município irá apoiar no tratamento para o que for necessário. Espero que possamos estender o projeto para os nossos povos, para os nossos munícipes de Glória, para abranger a área um todo, conseguir diagnosticar o mais breve possível e tratar. Nossa população precisa e merece esse acolhimento”.

A diretora da Escola Estadual Indígena Xucuru Kariri e liderança da Aldeia Xucuru Kariri, Magda Xucuru, ressalta a importância do programa na comunidade. “Hoje fizemos a mobilização com a escola, alunos e pais para que todos estivessem presente e fizessem as testagens, para ter uma qualidade na saúde”, afirmou.

O Cacique Elismar Lima, da Aldeia Nova Pankararé, também expressou sua gratidão: “Venho agradecer a esse projeto que é maravilhoso para as comunidades indígenas e que vem agregando muito, realizando esses exames pela primeira vez. Quem não pode fazer um exame desse pela rede particular, e sabemos que demora muito pela rede pública, com esse projeto chega e já faz o exame. Muito obrigado a cada um que está envolvido nesse projeto”.

As atividades foram lideradas pela pesquisadora Isadora Siqueira e pelo pesquisador Fred Luciano Neves, da Fiocruz Bahia, em colaboração com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e com o Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia (DSEI-BA). Para a realização das atividades, a equipe do NESI contou com o apoio de profissionais de saúde locais das Unidades Básicas de Saúde Indígena, além de estudantes e conveniados da Fiocruz Bahia.

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Revisão destaca importância da enfermagem na assistência a pacientes com Chagas

Um estudo revisou trabalhos sobre a atuação de profissionais de enfermagem na assistência e cuidado a pacientes com doença de Chagas. A pesquisa, realizada com o objetivo de aumentar a conscientização entre os profissionais de saúde sobre o papel essencial do atendimento de alta qualidade no tratamento de pacientes com a forma crônica da doença, foi coordenada pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Fred Santos, e publicada no periódico BMC Nursing.

O artigo destacou o papel desempenhado por enfermeiros na prestação de cuidados essenciais a portadores sintomáticos da doença de Chagas crônica, causada pelo parasito Trypanosoma cruzi. Esses profissionais são fundamentais no controle de sintomas, administração de medicamentos e monitoramento da saúde, contribuindo para a melhora da qualidade de vida dos pacientes.

Utilizando a metodologia de revisão de escopo, que analisa a literatura sobre um tema específico, a equipe seguiu o método PRISMA-ScR para selecionar os artigos. A busca foi realizada nas bases de dados SciELO Brasil, PubMed e LILACS, utilizando palavras-chave como “doença de Chagas”, “enfermagem”, “cuidados de enfermagem” e “assistência de enfermagem”, em português, inglês e espanhol, no período de 1980 a 2022. Inicialmente, 633 estudos foram identificados, dos quais 17 foram selecionados para análise final, incluindo dois estudos observacionais, duas séries de casos e sete revisões de literatura.

Os resultados reforçam o papel crucial dos enfermeiros no suporte a pacientes com manifestações cardíacas e/ou digestivas da doença de Chagas crônica. Também foram abordadas intervenções voltadas para neonatos infectados e usuários de dispositivos como marcapassos e desfibriladores cardioversores implantáveis.

Os pesquisadores concluíram que a enfermagem é essencial em equipes multidisciplinares de cuidado, desempenhando um papel crítico na melhoria da qualidade de vida de pessoas com doença de Chagas crônica, independentemente da forma clínica apresentada. O estudo destaca ainda a importância de avaliar as necessidades subjetivas e objetivas de cada paciente, a fim de elaborar planos de cuidados personalizados que atendam às condições clínicas e demandas individuais.

Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins.

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Projeto Oxente Chagas inicia testagens nos municípios de Tremedal e Novo Horizonte

O projeto Oxente Chagas, que propõe validar o uso de um teste rápido para detectar a doença de Chagas, foi iniciado no município de Tremedal, a 588 km de Salvador, testando 1020 moradores do município. O projeto encontra-se também em andamento no município de Novo Horizonte, a 561 km da capital baiana. Ambas as regiões tiveram a permanência identificada do Triatoma infestans, umas das espécies do inseto conhecido como barbeiro, transmissor da enfermidade, até 2001 e 2015, respectivamente.

O pesquisador da Fiocruz Bahia e coordenador do projeto, Fred Luciano Neves Santos, explicou que a primeira ação superou as expectativas da equipe, pois era esperado um público de 600 a 700 pessoas, mas foram mais de 1000 pessoas beneficiadas no mutirão. “Além dos habitantes da zona urbana do distrito, também conseguimos levar as testagens para as casas das pessoas, contemplando indivíduos acamados ou com dificuldade de locomoção”.

A primeira ação foi realizada nas localidades contempladas pela Unidade Básica de Saúde (UBS) de São Felipe, comunidade de Tremedal. Os indivíduos que fizeram o teste, independentemente do resultado positivo ou negativo, tiveram o sangue coletado, e enviado para o Laboratório Central (LACEN) de Vitória da Conquista para a confirmação diagnóstica, e, em até 30 dias, os resultados estarão disponíveis na Secretaria Municipal de Saúde de Tremedal.

Na oportunidade, Elisabeth Almeida, moradora da Fazenda Marreca, avaliou que é muito importante ter conhecimento sobre a doença. “É uma doença grave, que se a gente descobrir enquanto é tempo, podemos ter uma cura total. Mas se descobrir tarde, a pessoa pode acabar morrendo. Inclusive eu já perdi um cunhado com 42 anos por causa dessa doença”.

Almeida destacou que ficou feliz pelo trabalho realizado na comunidade e pela oportunidade de realizar o teste. “É muito difícil para todos se deslocarem e fazer esse exame. E fiquei mais feliz ainda por não ter o problema. Espero que a maioria das pessoas também não tenha, mas caso dê positivo, que tenha tempo de tratar, para ter uma vida mais longa”, ressaltou.

O Agente Comunitário de Saúde (ACS) de Boi Velho, Matheus Rocha, compartilhou que receber o projeto é um passo para melhoria da saúde das pessoas em relação à doença de Chagas. “Na medida em que desenvolvemos aqui um trabalho pioneiro, podemos ser exemplo para outros municípios”, comentou.

Joelia Rocha, que também é agente de saúde de São Felipe, acredita que é uma conquista para a população ter acesso, por se tratar de uma região distante da cidade. “Quando é possível acessar uma iniciativa como essa, nos sentimos felizes em poder ajudar a população”, observou.

A recrutadora e estudante de doutorado da Fiocruz Bahia, Emily Ferreira, biomédica e membro da equipe do projeto, relatou que o trabalho de campo foi uma experiência totalmente diferente. “Já trabalhei em laboratório, sou professora atualmente. Mas ter o contato direto com a população, conversar sobre as suas dificuldades, muda totalmente tudo que a gente entende por realidade. O projeto me deu um novo olhar para o mundo”, pontuou.

Para João Victor França, médico veterinário, estudante de mestrado da Fiocruz Bahia, e recrutador do projeto, a iniciativa é crucial para o avanço da saúde pública e da qualidade de vida da população. “Vou sair desse projeto bastante humanizado, após visitar comunidades que são bastante humildes, que não têm o mesmo acesso que nós temos em áreas mais centrais”, concluiu.

Em Novo Horizonte o Oxente Chagas atua numa UBS rural, a Vila dos Remédios, área que tem cerca de 1200 pessoas que são assistidas, onde pretendem atender cerca de 1000 pacientes para realizar o teste.

O teste

O teste rápido é uma ferramenta inovadora que permitirá identificar casos de Chagas de forma precoce e eficiente na Atenção Primária, buscando reduzir significativamente o impacto da doença na vida das pessoas e de suas famílias. Além disso, busca facilitar o acesso ao tratamento e evitar complicações decorrentes da enfermidade.

A validação do teste rápido TR Chagas Bio-Manguinhos em campo auxiliará na sua incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que já tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), mas ainda requer uma série de estudos prévios para que seja possível dar entrada na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS – Conitec, órgão que regulamenta a entrada de toda e qualquer tecnologia no sistema.

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Mortalidade por doença de Chagas na Bahia é superior à média nacional, aponta estudo

Uma pesquisa foi realizada para analisar as tendências temporais e as diferenças regionais na taxa de mortalidade da doença de Chagas no estado da Bahia, no período de 2008 a 2018. O estudo, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, foi coordenado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e contou com a participação do pesquisador da Fiocruz Bahia, Gilmar Ribeiro-Jr, além de especialistas da Universidade de Brasília, Universidade Federal de Goiás e Secretaria da Saúde do Estado da Bahia.

A doença de Chagas tem alta carga de mortalidade em muitos países da América Latina, como o Brasil. O trabalho revelou que, no período estudado, a mortalidade pela doença no estado foi superior à média nacional, especialmente nas regiões de saúde de Barreiras, Guanambi, Irecê, Itaberaba, Santa Maria da Vitória e Santo Antônio de Jesus, destacadas como hotspots de mortalidade. A Bahia tem a quarta maior taxa de mortalidade do país.

O trabalho analisou séries temporais de óbitos relacionados à enfermidade usando dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Brasil. Os pesquisadores compararam a taxa de mortalidade por doença de Chagas como causa primária e a menção da doença na declaração de óbito, padronizada por idade e macrorregião de saúde/município de residência.

No estudo, a taxa de mortalidade por doença de Chagas na Bahia revelou tendência estacionária, variando de 5,34 (2008) a 5,33 (2018) óbitos por 100 mil habitantes. Entretanto, as quatro macrorregiões de saúde apresentaram tendência ascendente nas taxas. Também foi observada uma tendência ascendente na taxa de mortalidade entre indivíduos com idade maior ou igual a 70 anos e maior incidência de óbito entre homens do que entre mulheres. Do total de óbitos, quase 80% tiveram a enfermidade como causa básica. Complicações cardíacas foram relatadas em cerca de 85% destes óbitos.

Apesar de uma queda na mortalidade desde 2012, houve um aumento nos últimos três anos do período analisado. Além disso, a investigação recomenda políticas públicas para monitoramento e controle da doença, com foco em regiões vulneráveis e integração de vigilância epidemiológica e entomológica, visando uma resposta regionalizada e melhoria na atenção à saúde, e subsidiando um planejamento em saúde que considere as peculiaridades do território.

A doença

A doença de Chagas é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, e transmitida por insetos triatomíneos hematófagos (conhecidos como barbeiros), por meio de alimentos ou bebidas contaminados com o parasita, além da transmissão vertical e pelo sangue. Essa condição afeta principalmente populações socialmente vulneráveis e pode levar a casos graves da doença e morte. Isso impacta os sistemas de saúde e previdência social do país.

Devido aos recursos limitados disponíveis para pesquisa, gestão, diagnóstico e tratamento, a doença de Chagas é classificada como uma doença tropical negligenciada. A taxa de mortalidade pela enfermidade é alta no Brasil, respondendo por 74,9% das mortes atribuídas a doenças tropicais negligenciadas entre 2000 e 2019

Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins.

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